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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, junho 10, 2013

PM bate em mulher, agride a Marcha da Maconha SP e tenta estragar a festa. Não conseguiram!

“Querem controlar mas são todos uns descontrolados”
COLETIVO DAR
Sob o lema A PROIBIÇÃO MATA: LEGALIZE A VIDA, a edição 2013 da Marcha da Maconha SP reuniu milhares e milhares de pessoas nas ruas neste sábado. O sucesso foi absoluto, mesmo com um elemento que infelizmente quem mora nessa cidade está bastante acostumado: a violência policial. Se o comando da operação aparentava boa vontade e disposição para o diálogo, o mesmo não pode ser dito de sua tropa, que não só deteve um garoto colocando em risco a segurança de milhares de pessoas como, na sequência, agrediu diversos manifestantes, inclusive mulheres. Covardia que não surpreende, mas indigna.
Justamente num ano em que a Marcha esteve pintada de roxo, dado o grande destaque que o ótimo trabalho do bloco feminista obteve discutindo as questões específicas das mulheres no que diz respeito à proibição das drogas, a PM mostrou sua cara mais vergonhosa ao agredir mulheres pacíficas e desarmadas no momento da detenção do garoto, que supostamente fumava maconha, ali pelo meio da Rua Augusta.
Como demonstra o vídeo abaixo, o clima da Marcha era aquele já característico do movimento antiproibicionista ao redor do Brasil: de absoluta paz. Mesmo às portas do inverno, o dia foi ensolarado, as aulas públicas contaram com grande atenção do público, e a manifestação estava mais cheia, diversificada e colorida do que nunca em nossa cidade.


Povo nas ruas exigindo seus direitos de forma pacífica e influenciando os rumos de suas próprias vidas e da sociedade? Isso é inaceitável para a gloriosa PM, instituição que existe pra que mesmo? Como bem declarou Gabriela Moncau, da organização da Marcha, ao Estado de SP, é evidente que havia consumo de maconha no evento, por mais que os organizadores busquem não estimulá-lo e avisar os participantes do risco dessa conduta. “Embora nós não estimulemos que as pessoas tragam drogas, creio que isso mostra que as pessoas estão cansadas da hipocrisia, de achar que ninguém fuma maconha.”
A PM sabe muito bem que as pessoas fumam na Marcha, afinal ela sabe muito bem que as pessoas fumam em toda parte. Nos shows garantidos pela PM, nos jogos de futebol garantidos pela PM, nos parques, etc. A posse de drogas ilícitas pra consumo pessoal já é, inclusive, um crime de pouca gravidade no Código Penal brasileiro, não sendo sequer passível de pena de prisão. Ou seja, é uma infração menor. Para impedir esse tipo de infração, cabe à PM cometer outros crimes? É aceitável que a PM ataque com cassetetes a mulheres e jornalistas por conta disso? É sensato que ela estimule a ira de milhares de pessoas contra si mesma num espaço estreito como da Rua Augusta? Quem ganha com isso?
Foi uma ação sem a menor lógica, e certamente o comando da operação sabe disso. Deter uma entre as centenas de pessoas que consumiam maconha só serviria para gerar tensão, e fica claro que determinados policiais sempre querem exatamente isso: estragar com a nossa festa. Não conseguiram em 2011, com a proteção da Justiça, ACHAM MESMO QUE CONSEGUIRÃO AGORA? A Marcha demonstrou maturidade. Aos gritos de “solte o usuário”, se recusou a seguir, buscando resgatar o garoto, mas diante do impasse que colocou o evento em risco – bombas ali machucariam e dispersariam grande parte dos manifestantes, certamente – ela seguiu, deixando que os advogados apoiadores voluntários do movimento cuidassem do caso. “Ei, maconha, polícia é uma vergonha”, ecoou o grito mesmo entre aqueles que por alguma incrível razão não tivessem ainda nenhum motivo para ter raiva da polícia.
Se a Marcha foi madura, a PM demonstrou toda sua falta de preparo. E de dignidade. Uma jovem manifestante foi empurrada por duas vezes por um gorila com o dobro de seu tamanho. Na segunda, caiu no chão, quase sendo pisoteada. Terezinha Vicente, feminista que inclusive falou na primeira das aulas públicas, recebeu cotoveladas e empurrões de outro dos fardados. Reagiu enfiando o dedo na cara dele, colocando-o em seu lugar. Advogada, Carolina Freitas tentou CONVERSAR com os PM’s para tentar alguma mediação sobre o jovem detido, e foi imobilizada e agredida com dois golpes de cassetete no joelho, que a deixaram revoltada e machucada até o fim do evento. Ela relatou o momento em seu Facebook:
Ontem eu apanhei covardemente de um policial militar que acompanhava a marcha da maconha. Eu me aproximei de um menino que estava sendo detido pelos policiais por portar um baseado, como advogada, cheguei perto para poder ajudar no que fosse necessário. Em vez de pedir pra que eu me afastasse, o policial me deu duas porradas com o cassetete na perna, pra eu cair e não me aproximar mais. Nessa semana cheia de marchas, em que se pesou tanto midiaticamente o direito à liberdade política e de expressão, importante dizer: a truculência policial em manifestações de rua é uma amostra discreta da violência a que estão submetidas cotidianamente as quebradas de São Paulo. Ontem estávamos na rua por esse motivo: a guerra às drogas impulsionada pelo Estado é uma guerra contra as periferias das grandes cidades, contra a pobreza. Persistiremos nas ruas enquanto o genocídio, a violência e a repressão sistemática continuarem persistindo contra os pobres e contra os pretos.
E essa foi só a parte da violência de gênero. Talvez atendendo aos gritos que exigiam a tão necessária igualdade entre homens e mulheres, os PM’s agrediram quem vinha pela frente, como os vídeos abaixo demonstram. Eles sabem que a mídia adora isso, e prefere sempre destacar o tumulto, deixando para o senso comum a sensação de que manifestação política e violência são sinônimos. Estão quase sendo sim em SP, mas por responsabilidade exclusiva da PM. Que tal fazermos um teste: na próxima Marcha nós mesmos faremos nossa “segurança”. No máximo, enviem a CET para controlar o trânsito. Vamos ver se haverá algum problema.




O que não nos mata, nos fortalece. Se eles não aprenderam a lição de 2011, nós aprendemos a seguir em frente, queiram ou não. A Marcha seguiu pela consolação e terminou na República, onde foi recebida por um show fenomenal, com DJ’s e grupos de reggae e rap celebrando a luta pela legalização e a cultura dos de baixo até mais de 22h. Querem controlar mas são todos uns descontrolados, e nossa vitória não será por acidente, o recado volta a ser dado àqueles que acham que podem vencer nossas ideias na base da porrada. E para a PM especificamente, fica também a mensagem desse repórter-ativista:
PM violenta

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