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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, junho 19, 2013

contrafeito de William Bonner.

O Dilema dos Williams 


 

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As Organizações Globo, como se sabe, agora apoiam as manifestações do Movimento Passe Livre e as outras que se seguiram para protestar contra a inflação, a corrupção, a carestia, o aborto, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo, o amor entre iguais, o casamento gay, a caça as baleias, a mini saia, os médicos cubanos, o pastor Feliciano e o terrível hábito de certos elementos de peidar sob as cobertas.
Ocorre que como esse apoio foi tardio e, pior, inaugurado com um mea culpa patético de Arnaldo Jabor, o Bufão do Jardim Botânico, pouca gente se convenceu ainda da repentina paixão dos Willians (Bonner e Waak) pelas massas.
Assim, tornou-se praticamente impossível aos repórteres da Globo comparecer aos protestos sem serem hostilizados pelos manifestantes. Até a tentativa de tirar os cubos com a identificação da emissora dos microfones se mostrou inútil. Sempre aparece um estraga-prazeres para gritar: "É da Globo!".
O jeito foi inaugurar uma ampla e ostensiva cobertura aérea, na qual apreensivos repórteres metidos em voos noturnos de helicóptero ficam, lá do céu, apontando o inferno na terra.
Engraçado é notar, ainda, que o apoio às manifestações acabou mudando o léxico das narrações. Antes, quando a linha editorial era, digamos, jaboriana, todos eram vândalos e desocupados. Agora que os protestos incluem as bandeiras do mensalão e da hiperinflação imaginária, quando localizam, lá do alto, os baderneiros quebrando vidraças e incendiando carros, os repórteres da Globo se referem a eles como "manifestantes mais violentos".
E a câmara volta para o rosto visivelmente contrafeito de William Bonner.
A própria imagem da nação ultrajada.

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