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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, outubro 21, 2013

Dilma cobra providências para acelerar reforma agrária




 
Ameaçada de encerrar o ano com o pior desempenho na área desde a redemocratização, presidente cobra 100 novos decretos
 
Roldão Arruda
 
Após atravessar mais de dez meses sem desapropriar um único imóvel rural para a reforma agrária, a presidente Dilma Rousseff resolveu mudar. Na semana passada, disse a um grupo de representantes de movimentos sociais que estava cobrando providências do ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas. E que o ministro, sentado ao seu lado, havia prometido encaminhar a ela um conjunto de 100 novos decretos de desapropriação de terras até o final de dezembro.
Ainda não se sabe como o ministro vai obter resultados tão rapidamente, após tantos meses de inércia. Mas, se forem mesmo assinados pela presidente, os decretos prometidos acrescentarão cerca de 200 mil hectares às áreas de assentamentos rurais no País, segundo estimativas do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
A iniciativa pode ajudar a conter as críticas que a presidente vem recebendo de movimentos de sem-terra, indígenas, quilombolas e ambientalistas. Seus representantes afirmam que Dilma ignora os movimentos sociais, ao mesmo tempo que se aproxima cada vez mais da bancada dos ruralistas no Congresso. O coro foi engrossado dias atrás com a oficialização da entrada de Marina Silva no jogo eleitoral de 2014, ao lado do governador Eduardo Campos, do PSB. A ex-senadora entrou em cena afirmando que o atual governo retrocedeu em questões ambientais.
No Incra, funcionários descontentes com o rumo da reforma agrária de Dilma afirmam que os novos decretos só serão assinados com o abandono do discurso sobre a qualidade dos assentamentos. Desde o início do ano, ao justificar a demora na criação de assentamentos, representantes do governo diziam que a presidente estava exigindo boas condições para o seu desenvolvimento. Em fevereiro, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, disse até que Dilma não criaria novas favelas rurais.
Marco. Dez dias antes da cobrança de Dilma ao ministro, o Estado havia divulgado que, com os resultados obtidos até aqui, ela deve entrar para a história com um registro pouco agradável para um político petista: a de presidente que menos desapropriou terras para a reforma desde o início da redemocratização, em 1985. Pode perder até para Fernando Collor de Mello.
A reportagem saiu no dia 7. Uma semana depois, no dia 14, o ministério do Desenvolvimento Agrário baixou uma portaria destinada a facilitar os processos de desapropriação. Passados mais três dias, a presidente e o ministro anunciaram os decretos que vão sair do forno em menos de dois meses.
"Eu quero informar a vocês que o ministro Pepe Vargas e seu ministério assumiram comigo o compromisso de ter 100 decretos de desapropriação até dezembro", disse Dilma. No embalo, ela retomou a questão da qualidade dos assentamentos criados em seu governo, diferenciando-os dos que foram realizados pelos seus antecessores: "No nosso País já se assentou famílias em lugares onde elas não tinham como se sustentar. Nós sabemos disso. O ministro (Vargas) está fazendo um grande esforço para melhorar a qualidade do decreto. Essa é uma questão que não só eu apoio, mas é uma questão que eu exijo, porque nós não temos o direito de colocar pessoas famílias em um lugar onde não têm de onde tirar renda."
Na avaliação de agrônomos do Incra envolvidos com os processos de desapropriação de terras, porém, o decreto assinado pelo ministro no dia 14 reduz drasticamente as exigências dos processos para a criação de assentamentos.
"Ele flexibiliza outro decreto assinado em fevereiro, que exigia estudos mais rigorosos e normas internas para a criação de novos assentamentos", diz Ricardo Pereira, presidente do Sindicato Nacional dos Peritos Federais Agrários. "O problema é que não foram editadas normas para levar adiante os processos, o que acabou emperrando a obtenção de terras e a reforma." Guerra está convencido de que o governo deixou de lado a qualificação: "Fez isso para se livrar de imagem de decreto zero". O presidente do Incra, Carlos Guedes, nega qualquer retrocesso. "A portaria assinada não mudou nada nas exigências. Apenas tratou de ritos", afirma.
Sobre o cumprimento da meta prometida a Dilma, diz que não haverá problemas para alcançá-la. "Na verdade temos quase 130 áreas em condições de serem desapropriadas. Falamos em 100 porque isso permite uma margem interessante para se chegar à meta. Em todas elas já temos informações sobre o cumprimento social da área, o custo do assentamento das famílias e a viabilização econômica do projeto, com a geração de rendas famílias." A expectativa agora é de que as primeiras desapropriações aconteçam daqui a quinze dias.
*Nassif

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