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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, setembro 24, 2011

Palestina, uma vergonha para o mundo

Minha geração cresceu admirando a luta dos palestinos por sua terra. A de meus filhos, idem. Não pode haver um de nós que, baseado nos princípios de justiça, possam desejar que mais uma geração tenha de ver um povo ser pátria, como foi, antes, o próprio povo judeu.
A fala do líder da Autoridade Palestina, Mahamoud Abbas, hoje, na Assembléia da ONU, foi um momento do qual devemos nos envergonhar. Não porque é justo, correto e civilizado. Mas porque é tardio e, ainda assim, rechaçado.
66 anos após a fundação das Nações Unidas, 64 anos após a comunidade dos países ter criado, com terra palestina, o Estado de Israel, nem mesmo o Estado Palestino, estabelecido ali, pôde começar a existir.
De novo como os judeus, eles passaram a andar de terra em terra, apartados, colocados em guetos, discriminados. Onde se refugiavam, eram alvo de ataque, como ocorreu na Jordânia e, depois, no Líbano.
Lembro-me, com toda a nitidez, de uma cena impressionante, eu jamais me sairá da memória, quando dois palestinos, com uma pequeníssima metralhadora montada na traseira de uma camionete dos anos 50, corriam como numa daquelas antigas comédias dos anos 30, pelas ruas destruídas de Beirute, tentando, obviamente em vão, atingir os jatos F-5 americanos da Força Aérea que bombardeavam impiedosamente a cidade de um dos lados da chamada “Linha Verde”, que a separava entre cristãos e muçulmanos.
Os israelenses, agora, eram Golias, não mais  David.
Inútil argumentar que há terroristas entre os palestinos. Havia-os também entre os judeus dos anos 40, ansiosos por terem seu país, sua terra, seu Heretz Israel.
Entre eles, Menahen Beguin, que fez parte da organização Irgun, que matou soldados britânicos e explodiu o Hotel Rei David, onde funcionavam serviços britânicos e moravam as famílias dee seus funcionários. Morreram 91 pessoas: ingleses, árabes e judeus, em 1.946. Menahem Beguin tornou-se, três décadas depois, primeiro-ministro de Israel.
Israel tem razão ao afirmar que não se fará a paz com o simples reconhecimento do Estado Palestino. Não, não se fará.  O reconhecimento pleno da palestina é, porém, o primeiro e indispensável passo para qualquer possibilidade de acordo duradouro, porque nivela os palestinos á condição de um  povo que precisa de soluções para ter um território e, assim, ter um país.
Sem a figura de Yasser Arafat, o homem que simbolizou a longa luta palestina, tudo é mais difícil. Não há outra liderança simbólica como ele, é verdade, capaz de unir os palestinos. Igualmente, a prolongada política de tolerância internacional com a ocupação de terras palestinas criou centenas de milhares de problemas, um em cada família israelense que ocupa o chão palestino e seus melhores – e parcos – recursos de terra agricultável, com fontes de água.
Não importa o tamanho das dificuldades, porém, para tornar pequenos os deveres com os palestinos que o mundo tem. Se saudamos e até autorizamos ações militares para que árabes tenham direito a terem livremente seus governos, não reconhecemos o dever da humanidade de interferir para que os palestinos tenham um país?
A atitude de negar o Estado palestino não é uma vergonha apenas para Israel e para os EUA. É uma vergonha para a humanidade, como foi a perseguição dos judeus pelo nazismo.
E se não queremos  que nosos filhos e netos vejam isso, muitíssimo menos queremos ver geração após geração de crianças palestinas aprendendo a jogar pedras ou crescer manejando armas como faria qualquer povo por sua pátria.
*Tijolaço

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