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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, junho 14, 2013

Por Altamiro Borges
De Paris, onde se encontrava em missão institucional, o governador tucano Geraldo Alckmin deu a ordem: protesto "é caso de polícia". No final da tarde de ontem (13), a PM seguiu à risca a determinação e baixou a porrada nos manifestantes que ocuparam as ruas centrais de São Paulo para exigir a redução da tarifa do transporte público. Antes mesmo do início do protesto, cerca de 40 pessoas foram detidas arbitrariamente e levadas ao 78º Distrito Policial. Quatro horas depois, enquanto os ativistas gritavam "sem violência", a tropa de choque disparava balas de borracha, lançava centenas de bombas de gás e prendia outras 180 pessoas.


A manifestação pública, a quarta da série na capital paulista, reuniu mais de 15 mil pessoas, superando as expectativas mais otimistas dos organizadores. Fora alguns atos isolados de vandalismo, que podem até ter sido praticados por provocadores infiltrados, ela transcorreu de forma pacífica na maior parte do tempo. A ação truculenta da PM, orientada por um governador simpático ao Opus Dei e cercado de notórios fascistas no Palácio dos Bandeirantes - um dos seus assessores é líder da seita Endireita Brasil -, acirrou os ânimos e foi a principal culpada pelas cenas de guerra na cidade, que resultou em mais de 200 pessoas feridas. 


Até colunistas que não podem ser acusados de anti-tucanos avaliam que a PM está descontrolada. "Arruaça policial", registrou Janio de Freitas, para descrever a "estupidez inútil da violência armada" nos últimos dias. Elio Gaspari, que acompanhou o protesto de ontem, não vacilou em afirmar que "o distúrbio em São Paulo começou com a Tropa de Choque". A própria mídia tucana, que antes exigia o endurecimento no trato com os manifestantes - da mesma forma como fez na sua cruzada pelo golpe militar de 1964 contra o "perigo comunista" - agora reconhece que a PM tucana está exagerando na dose, beirando a barbárie.


Para que acompanha a trajetória elitista e autoritária do tucanato, as cenas de violência desta terça-feira não surpreendem. Logo que tomou posse como presidente da República, em 1995, FHC acionou as tropas do exército contra a greve dos petroleiros. Refinarias foram ocupadas e a repressão foi brutal, visando "quebrar a espinha dorsal" do sindicalismo, segundo confessou na época um assessor presidencial. No seu reinado, o MST foi alvo de inúmeras ações violentas. Já em São Paulo, a repressão desmedida da PM tucana já virou rotina. Os próprios policiais civis foram vítimas dela num famoso ato em frente ao Palácio dos Bandeirantes. O "modo tucano de governar" já inclui a porrada, a violência, o desrespeito às lutas sociais!
*Ajusticeiradeesquerda

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