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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 03, 2012

O discurso do deputado do Partido Comunista da Grécia

Uma prática parlamentar revolucionária em ação. O discurso do deputado do Partido Comunista da Grécia, Thanasis Pafilis. Notem que ele usa a tribuna do parlamento burguês para desmascarar a farsa da "democracia" dos ricos e o papel dos deputados dos partidos que servem aos capitalistas. Faz uso da tribuna para aumentar o nível de consciência dos trabalhadores. Põe o mandato a serviço das lutas sociais. Não me lembro de ver um parlamentar brasileiro, no passado recente, fazer um papel semelhante!
Obrigado aos camaradas do Partido Comunista Português da cidade de Lagos por postarem o vídeo no Facebook. Fiz a tradução das legendas em inglês para o português brasileiro.
O Sr. Dendias acusa o KKE (Partido Comunista da Grécia) de influenciar a vida política deste país desde 1974.
Nós assumimos esta acusação!
Cada conquista da classe trabalhadora deste país não se compara à riqueza que ela produz e lhes é roubada pelos parasitas do Capital.
Sim! Nós influenciamos muito durante todos estes anos. Mas são vocês que têm governado. É o Estado de vocês. Do [partido] Nova Democracia (partido da Direita grega) e do PASOK (partido da “esquerda” oportunista grega). Isto é, o Estado dos empresários e do grande Capital.
Vocês nacionalizaram grandes empresas para ajudar os capitalistas. Vocês entregaram ao povo empresas “queimadas”, que eles espoliaram. O povo pagou para salvá-las e vocês as devolveram de graça.
Sempre foi um Estado de classe.
Nós tivemos uma superioridade moral? Claro que tivemos! E nós a teremos de novo. E nós já a temos.
Nós a reconquistamos e vocês estão apavorados. Porque nós representamos um sistema social humano, sem exploração. E vocês servem à barbaridade capitalista. Aquela que joga à morte os que produzem a riqueza social.
E vocês só enganam a si mesmos, se pensam que isto passará sem luta. Porque vocês, o governo, os partidos que o apoiam, a mídia, todos esses jornalistas bem alimentados, que ganham 10.000, 20.000 euros por mês do suor do povo grego, todos estes “economistas” a soldo, eles estão por aí, criando uma sombra de medo sobre o povo grego, descrevendo o que ocorreria em caso de quebra, se este monstruoso mnemonioum (projeto de lei), que vocês apresentaram, não é aprovado. Tão grosseiros, tão cínicos! Vocês falam ao povo e lhe dizem: ou vocês trabalham e vivem com 400 euros. E com 300 euros de aposentadoria. Ou nós vamos reduzi-los a 100 ou a 50 euros. E eu pergunto, pessoalmente, a vocês: se todos os benefícios sociais do Estado são cortados e vocês tivessem somente 400 euros, vocês sobreviveriam? Sim ou não? Vocês, pessoalmente, ministros, primeiro-ministro e todos os outros? Se lhes dessem 450 euros por mês, vocês sobreviveriam? Não, vocês não podem! Vocês estão assegurados e servem aqueles que roubam o povo. Para “salvar a Grécia”! É serio! Qual “Grécia”? O que é a Grécia? Estas 500 grandes empresas? Um punhado de capitalistas que enriqueceu durante todos estes anos? Essa é a Grécia que vocês estão tentando salvar. Mandando para o túmulo todos os demais.
E, principalmente, vocês estão tentando fazer o povo se sentir culpado. Vocês não têm vergonha, porque este é o sistema de vocês. Vocês acusam aqueles que produzem toda a riqueza, aqueles que morrem nas construções, aqueles que sofrem queimaduras nos porões dos navios. Vocês acusam os produtores da riqueza social. Aqueles que trabalham nas propriedades rurais e se sentem desesperados. Os pequenos-burgueses que pensaram que se tornariam parte do grande Capital. Vocês dizem que a culpa é deles. Pela dívida e pela vergonha do país. Não há limite para esta hipocrisia. É culpa deles? Eles pegaram o dinheiro? Foram eles que encheram os bolsos? Foram eles que mandaram 600 bilhões de euros para a Suíça? São eles que têm 500 bilhões de euros em paraísos fiscais? São eles que gastam em uma noite o que um trabalhador levaria uma vida para juntar? Claro que não! Não são eles! Mas as mentiras acabaram para vocês todos, defensores do sistema! As mentiras acabaram. Eles pegaram vocês!
Em maio, vocês disseram as mesmas coisas. “Ou vocês aprovam o mnemonioum, ou vamos para o abismo.” Seriamente, quem vocês estão chantageando e com que moral? O 1,5 milhão de desempregados? Aqueles que estão desempregados há um ano e mal sobrevivem? A juventude que está desempregada? Os milhares que não são pagos há meses e mal conseguem 100 euros? O que vocês dizem a eles e com que moral?
“Vocês vão quebrar?” Quem? Os que já estão quebrados? São esses e o resto deles a quem vocês pedem que vivam como há 200 anos. Porque é para essa situação que vocês os conduzem. Porque vocês estão destruindo até mesmo o mais fundamental que eles conquistaram: poder lutar coletivamente por seus salários. Vocês estão demolindo com o que já se chamaram “leis trabalhistas”.
Para estes, o Partido Comunista diz: “mantenham suas cabeças erguidas!” Vocês não têm nada a perder a não ser seus grilhões. E vocês devem tomar o que produzem em suas próprias mãos. Vocês devem, todos, colaborar! Vocês são poderosos! E, quanto ao terrorismo do governo, hoje, vocês receberam sua resposta! Uma das maiores manifestações jamais vistas em Atenas. Com todos os corvos da mídia a ameaçar com a quebra do país.
E escutem isso: “Não teremos nem óleo!” Então, para todos vocês, que defendem o sistema, Respondam a esta simples questão. E o povo também deveria. Ciência, tecnologia, produtividade do trabalho, tudo elevado a níveis jamais vistos. E vocês os pedem para viver na Idade Média. Cavalheiros, vocês estão acabados! O capitalismo, simplesmente, não pode mais fazer isto! Está tão podre até a medula, que conduz a Humanidade à Idade Média. E, daqui há pouco, todas estas pessoas a quem vocês tentam infundir medo, se darão conta: “Ou vocês, capitalistas, ou nós. Nós não queremos vocês. Nós não precisamos de vocês, porque vocês são parasitas. Somos nós que produzimos a riqueza.”
E eu desafio qualquer um a vir, aqui, e dizer se não são eles que produzem toda a riqueza.
Morales
No Advivo

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