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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, junho 16, 2012

UM SILÊNCIO ENSURDECEDOR




Cesare Battisti: até o Mino Carta quer o fígado dele

O Brasil já deu asilo a ex-ditadores e golpistas de direita, como os portugueses Marcelo Caetano e António Spínola e os generais paraguaios Alfredo Stroessner e Lino César Oviedo; e a esquerdistas como o ex-padre colombiano Olivério Medina, representante das Farc no Brasil; e a Cesare Battisti, ex-militante da esquerda armada italiana nos anos 1970. Mas a mídia só fez escândalo no caso deste último – até o Mino Carta saiu em defesa da posição do governo italiano. Por que raios? Às vezes há menos coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia...

Abaixo, um texto do Paulo Moreira Leite – o único, até agora, a tratar do assunto:  

E a turma anti-Battisti vai protestar?

Confesso nunca foi um fanático pela causa do Cesare Battisti, aquele militante da extrema-esquerda italiana que foi condenado por terrorismo na Itália e, após muita polêmica, recebeu autorização para residir no Brasil. Minha opinião é que era possível encontrar argumentos contra e favor do asilo.
Mas o debate cansou pelo tom eleitoral-politizado. Agora, um senador boliviano chamado Rocha Pinto decidiu pedir asilo no Brasil. No momento, ele se encontra internado na Embaixada. O Itamaraty disse sim e só aguarda pelo salvo-conduto do governo Evo Morales para autorizar sua viagem ao Brasil.
Estranho que até agora a campanha anti-Battisti não tenha se manifestado. A folha corrida do senador, a se acreditar no que diz o governo boliviano, não é pequena. Inclui acusações de corrupção, assassinato, massacre de camponeses e vai por aí. Mesmo assim, aquela turma que chegou a tentar assustar os brasileiros diante de uma possível reação do Silvio Berlusconi, que seria capaz de interrromper a bunga-bunga de sempre para aplicar outro tipo de retaliação, permanece em silêncio.
Por que? Porque interessava usar Battisti para apontar, em Lula, uma suposta conivência com terroristas. Apenas isso. Considerando o passado de Dilma…
Eu acho que o governo brasileiro faz bem em dar asilo ao senador boliviano, por mais que isso desagrade a Evo Morales, vizinho e em certa medida, aliado.
É a tradição brasileira. O país já abrigou ditadores e até nazistas fugidos. Por que não iria dar asilo a um senador acusado de corrupção? O caso Rocha Pinto tem essa utilidade. Ajuda a mostrar que a decisão de manter Battisti no país foi acertada. Concorda?
*militânciaViva 

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