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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, outubro 13, 2013

PM carioca é pior que as gangues

Der Spiegel: PM carioca é pior que as gangues


Revista alemã afirma ainda que governo Cabral é ‘mais violento do que a ditadura’

“Pior do que gangues”. Esta é a forma com que a revista alemã Der Spiegel (Hamburgo) se refere à Polícia Militar do Rio de Janeiro na sua edição desta semana.

A reportagem especial é assinada pelo correspondente do veículo no Brasil, Jens Glüsing, com detalhes sobre a ocupação do Conjunto de Favelas do Lins, na zona norte, no domingo passado (6), para implantação da 35ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade.

O título da matéria ainda complementa: “polícia do Rio é criticada nas favelas por medidas enérgicas”.

A revista comenta o envolvimento de PMs da UPP da Rocinha na morte do pedreiro Amarildo de Souza, que teve repercussão internacional, a violência militar durante a ocupação do Complexo do Alemão, há dois anos, a truculência praticada pelos PMs contra manifestantes nos atos pacíficos que estão acontecendo na cidade.

A publicação ainda destaca a declaração do historiador da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira da Silva, que afirma que o governo de Sérgio Cabral é “mais violento do que a ditadura militar”.

Segundo o Spiegel, a nova campanha de segurança do Estado visa contribuir com as autoridades na reconquista do controle das favelas às vésperas da Copa do Mundo.

As UPPs visam reprimir a ação de traficantes dessas comunidades, “mas muitas vezes acabam por substituí-los com a sua própria regra brutal”, destaca o veículo.

A reportagem de Jens relata a operação no Conjunto de Favelas do Lins, que aconteceu de forma pacífica, como a secretaria de Estado do Rio havia prometido.

O repórter detalhou a operação que durou 50 minutos e o momento em que os policiais hastearam a bandeira brasileira “como anúncio de tudo o que o Estado recuperou”.

Nas linhas seguintes, a matéria explica que o complexo já havia sido dominado por grupos de traficantes perigosos, como também acontece na maioria das mais de 300 favelas do Rio de Janeiro.

A Spiegel destaca que as UPPs “estão no centro da estratégia do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho”.

O texto relembra que a polícia criou, inicialmente, unidades permanentes nas favelas, que só eram ocupadas durante operações especiais que terminavam em fortes tiroteio e morte de inocentes.

A matéria conta que a única operação que resultou em violência pesada foi a ocupação do Complexo do Alemão, um dos maiores complexos de favelas no Rio de Janeiro, terminando em vários dias de tiroteios.

“Desde a introdução das UPPs, a taxa de homicídios caiu drasticamente. (…) Mas quanto tempo vai manter a paz? Entre os muitos moradores da favela, a força policial do Rio de Janeiro tem uma reputação pior do que as quadrilhas de traficantes criminosos. Eles são vistos como bandidos e assassinos – e muitas vezes com razão, como admite o secretário de Segurança Beltrame”, destaca a matéria.


A revista relembra o caso do pedreiro Amarildo de Souza, supostamente torturado e morto por policiais militares da UPP da Rocinha, na zona sul da cidade e das muitas denúncias de moradores da comunidade que afirmam serem vítimas dos PMs.

“Uma investigação feita por uma unidade especial chegou à conclusão de que ele [Amarildo de Souza] foi torturado com choques elétricos na presença do comandante da UPP do distrito e, eventualmente, assassinado. Seu corpo ainda está desaparecido. Ele provavelmente foi retirado da favela no porta-malas de um carro da polícia”, relata a matéria, que destaca em um dos trechos que ”o crime lança uma sombra sobre toda a estratégia de pacificação do governo”.

O crime na Rocinha é avaliado de forma mais abrangente pela revista.

“O delito é quase sem precedentes: tortura é rotina em muitas delegacias de polícia. Polícia, bombeiros e ex-militares formaram milícias que levam os traficantes para além de muitas favelas e que vão estabelecer seus próprios reinados de terror”, analisa o repórter da Spiegel.

Mais adiante, a Spiegel ressalta que “os grupos de traficantes já tentaram várias vezes retomar favelas pacificadas. Houve tiroteio, especialmente no Complexo do Alemão. E bandidos que fugiram dessas favelas se refugiaram em outras favelas na periferia da cidade, levando a um aumento da violência suburbana”.

O Raios X da segurança no Rio de Janeiro feito pela Spiegel não faltou as atuais manifestações que estão tomando as ruas do Rio de Janeiro e marcadas por fortes confrontos entre manifestantes e Polícia Militar.

“…a polícia está reprimindo mais brutalmente os manifestantes. Praticamente todas as semanas há uma batalha de rua no Rio de Janeiro entre manifestantes e policiais, que responderam com bombas de gás lacrimogêneo e violência aparentemente excessiva, mesmo contra transeuntes”, relata.

Em seguida, a matéria destaca um comentário de Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro: “A polícia foi menos violenta sob a ditadura militar do que no governador Cabral”.

No Viomundo | JB
*comtextolivre

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