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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, novembro 22, 2012


Para o ministro Joaquim Barbosa, pergunta tem cor

 

 



Para o ministro Joaquim Barbosa, que nesta quinta-feira assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal, pergunta da imprensa tem cor!
"O senhor está irritado?"
É pergunta de branco!
"Ministro, o julgamento correu tranquilamente?"
De novo pergunta de branco.
O que seria, para usar o termo do próprio Joaquim, uma pergunta de "brother" ?
Certamente perguntas que não constranjam, insípidas, inodoras, e, agora sabemos, pela jurisprudência do racismo avesso de Joaquim, perguntas incolores!
Hoje, Joaquim censurou um repórter negro que o questionou sobre a primeira sessão do Supremo comandada por eler, o relator do processo do mensalão.
A pergunta estava lastreada no histórico de Joaquim de brigas e disputas na Corte.
Assim, em plena Corte Suprema, diante de inúmeros gravadores, o novo presidente do STF atribuiu determinados comportamentos-questionamentos à cor da pele...
Diante de um grupo de jornalistas, valeu-se do recurso do off (o repasse de informação mediante o compromisso de não se identificar a fonte) para se proteger do que diria em seguida.
O jornalista Luiz Fara Monteiro, da TV Record, negro como Joaquim, perguntou ao ministro se ele estava “mais tranquilo, mais sereno” na sessão desta tarde.
Ouviu de bate-pronto:
- Nesses dez anos, o ministro Joaquim botou para quebrar aí, quebrou as cadeiras? Gente, vamos parar de estereótipo, tá?
Dirigindo-se ao repórter, perguntou:
- Logo você, meu brother! Ou você se acha parecido com a nossa Ana Flor [repórter da agência Reuters que é loira]? A cor da minha pele é igual à sua. Não siga a linha de estereótipos porque isso é muito ruim. Eles [os demais jornalistas] foram educados e comandados para levar adiante esses estereótipos. Mas você, meu amigo?
O repórter não arriscou outra pergunta. Ninguém protestou. Pelo contrário.
Os jornalistas que rotineiramente cobrem as atividades do STF parecem acostumados com a rispidez de Joaquim.
Ouça aqui a conversa de Joaquim Barbosa com os jornalistas.

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