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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, outubro 03, 2012

O circo montado na véspera da eleição

Por Altamiro Borges
De forma cronometrada, o Supremo Tribunal Federal (STF) inicia hoje o julgamento do chamado “núcleo político do mensalão”. Só mesmo os ingênuos acreditam que houve “mera coincidência” com os últimos dias da campanha eleitoral. O ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente nacional do PT, José Genoíno, e o ex-tesoureiro da legenda, Delúbio Socares, serão os alvos da fúria do ministro-relator Joaquim Barbosa. As manchetes dos jornais e os destaques da tevê, nas vésperas da eleição, só tratarão da “condenação” do PT.

A mídia hegemônica, a mesma que se travestiu de ética para derrubar Getúlio Vargas e João Goulart, já antecipou seu veredito. Os três devem ser “fuzilados”. Pouco importa a ausência de provas concretas e o uso político-eleitoreiro do julgamento. É preciso derrotar o PT e o conjunto das forças de esquerda – tanto nas eleições municipais, mas, principalmente, do ponto de vista estratégico. O STF, que representa a casta do Judiciário e já cometeu várias outras injustiças na história, é pressionado para se curvar diante do poder midiático.

Jogo de cartas marcadas

A carga foi pesada para fazer coincidir o julgamento com as eleições. O “mensalão tucano”, que irrigou as campanhas pelas reeleições de Eduardo Azeredo em Minas Gerais e do ex-presidente FHC, simplesmente sumiu da mídia. Ele foi anterior ao caso agora analisado pelo STF, mas a chamada grande imprensa se finge de morta – quando trata do caso, refere-se ao “mensalão mineiro” e evita citar o PSDB. Os envolvidos neste processo podem até ter as suas penas prescritas, com a cumplicidade do mesmo Joaquim Barbosa.

Alguns mais crédulos ainda acreditam num julgamento imparcial, com base nos autos. Como diz o ditado, a esperança é a última que morre – mas, acrescento, ela também morre! Na véspera do primeiro turno, os três serão acusados pelo crime de corrupção ativa. Já na véspera do segundo turno, eles serão "julgados" pelo crime de formação de quadrilha. Pura coincidência! Tudo indica que a maioria dos ministros do STF fuzilará os três “petistas” – para a alegria da mídia golpista e da cambaleante oposição demotucana!
*Ajusticeiradeesquerda

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