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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 01, 2012

A ROTA nas ruas, truculência e violência que precisam ser debatidas

  Por José Dirceu

ROTA
Policiais da ROTA (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), mataram seis pessoas no inicio da semana
O episódio recente envolvendo a ROTA – Rondas Ostensivas Tobias Aguiar, que culminou na morte de seis pessoas e na prisão de policiais no começo da semana revela os riscos da política de segurança adotada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB).
É uma política de segurança descuidada, muito perigosa na medida em que colocou a ROTA de volta às ruas, dando cada vez mais sinal verde para a ação de uma tropa que é considerada uma das mais violentas e truculentas polícias do país.”A ditadura militar acabou, mas a ROTA continua sendo a polícia da ditadura em seus métodos e formas de agir”, observa o deputado Adriano Diogo (PT), prsidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.
Agora,ao invés de atuar em ações extremas, a ROTA está, também, em operações comuns. Longe de defendermos o crime, não podemos nos calar ante a execução promovida pelos policiais de seis pessoas, na noite da 2ª feira, em um posto de combustíveis no bairro da Penha, Zona Leste da Capital.
A ROTA, como sempre à primeira hora e na primeira versão tentou justificar sua ação alegando que 14 suspeitos planejavam a libertação de um detento do Centro de Detenção Provisória do bairro do Belém (Zona Leste da Capital) e entraram em confronto com ela, reagindo a tiros à chegada da polícia. Quer dizer, a versão de sempre da polícia em ações dessa natureza.
Tinham que ser presos, não chacinados
Dos 14 suspeitos, apenas três foram presos. Cinco escaparam e seis foram mortos. À luz do direito e de uma ação policial eficiente, eles deveriam ter sido presos, julgados e, comprovada sua culpabilidade, condenados. Jamais chacinados.
Mas, o que a PM não contava é que uma testemunha, uma mulher, gravou tudo pelo telefone celular e entregou as provas ontem à Polícia Civil. Pior: as provas mostram que os policiais eliminaram um dos suspeitos à chegada e balearam e torturaram as demais no Parque Ecológio do Tietê, recolocando-as três horas depois no posto, na cena inicial do pseudo confronto.
É profundamente lamentável que ainda assistamos práticas como esta. Hoje, os policiais que participaram da ação prestarão depoimentos. O governo do Estado não revela quantos integrantes da ROTA foram presos. Os detidos serão levados para o Presídio Romão Gomes, da PM, na Zona Norte.
Política de segurança: acende-se a luz vermelha
A luz verde concedida à ROTA pelos sucessivos governos tucanos – de José Serra em 2007-10 e de Alckmin, três vezes governador – constitui-se já, a esta altura, em um alerta vermelho para toda a sociedade paulista. É preciso mudar, alterar profundamente a política de segurança, até porque o crescimento da violência atestado a cada balanço mensal divulgado, atesta sua completa falência.
Ao colocar a ROTA em uma ação normal nas ruas, o governo Alckmin copia um dos piores exemplos em termos de política de segurança já vistos em São Paulo. Reedita a política de repressão, pura e simples da extrema direita já vista no Estado quando do governo biônico de Paulo Maluf entre os anos de 1979 a 1982, quando nos aproximávamos do final da ditadura.
*CorreiodoBrasil

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