“Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come…”
Ponta Delgada (Açores - Portugal)
Artur Rosa Teixeira
Se ficar...
Os
brasileiros têm destas coisas… Em poucas palavras são capazes de
caracterizar uma situação complexa. A expressão que escolhemos para
título deste artigo é exemplo disso e aplica-se que nem uma luva ao
“beco sem saída” para o qual os portugueses estão a ser empurrados…
Os
europeístas têm vindo a insistir na necessidade imperiosa de
transformar a União Europeia num Estado Federado, com efetiva unidade
politica e económica. Tal é apresentado como a única solução para atual
crise financeira e económica que grassa na Europa. O abandono do Euro,
segundo eles, será o caos… Será uma espécie de Tragédia Grega…
Na
verdade, em boa parte os Estados membros da União Europeia já perderam
uma parcela substancial da sua soberania. Ao aderirem a uma moeda única,
o Euro, abdicaram do ato soberano de cunhar moeda própria e logo
perderam a sua independência financeira e económica.
Se correr...
A
retórica europeísta contudo chama-lhe de “soberania partilhada” que é
para não espantar o Zé Povinho. É que assim até parece que vamos ter
alguma voz na matéria… que podemos dizer aos nossos parceiros alemães e
franceses, “alto lá parem o baile” que também mandamos…
Ledo engano!
Sem
moeda, não existe Comércio e sem este, não existe Economia que
proporcione Desenvolvimento, ou seja, que possa satisfazer as
expectativas de Progresso Social de uma Sociedade.
Por
sua vez, sem moeda própria, nenhuma Economia é verdadeiramente
autónoma, nem mesmo as mais fortes, e logo, do ponto de vista político,
um País, nessas circunstâncias, está condenado a desaparecer como
entidade independente.
Tal facto
contudo acentua-se nas economias mais débeis, como acontece com os
países da Europa periférica, que têm Balanças Comerciais deficitárias.
Pelo
contrário, aqueles que apresentam robustez económica, porque já a
tinham antes da moeda única, a “Soberania Partilhada” não lhes faz
mossa… Em grande parte até lhes trás vantagens, uma vez que a sua
Balança Comercial é positiva, ou seja exportam mais do que importam. E é
positiva, em grande parte, graças às exportações para os ditos
“periféricos”. Eis porque vemos uma Alemanha e até uma França mandarem
bitaites aos pequenos mal comportados da Zona Euro… como se já fossem os
donos do pedaço…
... O bicho pega
Claro
que a falta de Independência Financeira e Económica condiciona a vida
política de um país. Embora se diga que o Centro do Poder resida no
povo, a verdade é que só formalmente isso é verdade.
Nas
grandes decisões o cidadão não somente não toma parte, como estas
são-lhe apresentadas como facto consumado. São previamente tomadas pelos
que comandam o Sistema Financeiro Internacional e ao eleitor apenas
cabe escolher o que está já escolhido ou, quando não, escolher entre
viver ou morrer…
Daí que estejamos entre dois males, continuar ou sair do Euro. Qual deles o menor? Falta saber…
Repare
o leitor que a mudança da moeda não foi apenas um expediente meramente
técnico, justificado pela existência de um mercado comum, exigindo a
simplificação nas trocas comerciais.
Implicou e implica uma alteração política significativa que passou despercebida aos olhos da maioria da população.
Quem
tem a faculdade exclusiva de produzir um bem universal como é a moeda,
tão indispensável à Economia de um País, tem também o Poder Politico de
ditar e condicionar a vida dos cidadãos. Daí a interferência cada vez
maior de Organizações Extranacionais, às vezes em coisas tão irrisórias
como as dimensões de uma gaiola para o transporte de galinhas… por
exemplo.
O BCE não é apenas o
banco emissor do Euro. Compete-lhe zelar pelos interesses de todo o
Sistema Financeiro e Bancário da União Europeia, de modo a manter a sua
integridade sistémica.
Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega...
Veja-se
que, graças a tratados leoninos como o de Maastricht e o de Lisboa,
subscritos nas costas do povo, os bancos compram dinheiro ao Banco
Central pela bagatela de 1% a 1,5% e vendem-no aos Estados Membros por
5%, no mínimo, estando estes proibidos não só de emitir moeda, mas
também de aceder diretamente àquele crédito.
Por
outro lado, o BCE, que é na verdade um banco central privado, não tão
independente com se julga, atua concertadamente com outros centros
congéneres, a começar pelo BIS, o banco dos bancos centrais, o Fed e a
City Londrina, etc. Tal significa que o Sistema funciona em rede, com as
diferentes partes solidárias entre si, garantindo que o Crédito e a
Produção de Moeda não ponham em causa a sobrevivência do Capital
Financeiro Internacional. Daí o seu funcionamento praticamente em
“cartel”.
O crédito bancário substituiu a moeda nacional com vantagem evidente para o Sistema Financeiro e Bancário Internacional.
Graças
à Reserva Fracionária, os bancos podem emitir moeda fictícia, sem
qualquer lastro, e emprestá-la aos Países a juros, por vezes,
extrusivos. Em caso de rutura financeira, por excesso de ativos podres
ou má gestão, os bancos podem sempre contar com o Banco Central ou o
Estado para lhes injetar liquidez.
Na
sequência do Crash do imobiliário norte-americano, em 2008, houve de
imediato uma injeção de liquidez na banca internacional, garantida em
primeiro lugar pelos Estados e em segundo, pelos bancos centrais dos USA
e da Europa, algo que teve contornos de escândalo, mas poucos
comentadores salientaram esse facto.
Veja-se o que se passou com a “nacionalização” do BPN, onde o Estado português gastou milhões, para depois o vender por tostões…
Veja-se
que no acordo com a Troika está inscrita uma avultada verba, 12 mil
milhões de Euros, para socorrer os bancos, obrigatoriamente garantida
pelo Estado Português, tal como se fosse um fiador…
Mais,
o Estado vai comprar “papéis” (ações) dos bancos em dificuldade
financeira, mas não terá voto na matéria, mesmo que a sua participação
seja superior a 50%... Ora toma, que é democrático!
Nenhuma
outra atividade económica, como o sector bancário, é tão protegida, o
que contradiz a essência do próprio Capitalismo, que pressupõe riscos e
concorrência.
Dá que pensar, não dá?
A criação do Euro teve contornos hegelianos, como aliás tudo que se relaciona com a integração europeia.
O
facto das grandes decisões terem sido tomadas sem qualquer referendo,
embora este tenha sido prometido, justifica a nossa opinião.
Noam Chomsky
É
que nestas coisas que mexem com o destino dos povos, convém que não se
abra o jogo e se adoce a pilula com um bom argumento ou engodo… para que
os objetivos ocultos da Elite Global possam ser atingidos, se possível
com a colaboração das próprias vítimas… Noam Chomsky, filósofo e
escritor canadiano, nas suas "Visões Alternativas”, descreve com clareza
a fórmula que leva os povos a aceitar o engano:
“Criam-se os problemas e depois oferecem-se as soluções. Este método também é chamado de problema→reação→solução.
Cria-se um problema, uma "situação” prevista para causar certa reação
no público, a fim de que este se torne "suplicante” das medidas que se
deseja implantar”.
Não admira, pois, que muita gente entenda que o melhor mesmo é entregarmos Portugal…
Mesmo
agora, com a Crise do Euro, insiste-se numa via enganosa, para que o
cidadão comum aceite a Austeridade como absolutamente necessária,
passageira, ainda que não se diga quando termina. Aceite-a como uma
necessidade imperiosa para salvar a Pátria…
Vamos
ter, de facto, que atravessar o deserto, mas não por essa razão, mas
para salvar o Sistema Financeiro e Bancário dos papeis podres que gerou
com a especulação financeira elevada à estratosfera.
Os
nossos governantes quando insistem no pagamento da Dívida Soberana já…
nada mais estão a fazer que ir ao encontro desses interesses. Os bancos
têm pressa de repor o que perderam… e por isso precisam do dinheiro vivo
dos impostos… retirados ao Trabalho.
A
trama contra a independência dos povos não seria possível se não
contasse com apoios internos, uns atuando consciente e objetivamente,
outros, como “idiotas felizes”, acreditando na “bondade” do processo de
Desconstrução Nacional, todos porém, vivem na expectativa de vantagens
pessoais.
Veja-se que os do
primeiro tipo, quando completam o seu mandato, têm tido à sua espera
bons cargos em entidades internacionais controladas pela Elite Global,
enquanto os do segundo tipo, ficam a ver navios…
Pudera, estes são a sua massa de manobra, que, como “operárias” de um formigueiro, morrem após a conclusão da sua tarefa…
Ocorreu
previamente em Portugal um trabalho de sapa pela mão de governantes
apátridas, alguns ainda no Poder, e de gentinha sem escrúpulos, que
levou à destruição de sectores económicos fundamentais, que a existirem
permitiriam enfrentar a Crise em melhores condições.
Desde
logo, tal facto aumentou o défice da nossa Balança Comercial, gerando
uma maior dependência de importação de bens e produtos, o que apenas
favoreceu e favorece as potências económicas da Zona Euro, já que é
delas que vem muita coisa que comemos e bebemos, além de originar uma
sistemática falta de dinheiro no mercado interno.
Houve,
portanto, uma política “deliberada” de desmantelamento das bases da
nossa Economia, feita em nome de uma pseudomodernização do Capital Fixo
existente.
Muitas atividades foram
abandonadas sob o influxo dos Fundos Estruturais da CEE que
pressupunham o abate das estruturas e meios produtivos existentes que
convinham destruir para dar lugar, como deu, à entrada maciça de bens,
produtos e equipamentos, com vantagem óbvia para os fornecedores
estrangeiros e distribuidores nacionais.
Claro que para chegarmos aqui, houve internamente muito laxismo político. Dizemos até, muita corrupção de princípios e valores.
Os
governos promotores da integração europeia escamotearem as
consequências negativas da adesão à CEE e esconderam o lado
comprometedor dos tratados que subscreveram.
Apenas viram o dinheiro a entrar a rodo…
Parte entrou diretamente nos bolsos de alguns…
Ninguém
cuidou de informar do preço que haveríamos de pagar por tanta “bondade”
europeia, que se traduziu pela perda de autonomia Financeira e
Económica.
Como diz o outro, não há jantares de borla…
Por
outro lado, os governantes, de um modo geral, foram incompetentes na
gestão dos recursos financeiros colocados à sua disposição,
esbanjando-os em investimentos que mais das vezes serviram interesses
privados, invés de servir o bem geral do país.
Veja-se
o caso das Parcerias Públicas Privadas (PPPs), com contratos leoninos a
favor dos concessionários, sobrecarregando o erário público por várias
décadas; e o financiamento de Fundações, cujo objeto social e cultural
é, do ponto de vista do interesse público, duvidoso, sobretudo quando
existem carências sociais que ficam de fora do Orçamento de Estado ou
são insuficientemente financiadas.
Obviamente
este estado de coisas, já de si representando a corrupção das
verdadeiras preocupações de um Estado de Direito, indicia que muito
dinheiro público tem sido abusivamente desviado para pagar comissões e
bónus em troca da adjudicação de contractos públicos altamente
vantajosos para os privados.
Ao
mesmo tempo que se afirma que a austeridade é absolutamente necessária
para sair da crise e que até pode ser necessário fazer mais sacrifícios,
diz-se que se assim não fosse, seria pior…
Mas
com o desemprego a atingir perigosamente um milhão de trabalhadores e a
fome a rondar a mesa de milhares de famílias, temos dúvidas se a
solução contrária não seria menos penosa, ou seja, o abandono do Euro e o
regresso ao Escudo.
Sacrifício
por sacrifício, preferíamos fazê-lo por uma causa maior, a recuperação
da Soberania Nacional. Pelo menos sabíamos que no final da linha, os
portugueses voltariam a ser “donos do seu nariz”.
Como
as coisas estão, temos a certeza que chegaremos ao fim mais pobres e
mais dependentes dos “mercados”, essa entidade abstrata e difusa através
da qual a Elite Global manobra para alcançar o seu objetivo final da
criação de um Estado Global e Totalitário à escala do Planeta, de que a
União Europeia é uma espécie de ensaio.
Ilustrações extraídas da internet por redecastorphoto
*GilsonSampaio
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