Após meio século, chega a Havana ajuda humanitária a partir dos EUA
O Porto de Havana recebeu, nesta sexta-feira, após meio século de embargo dos EUA ao regime comunista, o primeiro barco norte-americano com um carregamento humanitário e encomendas dos cubanos que moram em Miami aos parentes que ficaram na Ilha. A travessia atrasou por mais 24 horas devido à burocracia na saída dos EUA. O barco “Ana Cecilia”, que era esperado na quinta-feira em Havana, entrou às 07h06 locais (08h06 de Brasília), pouco depois do amanhecer, no canal da baía de Havana para atracar no cais de contêineres e retirar sua carga.
A demora foi causada por problemas nos trâmites administrativos, disse a empresa proprietária da embarcação, International Port Corp., que negou obstáculos do tipo político no início deste histórico serviço marítimo entre dois países distanciados por causas políticas há meio século.
– O problema foi a burocracia e, basicamente, a culpa foi nossa, porque preenchemos o formulário incorretamente – disse a jornalistas, em Miami, o porta-voz da companhia, Leonardo Sánchez-Adega.
Para não violar o embargo norte-americano ao governo instalado após a Revolução Cubana, em vigor desde 1962, a empresa pretende atender à demanda de grupos religiosos, organizações não governamentais e instituições beneficentes autorizadas a enviar carregamentos humanitários a Cuba.
– Mas também temos como clientes familiares de pessoas em Cuba – esclareceu Sánchez-Adega.
A maioria dos 1,2 milhão de cubanos emigrados da ilha comunista vivem no Sul da Flórida, distante apenas algumas horas de Havana.
Embargo criminoso
O embargo dos Estados Unidos a Cuba é uma medida econômica, comercial e financeira, imposto a Cuba pelos Estados Unidos que se iniciou em 7 de Fevereiro de 1962 e perdura até os dias atuais. A medida, considerada “criminosa” por parte de organismos internacionais de ajuda humanitária, foi convertida em lei em 1992 e ratificada em 1995. Em 1999, o presidente Bill Clinton ampliou este embargo comercial proibindo que as filiais estrangeiras de companhias estadunidenses de comercializar com Cuba, a valores superiores a US$ 700 milhões anuais. A medida está em vigor até hoje, tornando-se um dos mais duradouros embargos econômicos na história moderna.
Apesar da vigência do embargo, é importante notar que nem todo comércio entre Estados Unidos e Cuba está proibido. Desde 2000 foi autorizada a exportação de alimentos dos Estados Unidos para Cuba, condicionada ao pagamento exclusivamente à vista (antecipado: as mercadorias devem ser pagas antes do navio zarpar do porto norte-americano), e os Estados Unidos são o sétimo exportador de alimentos para a ilha, nisso se incluindo sua ajuda humanitária (envio gratuito). De 1992 a 1999, os Estados Unidos enviaram mais ajuda humanitária a Cuba que todos os então quinze membros da União Européia e a América Latina.
Em casos de tragédias, como o furacão Michelle, os Estados Unidos também enviaram ajuda humanitária de emergência. Cuba já gastou cerca de US$ 1,8 bilhões importando alimentos dos EUA, dos quais US$ 474 milhões em 2004 e US$ 540 milhões em 2005, segundo dados da ONU. Este embargo permanece uma questão extremamente controversa em todo o mundo, e é formalmente condenado pelas Nações Unidas. A Assembléia Geral das Nações Unidas em 2007, “determinada a encorajar o estrito cumprimento dos objetivos e princípios consagrados pela Carta das Nações Unidas” (…) e “reafirmando, dentre outros princípios, a igual soberania das nações, a não-intervenção e a não interferência em seus assuntos internos “(..) condenou, pela 16º vez consecutiva, o embargo imposto a Cuba pelos Estados Unidos, por 184 votos a quatro. Votaram a favor da manutenção do embargo apenas os próprios Estados Unidos, apoiados por Israel, Palau e Ilhas Marshall.
Essa última Resolução da ONU, aprovada dia 30 de outubro de 2007, pede o fim do embargo econômico, comercial e financeiro contra Cuba “o mais rápido possível”. Segundo a agência inglesa de notícias BBC “todos os que se manifestaram na Assembléia Geral denunciaram o embargo norte-americano, considerado desumano e um vestígio da Guerra Fria”. A Resolução da ONU foi aprovada uma semana após o presidente George Bush ter declarado que “o embargo contra Cuba será mantido enquanto o regime comunista estiver no poder na ilha”. Essa Resolução da Assembléia Geral da ONU, no entanto, não tem força legal para ser imposta contra seus infratores.
O embargo é criticado até mesmo por tradicionais críticos do regime comunista de Cuba, como críticos conservadores, que argumentam que o embargo na verdade mais ajudou Raul Castro do que o atrapalhou, ao proporcionar-lhe um bode expiatório para se isentar de todos os crônicos problemas da ilha. Empresários e negociantes argumentam, por sua vez, que a proibição de comércio com os Estados Unidos ajuda a outros países, que poderão ter vantagens do pioneirismo assim que o embargo for suspenso. Outro motivo citado pelos críticos ao embargo que é o isolamento de Cuba prejudica as relações dos Estados Unidos com os países latino-americanos, e a proximidade entre os regimes socialistas do continente e Fidel Castro cria um bloco anti norte-americano.
*correiodoBrasil
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