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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

O Canal de Pequim



Uma noticia que bem demonstra a diferença quase "filosófica" entre os Estados Unidos e a China.

Enquanto os primeiros continuam a apostar tudo na opção militar (ver os acontecimentos da África do Norte), Pequim continua com o seu silencioso mas ininterrupto trabalho feito de relacionamentos comerciais e investimentos.

Até no quintal de Washington, como o caso da Colômbia.

Um novo projecto, em fase avançada, prevê a construção dum novo "Canal de Panamá".

Não um novo corte para unir Oceano Atlântico e Pacífico, mas 212 quilómetros de linha férrea para alcançar as Caraíbas sem utilizar a passagem já existente: um verdadeiro "canal seco".

E tudo isso no País da América do Sul mais amigo (para usar um eufemismo) dos Estados Unidos.

Não só: o projecto inclui a construção duma nova cidade, não longe da actual Cartagena, na qual as empresas chinesas poderiam finalizar a produção das mercadorias e depois distribuí-las no resto do continente.

Custo da operação? Quase 8 mil milhões de Dólares, o que não representa um problema como confirma Juan Manuel Santos, Presidente da Colômbia, numa entrevista ao Financial Times: não é um problema porque quem paga não é ele, mas Pequim.

Todo este dinheiro apenas para abastecer as lojas chinesas do Sul América? Não é bem assim.

Em primeiro lugar, as trocas comercias entre os dois Países passaram desde 10 milhões de Dólares de 1980 aos 5 mil milhões em 2010.  Mas os objectivos são outros, em particular dois:
  1. aumentar as exportações do carvão colombiano, com destino a China.
  2. subtrair outra fatia de poder ao colosso da América do Norte.

Neste último aspecto, o embaixador chinês em Bogotá não usa meias palavras e fala da Colômbia como duma posição estratégica muito importante, um ponto de acesso para todo o continente sul americano.

Assim, enquanto Washington financiar mais ou menos indirectamente revoluções em África e Médio Oriente, com o apoio do aparato mediático global, Pequim trabalha no completo silêncio e corroí outro pedaço do poder americano.

Não é difícil imaginar quem obterá os melhores resultado no longo prazo.


Ipse dixit.
Fonte: Financial Times
*informaçãoincorreta

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