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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, junho 11, 2013


O Brasil ainda faz de contas que não é com ele, o processo não anda, mas como tenho escrito aqui no blog, não adianta tergiversar, mais dia, menos dia, terá de cumprir a sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH-OEA) que condena o Estado brasileiro a investigar os fatos, julgar e punir os responsáveis pela morte e pelo desaparecimento dos corpos de cerca de 70 integrantes da Guerrilha do Araguaia, ocorrida no país na primeira metade da década de 70.

Na sentença - proferida já há quase três anos, em 14 de dezembro de 2010 -, a corte também condenou o país a determinar o paradeiro das vítimas da ditadura. O Brasil terá de fazê-lo. Ou vai romper acordos e tratados internacionais firmados ao longo de sua história e que o obrigam a cumprir legislação e normas nessa linha?

Em sua sessão desta 2ª feira (ontem), a Comissão Estadual da Verdade de São Paulo lançou uma publicação que analisa e apresenta, na íntegra, a sentença da CIDH-OEA de condenação do Brasil por não ter apurado, até agora, os crimes e o desaparecimento de corpos na Guerrilha do Araguaia.

A publicação foi lançada em um debate na Assembleia Legislativa paulista, com a presença da coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso. Criméia Almeida, uma das proponentes da ação que resultou na condenação, informou que o Estado brasileiro já fez um pedido de desculpas às famílias dos mortos no Araguaia, conforme determinado na sentença. Mas, para ela e demais familiares dos mortos, isso ainda é insuficiente.

“Nós, parentes, nos recusamos a aceitar o pedido de desculpa (do Estado) enquanto os torturadores não forem punidos”, disse. Durante o debate, todos os integrantes da mesa defenderam a revisão da Lei de Anistia e que o país cumpra as determinações estabelecidas na senteção da CIDH-OEA.

Participante do debate de lançamento do livro, o jurista Fábio Konder Comparato cobrou da sociedade brasileira e da Comissão da Verdade que denunciem à Corte Interamericana o descumprimento da sentença. “Precisamos exigir que a Comissão Nacional da Verdade enfrente o problema de descumprimento da sentença da corte e enfrente o problema não com vendas nos olhos, mas falando ao povo brasileiro para mostrar o que está acontecendo”.

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