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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, julho 14, 2012

Brasil a frente dos BRICs, diz economista da Harvard

Brasil a frente dos BRICs, diz economista da Harvard







Os economistas adeptos da visão de que se coloque maior empenho na ampliação dos fluxos de capitais do que na criação de empregos e postos de trabalho, gostam de citar parceiros estrangeiros de igual mentalidade para justificarem suas teses catastrofistas de que o Brasil haverá de afundar amanhã ou depois num mar de produtos primários inservíveis ao mundo, ao mesmo tempo em que agarrado por uma multidão de desempregados voluntários, optantes do programa bolsa família.

Esse tipo de visão tem grande acolhida nas empresas de mídia pelo notório vínculo de seus principais veículos, via anúncios pagos, com grandes bancos nacionais e internacionais que preferem ver o diabo a assistir a presidente discursando em favor de políticas industriais. Se bem lembram, no governo Fernando Henrique Cardoso a ideia de política industrial foi definitivamente conotada às ideias de intervencionismo e de atraso, tornando-se quase uma antinomia de noção de liberdade de mercado.

Mas entra crise e sai crise (esta agora é a segunda em menos de 5 anos) e já não é possível aos simpatizantes dos juros altos, que é o preço do produto vendido pelos bancos, falar abertamente contra aquilo que antes tomavam por um acinte ao capitalismo moderno: a intervenção do governo na economia com a finalidade de proteger a indústria e fomentar empregos.

Tampouco parece fácil encontrar, em relação ao Brasil, faladores internacionais que se disponham a corroborar as teses esgarçadas – e, diga-se, pouco patrióticas – dos financeiristas nativos acerca do colapso final da economia brasileira.

Ao contrário, surge aqui e acolá figuras de projeção internacional nos meios acadêmicos e empresariais que consideram estar o Brasil hoje muito melhor posicionado para enfrentar a prolongada turbulência internacional, não apenas em relação aos maiorais da América do Norte e da Europa como também em relação aos seus pares de igual estágio de desenvolvimento, a exemplo da China, Índia e Rússia.

Dan Rodrik, economista renomado da americana Harvard University, em artigo recente para o Project Sindycate – entidade de pensadores que reflete sobre a ordem internacional emergente – é um desses nomes que dá corpo a uma nova visão interpretativa sobre o lugar dos países em desenvolvimento no mundo e que veem o Brasil como em vias de deslocar-se dos chamados BRICS para alçar uma posição de vantagem sobre os países a que se refere o acrônimo e ainda outro que não o integra embora o devesse, a Turquia.

Rodrik acredia que 3 atributos serão de fundamental importância no próximo período para que os países saiam mais facilmente da crise que por todos os lados só se vê aprofundar. O primeiro é a existência de grande mercado interno que lhes permita depender cada vez menos das exportações como eixo dinâmico de suas economias.

O segundo é um baixo nível de endividamento interno, que possibilite aos governos espaços para a ampliação dos investimentos de forma não inflacionária e com níveis satisfatórios de taxas de juros sobre os papéis representativos da dívida pública.

 O terceiro dos atributos necessários ao bom encaminhamento dos reflexos da crise internacional nas economias nacionais é a existência de instituições democráticas consolidadas que permitam a solução de conflitos distributivos e o estabelecimento de consensos mínimos quanto à repartição do ônus incidente sobre grupos sociais em decorrência das eventuais medidas de enfrentamento a serem adotadas.

O economista julga que embora todos os países integrantes dos BRICS, inclusive Turquia, desfrutem da primeira condição (existência de grandes mercados consumidores), apenas o Brasil dispõe das 3 requisito que constituem como um seguro contra os efeitos da crise.

Além de mercado dinâmico que permita compensar a perda do crescimento internacional, o Brasil dispõe ainda de baixo endividamento do governo (cerca de 40% do Produto Interno – PIB) e instituições políticas sólidas, responsáveis pela travessia de 25 anos sem sobressaltos institucionais graves. O mesmo não acontece nem com China e Rússia, que contam com regimes fechados em que o fim de uma era de abundância poderá facilmente levar à paralisia do Estado por causa de conflitos intestinos não dirimíveis por meio de acordos políticos de maior consistência.

Muito embora mais arejados em termos do funcionamento interno, Índia e Turquia têm contra si pesados níveis de endividamento público (pelo menos o dobro do brasileiro) que lhes tolhe a liberdade de movimento na efetivação de gastos públicos susbstitutíveis aos investimentos privados, nacionais e estrangeiros.

É por isso que Dilma Russef pode dirigir-se a mandatários de países Europeus, com os quais o Brasil mantém fortes laços econômicos, e permitir-se lições de política econômica. Quando o barco vira tem mais autoridade quem pode nadar melhor, mesmo contra a vontade de outros nacionais que bem se comprazeriam com um país de afogados.
*Brasilquevai

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