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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 21, 2012

Carta aberta aos nossos camaradas de Chicago


De: OccupyWallSt e 3 anonymousOWSOccupiers (em Chicago)
Data: 20/5/2012, COMMUNIQUÉ #246 An Open Letter to Our Comrades
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Polícia de Chicago ataca manifestantes contra 2012 NATO Summit
Na véspera do início desse festim dos hipócritas cabais, também citado como “2012 NATO Summit” [Conferência OTAN 2012], o povo de Chicago sofreu grave injustiça nas mãos da polícia do estado.
Dia 19/5, as forças da Polícia de Chicago atacaram com violência, com brutalidade, nossos corpos e nossos direitos. Uma força policial absurdamente gigantesca foi empregada para intimidar e provocar uma assembleia pacífica, em ataque militar descabido, contra ativistas que se manifestavam contra a OTAN, do qual resultaram vários feridos graves – narizes quebrados, olhos feridos, e um incidente particularmente inadmissível e nauseante, no qual um camarada e militante dedicado foi violentamente atropelado por um dos carros de guerra da polícia.
Condenamos indignados esses ataques covardes inaceitáveis. Sabemos que as pessoas começam a acordar do sonho de liberdade falsificada, numa nação que se mostra hoje nas ruas, encarnada num novo estado policial que esmaga qualquer voz discordante e defende as máquinas de guerra da violência internacional e do capitlaismo global, em vez dos seres humanos que finge representar e defender.
Mas já não é tão fácil enganar. Cada dia, menos norte-americanos deixam-se ludibriar por essas táticas.
As ações do Departamento de Polícia de Chicago, ontem à noite, foram executadas segundo um plano deliberado de provocação, para gerar medo entre os manifestantes do nosso coletivo, nos intimidando para nos fazer recuar. É tática policial usada para nos afastar no nosso foco e nos prender numa espiral de violência, recuo e negativismo.
Temos de resistir a essas emoções, porque perdemos nossa autonomia se agirmos por reação à ação deles, seguindo o roteiro que eles conceberam para nós, fazendo o que o braço armado da repressão do estado nos empurre a fazer.
É importante nos mantermos sérios e organizados, para não cairmos na armadilha deles. O que eles querem é nos forçar a responder à violência deles.
Todos sabemos que o ataque militar contra a população de Chicago nada é além de tentativa alucinada para que, depois, tenham o que dizer, tentando justificar a quantia astronômica de dinheiro público que foi desperdiçada para por nas ruas esse número exorbitante de policiais, todo o aparato de supervigilância e a invasão ilegal e imoral das nossas casas e casas de nossos familiares; para isso serve também o medo orwelliano que a mídia-empresa-fantoche trabalha para disseminar.
Não nos deixaremos arrastar para um estado de fúria desorganizada, porque já entendemos que isso, exatamente, é o que mais interessa à polícia que ocupa as ruas, e que deseja nos manipular. Nada temos a ganhar – e temos muito a perder – se cairmos na arapuca barata e previsível que armaram para nós. Se não mais obedecemos, subjugados, às ordens da autoridade, não conseguirão nos fazer agir como eles agem.
Essa convergência nacional é oportunidade muito, muito rara, para unir todos os ativistas de todos os grupos, numa grande frente unificada de resistência, diferente de tudo que esse país já viu, há mais de uma década.
Amanhã, voltamos às ruas com o coração altivo, engrandecidos como sobreviventes da terrível violência e da injustiça que sofremos, nós e nossos camaradas, nas ruas dessa cidade que é nossa. Não nos deixaremos tomar por emoções que toldam nossa capacidade de pensar e de nos organizar.
Reconhecemos a tentativa de coerção como mais uma manifestação de uma violência sistêmica, e nos manteremos autônomos, como indivíduos que não obedecem ordens do poder violento, explícitas ou implícitas. Sabemos canalizar nossa ira, nossa dor, nossa compaixão, nosso desespero, nossa paixão, na luta por um mundo melhor, em que possamos falar e agir sem sermos oprimidos.
Camaradas,
é hora de respirar juntos, bem fundo. Cuidar dos feridos e das feridas e, depois, voltar aos nossos postos, para tomar decisões táticas que resultem de escolhas livres e autônomas, não ditadas pela Polícia.
Cuidem todos cada um da própria segurança e da segurança dos próximos, organizem grupos pequenos, todos em contatos entre si, por afinidade ou por grupos de conhecidos.
Mantenham a calma. Lembrem todos de por que decidimos viajar a Chicago – para resistir contra uma máquina de guerra que age nas sombras, sem transparência, sem prestar contas a ninguém, como se o povo que dizem defender e representar não existisse. E para dizer aos canhões que queremos um mundo sem guerra, sem opressão e sem desigualdade.
Solidarity forever.
Anonymous
#OCCUPYWALLSTREET
#NONATO
#NATOSOLIDARITY
#NATO3

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