Brasil a frente dos BRICs, diz economista da Harvard
Os economistas adeptos da visão de que se coloque maior empenho na ampliação dos fluxos de capitais do que na criação de empregos e postos de trabalho, gostam de citar parceiros estrangeiros de igual mentalidade para justificarem suas teses catastrofistas de que o Brasil haverá de afundar amanhã ou depois num mar de produtos primários inservíveis ao mundo, ao mesmo tempo em que agarrado por uma multidão de desempregados voluntários, optantes do programa bolsa família.
Esse tipo de visão tem grande acolhida nas empresas de mídia
pelo notório vínculo de seus principais veículos, via anúncios pagos, com
grandes bancos nacionais e internacionais que preferem ver o diabo a assistir a
presidente discursando em favor de políticas industriais. Se bem lembram, no
governo Fernando Henrique Cardoso a ideia de política industrial foi
definitivamente conotada às ideias de intervencionismo e de atraso, tornando-se
quase uma antinomia de noção de liberdade de mercado.
Mas entra crise e sai crise (esta agora é a segunda em menos
de 5 anos) e já não é possível aos simpatizantes dos juros altos, que é o preço
do produto vendido pelos bancos, falar abertamente contra aquilo que antes
tomavam por um acinte ao capitalismo moderno: a intervenção do governo na
economia com a finalidade de proteger a indústria e fomentar empregos.
Tampouco parece fácil encontrar, em relação ao Brasil,
faladores internacionais que se disponham a corroborar as teses esgarçadas – e,
diga-se, pouco patrióticas – dos financeiristas nativos acerca do colapso final
da economia brasileira.
Ao contrário, surge aqui e acolá figuras de projeção
internacional nos meios acadêmicos e empresariais que consideram estar o Brasil
hoje muito melhor posicionado para enfrentar a prolongada turbulência
internacional, não apenas em relação aos maiorais da América do Norte
e da Europa como também em relação aos seus pares de igual estágio de desenvolvimento,
a exemplo da China, Índia e Rússia.
Dan Rodrik, economista renomado da americana Harvard
University, em artigo recente para o Project Sindycate – entidade de pensadores
que reflete sobre a ordem internacional emergente – é um desses nomes que dá
corpo a uma nova visão interpretativa sobre o lugar dos países em desenvolvimento
no mundo e que veem o Brasil como em vias de deslocar-se dos chamados BRICS para
alçar uma posição de vantagem sobre os países a que se refere o acrônimo e
ainda outro que não o integra embora o devesse, a Turquia.
Rodrik acredia que 3 atributos serão de fundamental
importância no próximo período para que os países saiam mais facilmente da crise
que por todos os lados só se vê aprofundar. O primeiro é a existência de grande
mercado interno que lhes permita depender cada vez menos das exportações como
eixo dinâmico de suas economias.
O segundo é um baixo nível de endividamento interno, que
possibilite aos governos espaços para a ampliação dos investimentos de forma
não inflacionária e com níveis satisfatórios de taxas de juros sobre os papéis representativos
da dívida pública.
O terceiro dos
atributos necessários ao bom encaminhamento dos reflexos da crise internacional
nas economias nacionais é a existência de instituições democráticas
consolidadas que permitam a solução de conflitos distributivos e o
estabelecimento de consensos mínimos quanto à repartição do ônus incidente
sobre grupos sociais em decorrência das eventuais medidas de enfrentamento a
serem adotadas.
O economista julga que embora todos os países integrantes
dos BRICS, inclusive Turquia, desfrutem da primeira condição (existência de
grandes mercados consumidores), apenas o Brasil dispõe das 3 requisito que
constituem como um seguro contra os efeitos da crise.
Além de mercado dinâmico que permita compensar a perda do
crescimento internacional, o Brasil dispõe ainda de baixo endividamento do
governo (cerca de 40% do Produto Interno – PIB) e instituições políticas sólidas,
responsáveis pela travessia de 25 anos sem sobressaltos institucionais graves.
O mesmo não acontece nem com China e Rússia, que contam com regimes fechados em
que o fim de uma era de abundância poderá facilmente levar à paralisia do
Estado por causa de conflitos intestinos não dirimíveis por meio de acordos
políticos de maior consistência.
Muito embora mais arejados em termos do funcionamento
interno, Índia e Turquia têm contra si pesados níveis de endividamento público
(pelo menos o dobro do brasileiro) que lhes tolhe a liberdade de movimento na
efetivação de gastos públicos susbstitutíveis aos investimentos privados,
nacionais e estrangeiros.
É por isso que Dilma Russef pode dirigir-se a mandatários de
países Europeus, com os quais o Brasil mantém fortes laços econômicos, e
permitir-se lições de política econômica. Quando o barco vira tem mais
autoridade quem pode nadar melhor, mesmo contra a vontade de outros nacionais
que bem se comprazeriam com um país de afogados.
*Brasilquevai
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