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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, julho 08, 2014

EM DISCUSSÃO

Por Danilo Nogueira:

"Não é por nada, não, mas se eu fosse mulher, não entrava naquele tal de vagão rosa por nada deste mundo. Começa com o tal do vagão rosa, daqui a pouco vem o conselho de usar uma burca.
Com o tal do vagão rosa, a turma que tem testículos maiores que o cérebro vai começar a achar que se não ficou no rosa é porque está querendo ser molestada.
Para acabar com o crime, precisam prender os criminosos, não as vítimas. Quer dizer, conceitualmente, está errado, é tiro no pé.
Diga não à segregação: o metrô é todo seu, não só o vagão "Penélope Charmosa."
***
POR QUE O VAGÃO ROSA É UM RETROCESSO E NÃO UMA SOLUÇÃO PARA AS MULHERES
Em um mundo ideal, indivíduos não são “encoxadxs” no transporte público. Em um mundo ideal, as mulheres não são aconselhadas a não usar roupa curta para evitar um estupro. Em um mundo ideal, homens sabem desde pequenos que as mulheres são donas de seu próprio corpo e não existem para sua satisfação. Em um mundo ideal, as mulheres não são segregadas para evitar violência sexual.
São Paulo se distanciou um pouco mais de um lugar ideal nesta sexta-feira (04) quando sua Assembleia Legislativa aprovou a obrigatoriedade de vagão exclusivo para as mulheres, o chamado “vagão rosa”.
Há quem comemore a decisão, quem diga que é um avanço no combate à violência contra a mulher, quem se sinta segura no vagão rosa e apoie a ideia, mas eu quero explicar neste texto por que eu sou contra essa decisão.

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