A saída de Gugu é um marco na consolidação da Era Digital na Mídia
A internet primeiro massacrou a mídia impressa; agora é a vez da tevê.
A saída de Gugu da Record é um marco no mundo da mídia, menos por ele e mais pelas circunstâncias.
O que está dito, ali, é que a Era Digital, depois do massacre da mídia impressa, vai avançar ferozmente sobre a televisão.
A lógica é a mesma, e o roteiro também.
A internet reduz a audiência da tevê e, com isso, deixa insustentáveis
os patamares de receitas publicitárias com os quais as emissoras se
habituaram.
Lembre. Se a mídia impressa tinha outra fonte de receita – os assinantes – a tevê aberta depende da publicidade.
E o crescimento avassalador da internet levou num primeiro momento os
anunciantes a deslocar seus investimentos da mídia impressa para o
universo digital.
Concluída essa transição, a próxima vítima do deslocamento das verbas é a
tevê. Não há BV, não há nada capaz de convencer anunciantes a colocar
dinheiro em programas de tevê que ninguém mais vê.
Alguns anos atrás, a queda da tiragem dos jornais e das revistas
prenunciavam o desastre publicitário. Agora, é o colapso generalizado
das audiências de televisão.
Parece que as audiências de 60%, 70% da Globo pertencem a uma passado
remoto. Quase todos os campeões de Ibope da emissora são uma fração do
que foram.
Repare quantas vezes você lê que uma novela teve o pior Ibope da
história, ou que o Faustão desceu ao abismo da audiência lado a lado com
o Fantástico e outras marcas que vão sumindo das conversas e se
tornando anacronismos na Era Digital..
Recentemente, vimos o esforço da Globo para promover o novo programa de
humor. O resultado do empenho se traduziu numa medíocre audiência de
12%, e que aponta para baixo.
No passado, as pessoas guardavam o domingo para o Fantástico
Num artigo publicado na última edição da revista americana GQ, o
jornalista e escritor Michael Wolff prestou um tributo a um ‘mundo
morto’ em sua Nova York – aquele em que a capa da Time era esperada com
ansiedade, e em que os figurões da mídia tradicional eram reverenciados.
“Acabou”, lamentou ele. Ninguém mais na cidade conhece os jornalistas
que causavam sensação. Quanto à Time, a empresa proprietária tentou se
desfazer dela, mas não encontrou comprador.
Uma visita ao imperial prédio da revista mostrou a Wolff que a redação
estava com aparência desoladora. Ele notou, melancólico, até a sujeira
provocada por restos de fast food.
O sentimento de fim dos dias de que fala Wolff é facilmente percebido também no Brasil.
Quem ainda lê revista, quem ainda assina jornal — quem reserva a noite de domingo para ver o Fantástico?
As demissões que se estão sendo feitas nas empresas de mídia apenas refletem esse cenário.
Não se trata de enxugar para se curar. Trata-se, isso sim, de enxugar para adiar a morte.
É dentro desse quadro fúnebre que se deve entender a saída de Gugu da Record.
Não cabe, nele, um salário de 3 milhões de reais, fora as despesas de
produção. Onde a audiência para convencer os anunciantes a comparecer,
onde o dinheiro para honrar a folha de pagamentos?
Onde a esperança de qualquer melhora no futuro?
A desintegração do mundo da mídia tal como o conhecemos vai ser um processo longo, sangrento, sofrido.
Com o tempo, as coisas vão se ajustar digitalmente. O jornalismo não
está morrendo, por exemplo, ao contrário do que alguns dizem: está
migrando de plataforma, apenas.
Mas até que a nova ordem se estabeleça, no espaço de alguns anos
transientes que serão turbulentos para os velhos protagonistas, muito
drama ocorrerá sob nossos olhos.
* Blog Justiceira de Esquerda
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