Kassab contra a solidariedade
Não vai longe certa visão sanitarista abraçada
pelas autoridades municipais da cidade de São Paulo, que se fez manifesta em
vistosas placas verdes que determinavam a proibição de atrair pombos nas praças
públicas.
Os termos do alerta não fazia referência ao ato de alimentar
aves, porque proibi-lo traria implícita consigo a admissão da naturalidade da
presença delas nos espaços públicos, como fora durante o longo tempo em que não
se imaginava uma área verde sem os agitados tico-ticos e pombos brancos
trazidos pela corte de D. João VI.
Afastados os pombos, ainda que o retardasse a teimosia
recalcitrante de idosos e crianças cuja sensibilidade não entendia quais as ameaças
oferecidas pelos pequenos animais que tanta vida traziam à praça, o imperativo
da higiene alcançou os próprios seres humanos.
Não da forma enviesada como pretenderam os alertas
destinados aos amantes de aves 30 anos antes, mas de maneira direta, explícita,
chocante como jamais o imaginaria aquele que sendo humano conviva entre homens, e não entre feras,
na ambiência da cidade.
É proibido alimentar pessoas, decretou há poucos dias o prefeito Kassab. Da
mesma forma como décadas antes confiscavam os fiscais da prefeitura as migalhas
de pão em mãos de aposentados nas manhãs de domingo,
homens armados da prefeitura tem ordens agora de confiscar pratos de sopa das mãos
de quem os receba de caridosos concidadãos.
Apressam-se as autoridades em atribuir a insólita ordem à
busca de eficiência dos serviços municipais voltados à população em situação de
rua. Julgam-na uma decisão administrativa como qualquer outra, que regra as
atividades desenvolvidas na cidade e as coisas que lhe são próprias.
Ao dar primazia aos inexistentes serviços prestados pelo
governo municipal, pelo menos na escala e amplitude necessária, o que se
assiste é ao Estado interferir na relação solidária entre pessoas, obstar o
exercício de práticas humanitárias que nunca se pensou pudesse qualquer
governo visar.
Dá-se com a iniciativa passo ousado para criminalizar a
solidariedade humana dirigida à mitigação da pobreza, à ação individual que
permite ao ser humano enxergar-se como tal. Manifestar humanidade e fazer
aquilo que o Estado tarda a fazer está prestes a tornar-se crime. A crueldade
está aponto de virar política de governo, para espanto daqueles que pensavam
não chegar a tanto a insensibilidade de tecnocratas de governo.
Rebelar-se contra essa ignomia é mais que um direito, é uma
imposição do sentimento humano. Que sejam estilhaçados, pois, os vidros do
gabinete do Sr Prefeito, para lembrar a todos os governantes que ninguém está obrigado
a perder sua humanidade em razão de regras municipais.
*Brasilquevai
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