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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, julho 02, 2012

"Crimes de maio" se repetem em SP


Movimento Mães de Maio


por José Francisco Neto
Do Brasil De Fato


Nas últimas duas semanas ocorreram quase 140 homicídios na capital e na grande São Paulo, segundo dados apurados pelo jornal Folha de S.Paulo. Na Zona Leste, foram 25 mortes em menos de cinco dias e na Zona Sul, só no bairro do Capão Redondo, 11 assassinatos em apenas uma semana.

Essa onda de violência começou há 17 dias quando policiais da Ronda Ostensiva Tobias Aguiar (ROTA) executaram um rapaz numa ação que terminou com seis mortos após troca de tiros na Zona Leste. Há indícios de os suspeitos serem da facção criminosa do Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo testemunhas, policiais pegaram um deles vivo e o levaram para a região do Parque ecológico do Tietê, onde o teriam torturado e matado a tiros. Os policiais foram presos em flagrante pela Corregedoria da Polícia Militar e pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Civil.

Após o ocorrido, uma onda de violência começou no Estado e na Capital de São Paulo. Ônibus foram incendiados, bases da Polícia Militar foram baleadas, toques de recolher nos bairros foram anunciados pela própria polícia e grupos de extermínio agiram nas periferias matando jovens durante a noite e madrugada.

Esses fatos que estão acontecendo, segundo Débora Maria do movimento Mães de Maio, têm relações com os crimes de maio de 2006, em que após os supostos “ataques” do PCC, grupos de extermínio ligados à Polícia Militar assassinaram mais de 500 pessoas, sendo que dessas, a maioria negros e pobres. “Esse foi o maior massacre da história brasileira recente”, diz o manifesto do movimento.

Para Débora, do mesmo modo que está acontecendo agora, com ônibus sendo queimados, jovens sendo mortos e toques de recolher nas periferias, aconteceu em 2006 antes de ter o massacre. “Da mesma forma que aconteceu em 2006 está acontecendo agora. A história de maio tem que ser contada, porque não é diferente do que aconteceu durante esses seis anos. Não teve nenhuma punição naquela época, pois o Estado se omitiu”, conta.

Omissão do Estado

A declaração que o governador Geraldo Alckmim deu à imprensa na última quarta-feira (27) dizendo que “o governo não retrocederá um milímetro” e que “os criminosos que enfrentarem a polícia vão levar a pior” é a mesma que concedeu em 2006, segundo Débora.

Para ela, a história se repete e quem fica no meio do fogo cruzado é a população. “O governo está sendo omisso mais uma vez. Nós, mães, somos a verdadeira vítima do Estado, porque eles não matam só os nossos filhos, mas sim uma família inteira. Eles deveriam arrumar outro método pra fazer o trabalho em cima dessa violência, e não tratar a violência com violência, que é sempre produzida por eles mesmos”, critica.

Chacina

Na noite de segunda-feira (25) nove jovens foram assassinados em apenas quatro horas nos bairros paulistanos Jardim Robru, Capão Redondo, Jardim Ângela e Jardim São Luis, além do município de Poá, na região metropolitana da capital paulista.

Das nove mortes, quatro foram no Jardim Picosse, em Poá. Os jovens Dênis Silva Aparecido e Estevam Marine de Campos, ambos de 19 anos, estavam na rua Pará, na altura do número 178, com Raimonde Anunciação Batista, de 20 anos, e Hederton José Cunha, de apenas 16.

Os moradores que ouviram os tiros acionaram a Polícia Militar (PM), que foi até o local e encontrou as quatro vítimas caídas em via pública. Os jovens foram levados ao pronto-socorro central da cidade, mas não resistiram e morreram.

A chacina foi registrada no Distrito Policial do município e será investigada pelo Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). Essa é a quinta chacina do ano registrada na Região Metropolitana, subindo para 16 o número de mortos neste tipo de crime.

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