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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, junho 09, 2013

Marcha da Maconha reúne multidão no Centro de São Paulo



Programa de sábado
Programa de sábado
A Marcha da Maconha ocupou a avenida Paulista, no Centro de São Paulo, em mais um ato pela liberação da cannabis sativa, com shows e blocos temáticos sobre a desmistificação das drogas e o uso medicinal e religioso da planta. O lema que embalou os participantes foi Proibição mata: legalize a vida.
A concentração começou às 14h no Masp e a passeata passará pelas ruas Augusta e Consolação. O shows foram confirmados na praça da República (centro), a partir das 18h, com encerramento marcado para as 22h. Entre as atrações confirmadas estavam Soul Shakers, Sombra, Zulu Soljah e James Venture e Avante Coletivo.
Segundo a jornalista Gabriela Moncau, uma das organizadoras do evento, a ideia dos blocos temáticos é ter uma troca com manifestantes de outras causas.
– Todos nós, usuários ou não de drogas, vivemos em uma guerra. As drogas foram proibidas sob um discurso de saúde pública, mas a proibição causa mortes e não inibe o consumo – afirmou.
Desde 2008, quando a primeira Marcha aconteceu no parque Ibirapuera (Zona Sul), apenas 50 pessoas compareceram, segundo os organizadores. Um número agora inexpressivo diante da multidão que se formava no Masp, logo após as 15h. Até 2011, a manifestação era sempre proibida pelo Tribunal de Justiça de São Paulo sob o pretexto de que fazia apologia ao uso de drogas.
Em 2011, após uma série de confrontos entre manifestantes e policiais das tropas de repressão, o Supremo Tribunal Federal a liberou, pois sua proibição infringia o direito de liberdade de expressão.
“Experiência profissional”
O ator José de Abreu, 67, publicou vídeo na internet convocando para a marcha.

Ele começou a fumar maconha como “uma experiência profissional”. Em 1966, Abreu, filho de um delegado da Polícia Civil, entrou no setor de entorpecentes da Secretaria de Segurança Pública. Aos 20 anos, ajudava a dar flagrante em outros jovens que consumiam drogas.
Ele saiu da polícia, fez direito na PUC-SP, aderiu à luta contra a ditadura, tornou-se ator, viveu no exílio, trabalhou na IBM e, nesse percurso, experimentou várias drogas e acredita ser legalizar a maconha.
– A legalização é benéfica não só aos usuários, mas a toda sociedade. Basta de racismo, moralismo, violência, corrupção e proibição. Queremos o direito à saúde, à informação, ao próprio corpo, à autonomia, à liberdade: é tempo de uma nova política de drogas para o Brasil – afirmou.
A Marcha da Maconha é organizada pelo Coletivo Marcha da Maconha Brasil, “um grupo de indivíduos e instituições que trabalham de forma majoritariamente descentralizada, com um núcleo-central que atua na manutenção do site marchadamaconha.org e do fórum de discussões a ele anexado. Apesar de existir tal núcleo, todo o trabalho é realizado de forma horizontal e coletiva entre uma rede de colaboradores, no qual os textos, artigos e todo tipo de trabalhos são compartilhados de acordo com as necessidades, disponibilidades e engajamento de cada um”, segundo a autodenominação.
 *correiodoBrasil

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