Der Spiegel: PM carioca é pior que as gangues
Revista alemã afirma ainda que governo Cabral é ‘mais violento do que a ditadura’
“Pior do que gangues”. Esta é a forma com que a revista alemã Der
Spiegel (Hamburgo) se refere à Polícia Militar do Rio de Janeiro na sua
edição desta semana.
A reportagem especial é assinada pelo correspondente do veículo no
Brasil, Jens Glüsing, com detalhes sobre a ocupação do Conjunto de
Favelas do Lins, na zona norte, no domingo passado (6), para implantação
da 35ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade.
O título da matéria ainda complementa: “polícia do Rio é criticada nas favelas por medidas enérgicas”.
A revista comenta o envolvimento de PMs da UPP da Rocinha na morte do
pedreiro Amarildo de Souza, que teve repercussão internacional, a
violência militar durante a ocupação do Complexo do Alemão, há dois
anos, a truculência praticada pelos PMs contra manifestantes nos atos
pacíficos que estão acontecendo na cidade.
A publicação ainda destaca a declaração do historiador da UFRJ,
Francisco Carlos Teixeira da Silva, que afirma que o governo de Sérgio
Cabral é “mais violento do que a ditadura militar”.
Segundo o Spiegel, a nova campanha de segurança do Estado visa
contribuir com as autoridades na reconquista do controle das favelas às
vésperas da Copa do Mundo.
As UPPs visam reprimir a ação de traficantes dessas comunidades, “mas
muitas vezes acabam por substituí-los com a sua própria regra brutal”,
destaca o veículo.
A reportagem de Jens relata a operação no Conjunto de Favelas do Lins,
que aconteceu de forma pacífica, como a secretaria de Estado do Rio
havia prometido.
O repórter detalhou a operação que durou 50 minutos e o momento em que
os policiais hastearam a bandeira brasileira “como anúncio de tudo o
que o Estado recuperou”.
Nas linhas seguintes, a matéria explica que o complexo já havia sido
dominado por grupos de traficantes perigosos, como também acontece na
maioria das mais de 300 favelas do Rio de Janeiro.
A Spiegel destaca que as UPPs “estão no centro da estratégia do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho”.
O texto relembra que a polícia criou, inicialmente, unidades
permanentes nas favelas, que só eram ocupadas durante operações
especiais que terminavam em fortes tiroteio e morte de inocentes.
A matéria conta que a única operação que resultou em violência pesada
foi a ocupação do Complexo do Alemão, um dos maiores complexos de
favelas no Rio de Janeiro, terminando em vários dias de tiroteios.
“Desde a introdução das UPPs, a taxa de homicídios caiu drasticamente.
(…) Mas quanto tempo vai manter a paz? Entre os muitos moradores da
favela, a força policial do Rio de Janeiro tem uma reputação pior do
que as quadrilhas de traficantes criminosos. Eles são vistos como
bandidos e assassinos – e muitas vezes com razão, como admite o
secretário de Segurança Beltrame”, destaca a matéria.
A revista relembra o caso do pedreiro Amarildo de Souza, supostamente
torturado e morto por policiais militares da UPP da Rocinha, na zona
sul da cidade e das muitas denúncias de moradores da comunidade que
afirmam serem vítimas dos PMs.
“Uma investigação feita por uma unidade especial chegou à conclusão de
que ele [Amarildo de Souza] foi torturado com choques elétricos na
presença do comandante da UPP do distrito e, eventualmente,
assassinado. Seu corpo ainda está desaparecido. Ele provavelmente foi
retirado da favela no porta-malas de um carro da polícia”, relata a
matéria, que destaca em um dos trechos que ”o crime lança uma sombra
sobre toda a estratégia de pacificação do governo”.
O crime na Rocinha é avaliado de forma mais abrangente pela revista.
“O delito é quase sem precedentes: tortura é rotina em muitas delegacias
de polícia. Polícia, bombeiros e ex-militares formaram milícias que
levam os traficantes para além de muitas favelas e que vão estabelecer
seus próprios reinados de terror”, analisa o repórter da Spiegel.
Mais adiante, a Spiegel ressalta que “os grupos de traficantes
já tentaram várias vezes retomar favelas pacificadas. Houve tiroteio,
especialmente no Complexo do Alemão. E bandidos que fugiram dessas
favelas se refugiaram em outras favelas na periferia da cidade, levando a
um aumento da violência suburbana”.
O Raios X da segurança no Rio de Janeiro feito pela Spiegel não faltou
as atuais manifestações que estão tomando as ruas do Rio de Janeiro e
marcadas por fortes confrontos entre manifestantes e Polícia Militar.
“…a polícia está reprimindo mais brutalmente os
manifestantes. Praticamente todas as semanas há uma batalha de rua no
Rio de Janeiro entre manifestantes e policiais, que responderam com
bombas de gás lacrimogêneo e violência aparentemente excessiva, mesmo
contra transeuntes”, relata.
Em seguida, a matéria destaca um comentário de Francisco Carlos
Teixeira da Silva, historiador da Universidade Federal do Rio de
Janeiro: “A polícia foi menos violenta sob a ditadura militar do que no
governador Cabral”.
No Viomundo | JB
*comtextolivre
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