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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 05, 2013

Israel tem 80 ogivas nucleares, mas agências não se manifestam

 

  "Já chega, Vanunu, não vê que estamos ocupados? - A Birgada anti-proliferação". Charge retrata a denúncia de Mordecai Vanunu, ex-técnico nuclear israelense, sobre a produção de armas nucleares, e a negligência sistemática dos aliados de Israel.


Israel afirma estar sob a mira constante dos países da região, inclusive do Irã, que acusa de produzir armas nucleares. Sob esse pretexto, ameaça o país persa com um ataque militar, o que não fez ainda por receio de faltar o apoio internacional necessário. Neste mesmo cenário, o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri, pela sigla em inglês), nesta segunda-feira (3), informou estimar que Israel possui 80 ogivas nucleares.



Dessas ogivas, segundo o Sipri, 50 são para mísseis balísticos de alcance médio e 30 para bombas transportadas por avião, o que reflete as ambições agressivas deste país instalado à força no coração do Oriente Médio.

O instituto sueco também afirma que Israel pode ter produzido armas nucleares não estratégicas, como projéteis de artilharia e munições de demolição atômica. As agências e órgãos internacionais dedicados ao assunto, como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), ainda não se dispuseram a averiguar.

O governo israelense, que seria o único a possuir armas nucelares na região, nunca confirmou nem desmentiu a produção de ogivas nucleares. Não é a primeira vez, entretanto, que a notícia sobre a afirmativa é veiculada.

Em 1986, um ex-técnico nuclear israelense, Mordecai Vanunu, revelou ao diário britânico Sunday Times a informação secreta sobre a planta nuclear do seu país. Mais tarde, Vanunu foi condenado a 18 anos de prisão por traição, e suas acusações não foram investigadas pelos responsáveis internacionais.

Vanunu cumpriu os 18 anos da sentença, inclusive 11 em confinamento solitário, e quando liberto sofria de várias restrições ao movimento e ao discurso, o que acabou por levá-lo à prisão diversas vezes, ao dar entrevistas a jornalistas. Por exemplo, em uma entrevista concedida à imprensa internacional logo depois de ser libertado, em 2004, ele afirmou ter sido tratado de forma “bárbara e cruel”, o que atribui também ao fato de ser cristão, e não judeu.

Apesar da forte pressão internacional, o regime israelense negou-se a assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), que foi assinado pelo Irã, e não aceita que observadores internacionais inspecionem as suas instalações, outra ação a que o Irã responde positivamente há mais de 10 anos, recebendo visitas frequentes da AIEA e outros observadores.

Israel alega que essas medidas seriam contrárias aos interesses de segurança nacional, uma admissão clara da sua política agressiva e belicosa para a região. A segurança e a estabilidade tanto externas quanto internas, para o caso de um país que administra um conflito violento e reprime de forma sistemática todo um povo, o palestino, além da política agressiva com praticamente todos os seus vizinhos, não são traduzidos para “ações” pelos órgãos responsáveis.

Armas nucleares e reação internacional

Em outros casos, a atuação agressiva de um país, seja retórica ou praticamente, serviu para intervenções militares ainda antes de inspeções de rotina como as efetuadas pela AIEA. Ainda, exemplos ilegítimos e baseados em pretextos instrumentalizados não faltam, mas basta citar o da invasão ao Iraque e os discursos inflamados contra o próprio Irã, que parecem refletir a iminência de uma ingerência agressiva, em alguns períodos.

Sobre as armas nucleares no mundo, o informe publicado nesta segunda afirma: “no início de 2013, oito Estados (os EUA, a Rússia, o Reino Unido, a França, a China, a Índia, o Paquistão e Israel) possuíam aproximadamente 4.400 armas nucleares operacionais. Quase 2.000 delas são mantidas em um estado de alto alerta operacional. Se todas as ogivas nucleares forem contadas, esses Estados, conjuntamente, possuem o total de aproximadamente 17.265 armas nucleares, comparadas com 19.000 no começo de 2012”.

O instituto atribui a ligeira redução no número de armas nucleares ao Tratado sobre Medidas para o Avanço na Redução e Limitação de Armas Estratégicas Ofensivas (novo Start, na sigla em inglês), entre a Rússia e os EUA.

O Sipri, um instituto renomado internacionalmente e fonte segura para cientistas políticos e outros analistas da política internacional, aborda questões relativas à segurança e aos conflitos, aos gastos militares, à indústria armamentista e à não-proliferação nuclear, através de uma base de dados complexa e abrangente mas de fácil acesso. A página pode ser acessada aqui, em espanhol e inglês. 


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