Internet e segurança falham em Londres; imagina se fosse… no Brasil!
POR BOB FERNANDES, DIRETO DE LONDRES
Manchetes do Terra nessa terça-feira, 17:
"Massacrada, organização admite falhas na segurança da Olimpíada”
"Empresa britânica desiste de fazer segurança na Copa de 2014”
|
É ler as
manchetes e pensar na frase tão cheia de significados, inclusive os
patéticos, que se tornou um bordão, que rola de boca em boca no Brasil:
- Imagina na Copa!
Estar em Londres,
conviver com a infraestrutura e a organização das Olimpíadas e as quase
sempre inevitáveis falhas humanas, técnicas e operacionais, é lembrar
Nelson Rodrigues e uma de suas máximas:
- O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na sua própria imagem. Nossa tragédia é que não temos o mínimo de auto-estima.
Sexta-feira, 13…
(será que foi isso?) desembarque no Novo Hotel London Tower Bridge.
Hotel legal, pertinho daquela torre medieval onde a tortura rolava solta
(será que…?). Funcionários do hotel eficientes e corteses. Check-in, um
deles oferece um pacote de wi-fi, 19 euros e 90 por um mês. Muita
estrada depois, sabe-se que, por segurança, nunca é demais uma outra
conexão.
O simpático
Valentin, francês, oferece o "Orange". Salvo na África do Sul, onde
"Orange" lembra o colonizador, um produto francês com esse nome,
"Orange", não tem como o freguês não se render.
Mas, na dúvida, jornalistas investigam. Dois cliques e está lá:
- Orange Business
Services, negócios de serviços, é o braço da France Telecom, um
integrador global de soluções de comunicação para corporações
multinacionais…
Não há como uma potência dessa fazer algo errado, pensamos vários de nós. Mas, por que não pesquisar mais um pouco?
- A Orange opera em mais de 220 países e territórios e emprega mais de 30.000 funcionários em 166 países.
Isso escrito em francês e inglês! Embarcamos, vários. Um chegou a comentar:
- Imagina na Copa! Imagine a Olimpíada no Brasil! Imagina se a gente vai ter algum como esse!
O Orange
funcionou que foi uma beleza. Por dois dias. No domingo, a primeira
derrapada. Casa de Fernand F., lá em Chiswick a caminho de Richmond via
Green Line, meia hora do centro de Londres. Meio da tarde, a conexão
cai. Inglês, portanto fleumático, Fernand F. sobe e desce as escadas.
Uma, duas, três vezes, a repetir:
- Problema no roteador, vou ligar e desligar o Orange, acho que ele está quente…
(Vai que é a distância? Meia hora do centro da cidade…)
Segunda cedo, no hotel. O Orange dá tilt. Tá fora do ar. Nada a ver com o hotel. É o Orange. Colegas confirmam:
-… o meu também… pensei que era só o meu… ih, o meu também…
Ninguém disse nada antes porque, sabem como é, né?… Orange! Um negócio com esse nome, e francês, não tem como falhar.
Simpática, constrangida, a mocinha da portaria tenta ajudar. Não consegue, e entrega:
- Olha, não é o hotel, é o Orange.
Outro simpatico atendente, um português, informa:
- A semana passada o Orange ficou dois dias fora do ar aqui em Londres…
Impossível! O Orange? Se ainda fosse no Brasil… (imagina na Copa!)
Pesquisa mais
extensa. Jornalismo investigativo. Informa a Reuters, não sobre o tilt
em Londres, mas na França, a casa da Orange:
- A Orange, da
France Telecom, pediu desculpas aos usuários neste sábado (7 de julho) e
disse que iria indenizá-los depois de um blecaute nos celulares e na
Internet que durou mais de nove horas e deixou milhões incapazes de se
comunicar. (…)
(…) O serviço de
celulares ficou mudo no início da tarde de sexta-feira, deixando os 26
milhões de usuários da Orange na França incapazes de fazer e de receber
chamadas, de consultar seus emails e de enviar ou receber textos de
mensagens. (…)
(…) Em uma
coletiva de imprensa em Paris, o executivo-chefe da Orange, Stephane
Richard, disse que os clientes de sua malha ganhariam um dia gratuito de
comunicação, enquanto os que tivessem contratos ilimitados obteriam
capacidade extra de download gratuito. (…)
Um dia gratuito? Bah, os caras são legais. Batuta.
Ainda nem
chegaram todos aqueles quase trinta mil jornalistas, atletas, Vips e
penduricalhos do COI, e já tá dando tilt na França e em Londres… mas é
seguro que um "Integrador global de soluções" tira essa de letra.
Mesmo porque, reza outro verbete:
- (Orange)
oferece comunicações integradas, soluções e serviços para empresas
globais em computação em nuvem e comunicações unificadas, comunicação
para gerenciar e integrar a complexidade das comunicações internacionais
e permitir que corporações multinacionais se concentrem nas iniciativas
estratégicas que conduzem seus negócios…
Ufa!
Lido isso, relaxamos todos. Mas tranquilidade total, só quando soubemos do resto:
- Orange Business
Services foi fundada em 1 de Junho de 2006, através de rebranding e
consolidação das empresas já existentes da France Telecom, da Equant e
Wanadoo…
Rebranding da France Telecom, Equant e Wanadoo? Pronto. Zerou a pedra. É correr pro abraço.
Esta terça-feira,
17. O simpático pessoal do hotel informa aos hóspedes: a Orange
comunica a todos que a conexão será gratuita durante as Olimpíadas e já a
partir do dia 19.
E a Orange voltou a funcionar nessa parte de Londres e no hotel. Problema, outro, segue dando no aeroporto de Heathrow.
A natação, o
Cielo, o judô, a vela… 50 atletas e técnicos do Brasil chegaram na
segunda. Um amigo jornalista que lá estava, resumiu:
- Banzé total.
Uma hora e meia de fila, os voluntários diziam pra os credenciados irem
em frente e a polícia mandava voltar atrás… um circo! E uma atleta nossa
disse: "Imagine o que diriam se fosse no Brasil!!!".
Diriam:
- Imagina na Copa!
*AmoralNato
Nenhum comentário:
Postar um comentário