Cardozo vai à guerra contra Alckmin
Ministro José Eduardo Cardozo, da
Justiça, assume discurso do candidato e diz que o governador de São
Paulo, Geraldo Alckmin, politiza a questão da segurança pública, que é
hoje o ponto mais fraco da sua administração; em entrevista, ele
afirmou que a população de São Paulo precisa de pessoas "à altura dos
seus desafios"
Mesmo negando que pretenda ser candidato, o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardozo, acaba de se movimentar como um nome à disposição do PT
para enfrentar o governador tucano Geraldo Alckmin, em 2014. Embora
Alexandre Padilha, Guido Mantega, Aloizio Mercadante e Luiz Marinho
tenham partido na frente, uma eventual candidatura de Cardozo conta com a
simpatia da presidente Dilma, que vê na questão da segurança pública o
tema central da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
Em entrevista concedida à jornalista Vera Rosa, do Estadão (leia aqui), Cardozo bateu firme no governador em Alckmin e o acusou de "politizar" o debate. Confira trechos:
Sobre Alckmin atribuir a violência em São Paulo à falta de controle do governo federal sobre as fronteiras
É da tradição política as pessoas tentarem se isentar de responder
certas questões, colocando a culpa em outros. Eu não farei isso. Vamos
deixar a disputa eleitoral para o palanque. Em junho de 2011, lançamos o
Plano Estratégico de Fronteiras e temos obtido resultados muito
positivos. Querer atribuir a subida da violência em São Paulo a algo que
está melhorando é querer se isentar de um problema sobre o qual
poderíamos pensar em conjunto, sem politizar nem jogar responsabilidade
para o outro.
Politização da segurança
Infelizmente eu acho que é isso, que ele está politizando, porque se o
programa de fronteiras tem números melhores do que tinha anteriormente e
São Paulo tem números de violência piores do que tinha antes, eu não
posso estabelecer um nexo de causa e efeito. Muitas vezes, a cabeça de
organizações criminosas que fazem o tráfico não está no local onde se
planta a coca; está no grande centro onde é o consumo. Então, para
combater o tráfico temos de combater a ação criminosa em todos os seus
aspectos. Se ela está em presídios, tenho de ter coragem para
enfrentá-la nos presídios. Segurança pública exige coragem política. Se
eu tenho um grande centro de consumo, tenho de fiscalizar bem essa
fronteira, além da fronteira nacional, para evitar que a droga chegue ou
que o dinheiro saia.
Jogo de empurra
A responsabilidade é do Estado brasileiro. Acho que todos nós temos de
estar juntos e parar com essa mania de querer empurrar a coisa com a
barriga, culpando uns aos outros. Isso chega a ser pueril. Em momentos
de crise, precisamos deixar de lado nossas divergências políticas e
buscar convergências. Duvido que a população aceite esse jogo de
empurra.
Quem é o culpado?
Se eu respondesse a essa pergunta e desse as minhas impressões estaria
seguindo o caminho inverso do que estou querendo. Quero resolver o
problema de São Paulo e não dizer, eleitoralmente, que o culpado é esse
ou aquele. A população de São Paulo precisa de pessoas que estejam à
altura de seus desafios, para enfrentá-los em conjunto. Nós não podemos
ter vergonha ou medo de pedir auxílio quando temos um problema. Pouco me
interessa aí o resultado eleitoral. Já passou o tempo do "quanto pior,
melhor".
Colaborações entre a União e estados
Vou dar um exemplo: Alagoas está dentro do Brasil e também se submete ao
mesmo programa de fronteiras. É o Estado mais violento do Brasil. O
governador de Alagoas, Teotônio Vilela, que é do PSDB, pediu apoio e, em
um ano de programa de fronteiras, o Estado reduziu em 15% os
homicídios. Santa Catarina também estava com um problema gravíssimo com
uma organização criminosa. O governador Raimundo Colombo (PSD) veio até
nós e propusemos uma parceria. Qual foi o resultado? Em um único dia
transferimos 60 presos. Ao mesmo tempo, fizemos um cercamento das
fronteiras do Estado de comum acordo e uma ação nos presídios. Aquela
situação calamitosa se resolveu. Será que não é possível a gente pensar
um pouco maior nessas coisas? Eu acho que é possível.
Maioridade penal
A redução da maioridade penal é inconstitucional porque fere cláusula
pétrea. A Constituição diz que a maioridade penal é conseguida aos 18
anos. Isso, portanto, gera um direito individual indiscutível a todas as
pessoas que não têm 18 anos de não serem imputadas pela prática de
delitos penais. Temos de focar a discussão nos marcos do Estado de
Direito. A partir daí podemos discutir, por exemplo, as condições e o
tempo de internação, associados a políticas de ressocialização do menor
transgressor.
Ser ou não ser candidato
Não. Eu não sou candidato. Não tenho projeto pessoal de disputar eleição
e falo isso com muita sinceridade. Só se houvesse uma Assembleia
Constituinte exclusiva para votar a reforma política eu me candidataria a
uma vaga (risos). O PT tem ótimos nomes, como o dos ministros Aloizio
Mercadante (Educação), Marta Suplicy (Cultura), Alexandre Padilha
(Saúde), Guido Mantega (Fazenda)...
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