MAURÍCIO RANDS RENUNCIA AO MANDATO E SE DESFILIA DO PT
Carta ao Povo de Pernambuco
Venho aqui
me comunicar diretamente com meus eleitores, companheiros, amigos e com o
povo de Pernambuco, em especial com os militantes do Partido dos
Trabalhadores – PT, que compartilharam comigo tantas lutas pela
democracia e pela construção de uma sociedade melhor.
Nas prévias
internas de definição do candidato do PT e da Frente Popular, durante
dois meses, participei de intenso debate sobre o Recife e a vida
partidária. Interagi com os militantes, na compreensão conjunta de que a
melhoria da condição de vida na cidade é um processo de construção
coletiva no qual o partido tem grande responsabilidade em servir de
exemplo na demonstração de práticas democráticas. Testemunhei todo o
engajamento desprendido e consciente de milhares de pessoas nesse nobre
debate. Destes militantes, levarei para sempre as melhores memórias e a
eles sou profundamente grato.
Depois da
decisão da direção nacional do PT, impondo autoritariamente a retirada à
minha candidatura e à do atual prefeito, recolhi-me à reflexão.
Ponderei sobre o processo das prévias e sobre o momento político mais
geral. Concluí que esgotei por inteiro minha motivação e a razão para
continuar lutando por uma renovação no PT. Percebi terem sido
infrutíferas e sem perspectivas minhas tentativas de afirmar a
compreensão de que o ‘como fazer’ é tão importante quanto os resultados.
As
diferenças de métodos e práticas, aliás, já vinham sendo por mim
amadurecidas e acumuladas há algum tempo. Todavia, este processo recente
fez com que as divergências ficassem mais claras e insuperáveis. Na
luta pela renovação do partido, no Recife e em outros lugares,
infelizmente, têm prevalecido posições da direção nacional, adotadas
autoritária e burocraticamente, distantes da realidade dos militantes na
base partidária.
No debate
das prévias, minha candidatura buscou construir uma legítima renovação
por dentro do PT e da Frente Popular. Mas lutamos, também, para renovar
os procedimentos com o objetivo de reforçar as práticas democráticas.
Porém, setores dominantes da direção nacional do PT já tinham outro
roteiro que não o debate democrático com a militância do PT no Recife e a
sua deliberação. Ou seja, cometeram o grave equívoco de ter a pretensão
de impor, a partir de São Paulo, um candidato à Frente Popular e ao
povo do Recife.
Por não
terem dialogado com a militância do PT no Recife, muito menos com a
Frente Popular, ignoraram que existiam alternativas, procedimentais e de
quadros, dentro do partido, que unificariam a frente em torno de uma
candidatura do PT. Com a decisão da direção nacional do PT,
lamentavelmente, esta unidade resultou rompida. Diante da minha
discordância com essa ruptura provocada pela direção nacional do
partido, concluí que cheguei ao fim de um ciclo na minha vida de
militante partidário.
É nesse
quadro que comunico aqui três decisões tomadas por mim. Primeiro, a
minha desfiliação do PT. Segundo, a devolução do mandato de Deputado
Federal ao partido. E, por último, meu afastamento definitivo do cargo
de Secretário do Governo Eduardo Campos.
Existiram
diversas razões que me levaram a este caminho. A mais crucial dá-se no
nível da minha consciência. Sempre agi, na vida e na política, com o
maior rigor entre o que penso e o que faço. Sempre cumpri os deveres da
minha consciência.
Defendi nos
debates partidários a renovação do modo petista de governar e a
implantação de um novo modelo de gestão no Recife. Modelo capaz de
aprofundar nossa concepção de democracia participativa e especialmente
de trazer para a cidade métodos e ações que o Governo Eduardo Campos vem
praticando de maneira exemplar e com reconhecimento inclusive
internacional, mas que a administração do Recife não conseguiu
implantar.
Minha
experiência como Secretário do Governador Eduardo Campos foi fundamental
para entender a importância da política do fazer, com formas
competentes e inovadoras de gerir os recursos públicos, atrair
investimentos privados e promover a inclusão social.
Ainda nos
debates das prévias, defendi a renovação das práticas e dos quadros
partidários, bem como a melhoria da articulação política do governo
municipal com o parlamento, os partidos da base e a sociedade civil
organizada. Nesses 32 anos de militância, dediquei grande parte de minha
vida a fortalecer o campo democrático-popular, lutando para aumentar a
participação e consciência política do nosso povo.
Amadureci as
decisões que acabo de tomar com base em fatos altamente relevantes que
impactaram minha consciência de cidadão. Entre estes, a opção da quase
totalidade da Frente Popular pela indicação de Geraldo Júlio como
candidato a Prefeito do Recife. Trabalhei diretamente com Geraldo Júlio e
sou testemunha de como ele foi central para o sucesso do Governo
Eduardo Campos. Acredito que Geraldo Júlio é o quadro mais preparado
para atualizar e aperfeiçoar a gestão municipal do Recife. Implantando
na cidade o que o Governador Eduardo Campos está fazendo em Pernambuco,
ele vai melhorar concretamente a vida do povo do Recife.
Estou
consciente de que o nosso povo vai entender o significado da escolha de
um novo quadro para transformar as práticas político-administrativas na
cidade. Geraldo Júlio vai representar a renovação dentro de uma frente
política que – espero – seja mantida, mesmo com o lançamento de duas
candidaturas no seu campo.
Como esta
posição tem graves implicações para minha vida partidária, decidi que
devo sair do PT e, com dignidade, devolver meu mandato ao partido. E
como gesto concreto de que não se trata de um jogo menor, de barganha
por espaços de poder, decidi também sair definitivamente do Governo
Eduardo Campos. Esse é o custo, sem dúvida elevado, de ser fiel à minha
consciência cidadã. Saio da vida pública e da política partidária para
exercer ainda mais plenamente a cidadania.
Recife, 03 de julho de 2012
Maurício Rands
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