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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, outubro 27, 2013

"Todo mundo pode ser contra os black blocs. É absolutamente natural discordar das táticas adotadas"


"Todo mundo pode ser contra os black blocs. É absolutamente natural discordar das táticas adotadas". 
Pedro Munhoz
Todo mundo pode ser contra os black blocs. É absolutamente natural discordar das táticas adotadas pelos grupos mascarados, bastante compreensível até. 

O insuportável é quando o discurso de ataque aos black blocs assume as feições de complacência ou legitimação da violência policial. As manifestações, repito, deixaram claro o que muita gente já sabia: as polícias militares têm que deixar de existir. São instituições inaptas a lidarem com as garantias individuais, com os Direitos Humanos, com a democracia.

Cansamos de ver a polícia atropelando os direitos humanos e abusando de poder aqui no facebook, dia após dia, desde as manifestações de junho. Eu mesmo tive minha merecida cota de gás lacrimogênio, após cometer o delito de exercer o meu direito constitucional de me locomover em linha reta na Avenida Antônio Carlos.

Só o que vimos na grande mídia, porém, são lágrimas vertidas pelas vidraças de bancos quebradas e repetidas acusações de que sempre os mesmos "black blocs" deram ensejo a uma "reação" da polícia.

Contesto. São quase unânimes os relatos de que a polícia, via de regra, "reagia" antes mesmo de ocorrer qualquer tipo de ação por parte dos manifestantes. Mesmo se ela reagisse de fato, deveria reagir contra o grupo que delinquiu, de forma proporcional e pontual.

O costume das polícias de prender e arrebentar pessoas no atacado não pode ser visto por nós como algo natural, mas parece ser essa a tônica das forças policiais.

Por isso, sinto-me desconfortável de aparecer aqui e começar a escamar a galera que quebrou vidraças. A Folha, O Globo e as redes de televisão já fazem isso o tempo inteiro, esse pesoal não precisa da minha opinião.

Prefiro criticar a inépcia e a desonestidade dos braços armados dos governos que, devendo defender os direitos da população, passam por cima deles como se eles não fossem nada. Isso tem sido um tantinho mais raro nas redes sociais e creio ser mais enriquecedor do que repetir á exaustão que danificar patrimônio é crime.

*Mariadapenhaneles 

A franquia "Black Bloc", o McDonald's do neofascismo com marketing de "anarquismo"

blackbloc

No Egito, Black Bloc fomentaram golpe e atacaram manifestantes contra militares

por Luiz Muller


Pescado do Ponto e Contra Ponto. A matéria lembra as ações do “Black Bloc” em vários lugares do mundo.

Após aparecer nos protestos do Occupy Wall Street, onde foram acusados de tumultuar o protesto e justificar a repressão da polícia americana, acabando com o Occupy, o coletivo sem rosto que se auto denomina Black Bloc criou uma espécie de franquia mundo afora, sobretudo em países onde a democracia é frágil e/ou muito jovem.

No Brasil, esses coletivos são formados com absoluta predominância de jovens brancos de classe média que usam roupas de grife. A atuação dos coletivos geram desconfianças de que o alegado apartidarismo não se aplica na prática, como nos protestos contra o propinoduto tucano em que eles iam direto para a Câmara dos vereadores da capital paulista, quando o escândalo é do governo do estado de São Paulo. Dividiu os manifestantes e o desgaste do governador com o prefeito. Foi intencional?

Com o desconfiômetro sempre em alerta, resolvi fazer uma busca detalhada na rede sobre como se portou o coletivo Black Bloc no Egito, antes e depois do golpe. Pesquisei a ocorrência e frequência de matérias sobre eles, os perfis nas redes sociais do coletivo, onde postam em hieróglifos árabes, mas mesmo com essa dificuldade deu para perceber duas coisas:  maioria das fotos postadas são de amenidades, como se o país não estivesse à beira de uma guerra civil e os vídeos postados, feitos a distância, procuram mostrar manifestantes pró Morsi atirando contra militares.

Foi difícil achar matérias sobre o Black Bloc egípcio pós golpe, a maioria dos links apontavam para sua participação efetiva nos protestos que lograram entregar o país de volta aos militares. Entre as que achei, muitas se tratavam de opinião reacionária que não levei em consideração, não há qualquer intenção de demonizar ninguém, apenas trazer aos leitores como se portou e se porta o coletivo no Egito, que enfrenta um golpe militar sangrento.

Líderes do movimento da Praça Tahir no Cairo, que levou a deposição do presidente legalmente empossado, Mohamed Morsi, deram declarações públicas afirmando que apoiavam a matança de manifestantes contra o golpe e davam aval a atuação dos militares. Esses líderes estavam muito próximos ao Black Bloc durante os protestos. Tudo estava se encaixando, só faltava o batom na cueca.

Outro grupo sem rosto famoso da história

Foi aí que eu achei uma denúncia do grupo de direitos humanos “Eye on Torture” (algo como de olho na tortura), que revela que o coletivo Black Bloc admite participação no ataque de 26 de Julho, onde ocorreu massacre de manifestantes contra o golpe. No ataque o coletivo preparou uma espécie de emboscada para os manifestantes os deixando expostos, nesse momento o Black Bloc foi protegido por militares atrás de tanques e prédios, enquanto os manifestantes pela democracia eram fuzilados. Aqui o link da matéria, está em inglês http://www.ikhwanweb.com/article.php?id=31213

È ultrajante pessoal, eu que já vi tanta canalhice nessa vida fiquei transtornado. Como pode alguém posar de anti establishment, usar símbolo da anarquia e apoiar uma ditadura militar? Eu sou um velho punk, é como uma “heresia” ver símbolos de um movimento que tentou mudar o mundo sem violência, que me trazem de volta a juventude, serem usados por um bando de fascistas movidos a interesses obscuros. Tira esse símbolo daí posers, vocês não tem direito de usar, coloca a suástica no lugar.

Só uma última observação: coletivos sem rostos cabem qualquer coisa, inclusive mercenários, tá na cara que se no Egito os Black Bloc são tudo menos anarquistas, e qualquer grupo nazifascista pode vestir a fantasia de anti-establishment para seduzir a juventude. Brasil, Turquia, Egito, coincidentemente países com diplomacia não alinhada com interesses americanos tiveram forte atuação dos Black Blocs recentemente. Tirem suas próprias conclusões.




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