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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, julho 06, 2014

Como Israel pune brutalmente a Palestina que não cometeu crime algum



Como Israel pune brutalmente a Palestina que não cometeu crime algum
O desaparecimento de três jovens israelenses levou Israel a lançar sua maior operação militar em anos na Cisjordânia ocupada 
Por Alex Kane, em Alternet | Tradução: Vinicius Gomes
Os corpos de três jovens israelenses foram encontrados ontem na Cisjordânia ocupada, após duas semanas de incertezas. Os três jovens, Eyal Yifrach, de 19 anos, Naftali Fraekel e Gilad Shaar, ambos de 16 anos – desapareceram no dia 12 de junho após compareceram à um yeshiva, em um assentamento na Cisjordânia. Eles provavelmente foram mortos por dois militantes palestinos.
A resposta de Israel para o caso foi, essencialmente, culpar todo e qualquer palestino pelos crimes de poucos. Ao descobrir os corpos, a política israelense de punição coletiva – um crime de guerra de acordo com a lei internacional – tem continuado, alvejando de maneira vingativa as famílias de supostos suspeitos.
Uma coalizão de grupos palestinos de direitos humanos emitiu uma declaração condenando a punição coletiva, dias após a operação militar de Israel.
“A recente onda de prisões, ataques, mortes e total fechamento de grandes partes da Cisjordânia, após o desaparecimento de três israelenses vivendo em assentamentos, é uma forma clara de punição coletiva contra o povo palestino”, lia-se no texto. “Apesar de algumas medidas tomadas pelas forças israelenses em diversas áreas da Cisjordânia possam ter alguma ligação com a investigação dos desaparecimentos, os métodos empregados são indiscriminados em sua natureza e estão sabotando os direitos fundamentais das pessoas que estão à sua mercê”.
A história dos três jovens capturou a atenção da sociedade israelense, que rezou e fez passeatas. As autoridades israelenses exploraram a oportunidade para lançar grandes operações e ataques que minaram a economia palestina. O fato de que Israel usou tal chance para alvejar o Hamas – grupo militante islâmico que Israel acusa de estar por trás do crime, tornou ainda mais claro que o governo já sabia que os jovens haviam sido mortos muito antes de a informação ter vindo a público. Mas muitas das informações sobre os jovens foram abafadas pela censura militar de Israel, dando ao governo tempo para completar seu objetivo político de enfraquecer o Hamas – que por sua vez, nega as alegações de Israel. Relatos indicam que uma unidade rebelde, mas afiliada ao movimento, realizou os ataques que não haviam sido ordenados pela liderança do Hamas.
Em meados de junho, as forças armadas de Israel lançou a Operação Brother´s Keeper, a maior operação militar na área desde a Segunda Intifada, quando era muito comum ter soldados lutando contra palestinos nas ruas da Cisjordânia. Milhares de tropas israelenses invadiram as cidades e foram de porta em porta, detendo muitos palestinos. O pretexto foi de que buscavam por informações sobre os jovens desaparecidos, mas a essência da operação, que levou os soldados até a distante Hebron, mais ao sul, mostrou que a operação envolvia muito mais do que apenas investigar sobre os desaparecimentos.
A punição coletiva da sociedade palestina durante essas duas semanas pode ser mensurada de muitas maneiras: primeiramente com as prisões. Ao longo da operação, que está em andamento e em ascensão, pelo menos 500 palestinos foram detidos por tropas israelenses. Enquanto a maioria é de fato afiliada ao Hamas – um movimento extremamente enraizada na sociedade palestina – alguns não fazem parte do grupo. As prisões dos líderes do Hamas, assim como de outras pessoas que haviam sido libertadas em 2011 em uma troca de prisioneiros, tiveram como objetivo limitar a habilidade político do movimento em operar na Cisjordânia – especialmente após o Hamas ter assinado um acordo de reconciliação com o Fatah, terminando uma amarga ruptura iniciada pelo Fatah – e apoiada pelos EUA – de dissolver o poder do Hamas, após estes ganharem eleições democráticas em 2006.
As prisões foram acompanhadas por grupos de soldados israelenses entrando em casas, destruindo móveis, enquanto as famílias eram levadas para longe durante os atos de vandalismo.
A cidade de Hebron foi uma das mais prejudicadas pela punição coletiva. Além dos ataques e prisões, inúmeros pontos de controle foram estabelecidos ao longo da cidade e palestinos encontram severas restrições para se locomoverem ao redor. Estima-se que a economia de Hebron já perdeu pelo menos 12 milhões de dólares ao longo da operação militar israelense.
A incursão de Israel na Cisjordânia também encontrou resistência de residentes palestinos: enquanto estes jogavam pedras nas forças invasoras, as tropas israelenses usavam munição real, que já tomou a vida de seis palestinos.
A maioria das mortes e prisões aconteceu antes dos corpos dos três jovens terem sido encontrados, o que não fez com que os ataques israelenses diminuíssem. Na noite do descobrimento dos cadáveres – mortos à tiros – soldados israelenses entraram em Hebron e incendiaram as casas dos supostos suspeitos pelos crimes. O ataque às casas de Amar Abu Aisha e Marwan Qawasmeh é uma volta à política da era da Segunda Intifada, a de destruição das casas dos familiares que nada tiveram a ver com qualquer crime. Fora o fato de que Israel destruiu as casas de Aisha e Qawasmeh antes de os dois terem sido detidos, interrogados e condenados.
As autoridades israelenses podem aumentar ainda mais. A opinião pública israelense está horrorizada com a morte dos jovens. A força aérea de Israel já bombardeou a Faixa de Gaza pelo menos 30 vezes na noite em que os corpos foram encontrados. Mais ataques, mais prisões, mais mortes e mais bombardeios em Gaza está à espera dos palestinos.
*Forum

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