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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

O grande ditador








São Paulo - Até o recente levante ocorrido no Egito, pouco se falava daquele país, salvo quando havia alguma referência a "pirâmide" e a "faraó". O mesmo não se pode dizer de Cuba. Raros foram os dias em que este país não foi mencionado na imprensa, com reiteradas críticas à ditadura de Fidel Castro, há décadas no poder, agora substituído pelo irmão Raul. Acontece que, no Egito, também se fazia presente um ditador, com quase o mesmo tempo de casa.

Diante disso, a conclusão a que se chega é que existem ditaduras democráticas, como seria a do Egito, e ditaduras antidemocráticas, como seria e ainda é a de Cuba. Por isso, a egípcia merecia todos os favores e atenções da grande potência estadunidense, enquanto a cubana merecia, como continua merecendo, ser combatida e isolada, pela mesma grande potência.

A explicação para esse quadro é fácil. No Oriente Médio, o Egito do ditador Hosni Mubarack não representava nenhuma ameaça para os EUA e, mormente, para Israel. Estava mais engajado com estes dois países, do que com os países do mundo árabe, como um deles que é. Assim, o seu “democrático” ditador poderia permanecer no poder. Com Cuba era diferente. O seu ditador, além de antidemocrático, influenciava os países das Américas Central e do Sul a adotarem políticas contrárias aos interesses norte-americanos. Deveria, portanto, ser apeado do poder, a fim de que, em Cuba, fosse restabelecido um regime de liberdade, com eleições livres e diretas.

Eis aí como se dá a manipulação dos fatos pela mídia norte-americano-sionista, que também acusa o Presidente do Irã, Ahmadinejad, de ser um usurpador do poder, embora eleito em votação popular. Ah, é verdade ! As eleições no Irã teriam sido fraudulentas, algo jamais acontecido em nenhum país democrático. A eleição do xerife texano, George W. Bush, à Presidência dos EUA, foi cercada de uma densa cortina de fumaça sobre a licitude da votação na Flórida. Isto, porém, não importa. O que importa é colocar ordem no quintal alheio, sem se preocupar com o próprio rabo.

Os EUA são o único país que se mantém em permanente estado de beligerância contra outros países. Assim foi com o Vietnam e assim é com o Afeganistão e o Iraque, sem contar o apoio incondicional que dão a Israel, no massacre aos palestinos. Estão ameaçando o Irã, como já ameaçaram a Coréia do Norte. Quando não estão guerreando, ou ameaçando, procuram desestabilizar o governo dos países que lhes são antipáticos. China e Rússia também tem lá suas guerrinhas, porém internas, contra colônias e províncias ditas rebeldes.

No mundo não há mais espaço para nenhum tipo de imperialismo. Os EUA vão deixar o Iraque em piores condições do que o encontraram por ocasião da covarde invasão nele efetuada, duas vezes mentirosamente justificada. Na primeira, eram armas de destruição em massa, depois para derrubar o ditador Saddam Hussein, suposto responsável pela matança de curdos. Os bilhões de dólares investidos nessa estúpida agressão, seriam suficientes para saciar a fome no continente africano e ajudar na reconstrução do Haiti. É o que os norte-americanos poderiam ter feito, no lugar de se preocuparem com ditaduras, cujos países que ainda as abrigam, democráticas, ou antidemocráticas, algumas toleradas por Tio Sam, para salvaguarda de interesses comerciais, agora se defrontam com revoltas populares.

O consagrado Charlie Chaplin, produtor, diretor e protagonista da sátira cinematográfica intitulada "O grande ditador" (1940), não suportou conviver com o imperialismo norte-mericano, vítima que foi do "macartismo" ("McCarthyism", em inglês). Encabeçado pelo senador Joseph McCarthy, nos EUA, entre as décadas de 40 e 50, o "macartismo" foi um movimento paranóico, cujo principal objetivo era a caça às bruxas do comunismo, da qual não escaparam vários astros de Hollywood.

No auge da carreira artística, Chaplin, alcançado por aquele movimento, refugiou-se na Suiça, onde viveu até o término da sua existência, na maior felicidade com sua última mulher, a então jovem Oana O`Neil. Nem todos os perseguidos pelos EUA tiveram, ou têm, a mesma sorte. Foram dele as seguintes palavras:

"Desde o fim da última guerra mundial, eu tenho sido alvo de mentiras e propagandas por poderosos grupos reacionários que, por sua influência e com a ajuda da imprensa marrom, criaram um ambiente doentio no qual indivíduos de mente liberal possam ser apontados e perseguidos. Nestas condições, acho que é praticamente impossível continuar meu trabalho do ramo do cinema e, portanto, me desfiz de minha residência nos Estados Unidos".

A "ditadura" de Charlie Chaplin nunca foi além do espaço correspondente ao tamanho máximo de uma tela de cinema.


Romeu Prisco

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