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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, julho 18, 2012



Internet e segurança falham em Londres; imagina se fosse… no Brasil!



POR BOB FERNANDES, DIRETO DE LONDRES

Manchetes do Terra nessa terça-feira, 17:

"Massacrada, organização admite falhas na segurança da Olimpíada”

"Empresa britânica desiste de fazer segurança na Copa de 2014”

Integrantes da Metropolitan Police Service fazem segurança no aeroporto de 
Heathrow (Crédito: Bruno Santos/Terra)
É ler as manchetes e pensar na frase tão cheia de significados, inclusive os patéticos, que se tornou um bordão, que rola de boca em boca no Brasil:

- Imagina na Copa!

Estar em Londres, conviver com a infraestrutura e a organização das Olimpíadas e as quase sempre inevitáveis falhas humanas, técnicas e operacionais, é lembrar Nelson Rodrigues e uma de suas máximas:

- O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na sua própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de auto-estima.

Sexta-feira, 13… (será que foi isso?) desembarque no Novo Hotel London Tower Bridge. Hotel legal, pertinho daquela torre medieval onde a tortura rolava solta (será que…?). Funcionários do hotel eficientes e corteses. Check-in, um deles oferece um pacote de wi-fi, 19 euros e 90 por um mês. Muita estrada depois, sabe-se que, por segurança, nunca é demais uma outra conexão.

O simpático Valentin, francês, oferece o "Orange". Salvo na África do Sul, onde "Orange" lembra o colonizador, um produto francês com esse nome, "Orange", não tem como o freguês não se render.

Mas, na dúvida, jornalistas investigam. Dois cliques e está lá:

- Orange Business Services, negócios de serviços, é o braço da France Telecom, um integrador global de soluções de comunicação para corporações multinacionais…

Não há como uma potência dessa fazer algo errado, pensamos vários de nós. Mas, por que não pesquisar mais um pouco?

- A Orange opera em mais de 220 países e territórios e emprega mais de 30.000 funcionários em 166 países.

Isso escrito em francês e inglês! Embarcamos, vários. Um chegou a comentar:

- Imagina na Copa! Imagine a Olimpíada no Brasil! Imagina se a gente vai ter algum como esse!

O Orange funcionou que foi uma beleza. Por dois dias. No domingo, a primeira derrapada. Casa de Fernand F., lá em Chiswick a caminho de Richmond via Green Line, meia hora do centro de Londres. Meio da tarde, a conexão cai. Inglês, portanto fleumático, Fernand F. sobe e desce as escadas. Uma, duas, três vezes, a repetir:

- Problema no roteador, vou ligar e desligar o Orange, acho que ele está quente…

(Vai que é a distância? Meia hora do centro da cidade…)

Segunda cedo, no hotel. O Orange dá tilt. Tá fora do ar. Nada a ver com o hotel. É o Orange. Colegas confirmam:

-… o meu também… pensei que era só o meu… ih, o meu também…

Ninguém disse nada antes porque, sabem como é, né?… Orange! Um negócio com esse nome, e francês, não tem como falhar.

Simpática, constrangida, a mocinha da portaria tenta ajudar. Não consegue, e entrega:

- Olha, não é o hotel, é o Orange.

Outro simpatico atendente, um português, informa:

- A semana passada o Orange ficou dois dias fora do ar aqui em Londres…

Impossível! O Orange? Se ainda fosse no Brasil… (imagina na Copa!)

Pesquisa mais extensa. Jornalismo investigativo. Informa a Reuters, não sobre o tilt em Londres, mas na França, a casa da Orange:

- A Orange, da France Telecom, pediu desculpas aos usuários neste sábado (7 de julho) e disse que iria indenizá-los depois de um blecaute nos celulares e na Internet que durou mais de nove horas e deixou milhões incapazes de se comunicar. (…)

(…) O serviço de celulares ficou mudo no início da tarde de sexta-feira, deixando os 26 milhões de usuários da Orange na França incapazes de fazer e de receber chamadas, de consultar seus emails e de enviar ou receber textos de mensagens. (…)

(…) Em uma coletiva de imprensa em Paris, o executivo-chefe da Orange, Stephane Richard, disse que os clientes de sua malha ganhariam um dia gratuito de comunicação, enquanto os que tivessem contratos ilimitados obteriam capacidade extra de download gratuito. (…)

Um dia gratuito? Bah, os caras são legais. Batuta.

Ainda nem chegaram todos aqueles quase trinta mil jornalistas, atletas, Vips e penduricalhos do COI, e já tá dando tilt na França e em Londres… mas é seguro que um "Integrador global de soluções" tira essa de letra.  

Mesmo porque, reza outro verbete:

- (Orange) oferece comunicações integradas, soluções e serviços para empresas globais em computação em nuvem e comunicações unificadas, comunicação para gerenciar e integrar a complexidade das comunicações internacionais e permitir que corporações multinacionais se concentrem nas iniciativas estratégicas que conduzem seus negócios…

Ufa!

Lido isso, relaxamos todos. Mas tranquilidade total, só quando soubemos do resto:

- Orange Business Services foi fundada em 1 de Junho de 2006, através de rebranding e consolidação das empresas já existentes da France Telecom, da Equant e Wanadoo…

Rebranding da France Telecom, Equant e Wanadoo? Pronto. Zerou a pedra. É correr pro abraço.

Esta terça-feira, 17. O simpático pessoal do hotel informa aos hóspedes: a Orange comunica a todos que a conexão será gratuita durante as Olimpíadas e já a partir do dia 19.

E a Orange voltou a funcionar nessa parte de Londres e no hotel. Problema, outro, segue dando no aeroporto de Heathrow.

A natação, o Cielo, o judô, a vela… 50 atletas e técnicos do Brasil chegaram na segunda. Um amigo jornalista que lá estava, resumiu:

- Banzé total. Uma hora e meia de fila, os voluntários diziam pra os credenciados irem em frente e a polícia mandava voltar atrás… um circo! E uma atleta nossa disse: "Imagine o que diriam se fosse no Brasil!!!".

Diriam:

- Imagina na Copa!
*AmoralNato

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