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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 05, 2013

AVISITA DE BIDEN, OS EUA E O BRASIL.


(HD)-A vinda do vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao Brasil, e a confirmação da visita de Estado da Presidente Dilma Roussef aos EUA, apontam para uma mudança de patamar nas relações entre os dois países.
       Tradicionalmente avessos a uma aproximação maior com a América do Sul, os Estados Unidos parecem ter subitamente despertado para a importância do Brasil na região e no mundo. Entre outros fatos, essa presença internacional explica a recente vitória do Brasil na OMC, contra o voto contrário de 26 países da União Européia e dos próprios EUA.
       O Brasil, hoje, por qualquer ângulo que se veja, é o parceiro necessário na região.
       O maior projeto petroquímico do México está sendo executado por uma empresa brasileira. Pouco ao leste, no mar das Antilhas, a obra mais importante de Cuba, o novo Porto de Mariel, é financiada pelo Brasil e está sendo realizado por outra empresa brasileira, assim como novas usinas da Azcuba, estatal de produção de açúcar,  e de vários projetos de modernização agrícola. Na Bolívia, a venda de gás ao Brasil é de importância vital para aquele país, que nos envia, todos os dias, 30 milhões de metros cúbicos.
         Também na Bolívia e no Perú, o Brasil projeta e constrói a rodovia e a ferrovia transoceânicas, que irão nos levar aos portos do  Pacífico e facilitar o incremento das relações comerciais entre os dois lados do continente.  Ainda no Perú, empresas brasileiras abrem túneis nas montanhas dos Andes, para levar águas para a irrigação de áreas áridas. No Paraguai, o Brasil financia e constrói uma linha de transmissão de energia de Itaipu ao oeste do país. Na Argentina, o maior projeto em discussão hoje, é o da exploração das reservas de potássio de Rio Colorado, a ser executada por uma empresa brasileira.
         Apoiado por pela Espanha e pelo México, os EUA tentam contrabalançar o papel do Brasil na América Latina, com iniciativas como a Aliança do Pacífico. Trata-se de esforço inútil, já que o Brasil é o maior parceiro latino-americano comercial de todos os países envolvidos. Além disso, a Aliança não pode concorrer com a UNASUL ou o com Conselho de Defesa da América do Sul, instituições das quais Perú, Colômbia  e Chile são membros plenos, e compartilham com o Brasil importantes projetos, como o do novo avião militar de transporte da EMBRAER, o KC-390 ou o desenvolvimento de lanchas de patrulha fluviais para a Amazônia.          
         Biden fez questão de ressaltar alguns aspectos que valorizam o papel do Brasil no mundo, como o fato de ser a sétima maior economia e de ter um PIB maior que o da Rússia, ou o da Índia e omitiu outros, como a posição do Brasil como terceiro maior credor externo dos EUA.
         Devemos estreitar, de igual para igual, o diálogo com os EUA, sem nos deixarmos seduzir pelo canto de suas sereias. Eles têm seus interesses e nós temos os nossos. Eles têm o Nafta – e nós temos o Mercosul e os Brics.



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