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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, outubro 03, 2013

Rede irá ao STF se TSE negar registro_+_ GILMAR DÁ SEU VOTO AO REDE: TSE DEVE CONSIDERAR REDE "COM SERIEDADE"_+_O DIA D DE MARINA




Advogados de Marina Silva têm tudo pronto para entrar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal com pedido de liminar pelo funcionamento do Rede Solidariedade...
atendimento respeitaria prazo limite de 5 de outubro para registro e deixaria caso sub-judice...

entrada do documento será feita assim que TSE divulgar decisão sobre o destino do Rede; previsão é sombria; ex-presidente do STF Ayres Britto idealizou a manobra, mas está cumprindo quarentena legal... 
Tia Marina continua 'encafifada',sem entender nada...

Mandado será impetrado, caso TSE negue o registro, pelo ex-juiz do TSE Torquato Jardim; na última instância, aos 44 minutos do segundo tempo, Marina Silva jogará todas as suas chances para concorrer em 2014; qual dos magistrados do Supremo terá o destino político dela e do Rede nas mãos?


Uma dramática manobra jurídica está em curso, neste momento, no comando do Rede Solidariedade, o partido de Marina Silva cujo registro será definido pelo Tribunal Superior Eleitoral nas próximas horas: um mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal.


Certa de que perderá a batalha no TSE pelo reconhecimento das 95 mil assinaturas que separam o Rede de seu registro, Marina acatou uma ideia de seu principal conselheiro no campo jurídico, o ex-presidente do STF Ayres Britto. Ela e a cúpula de seus apoiadores entrarão com um mandado de segurança no STF assinado pelo ex-juiz do TSE Torquato Jardim.


A argumentação para um pedido de liminar a favor do funcionamento do Rede será a de que as assinaturas são válidas e, com mais tempo, isso poderá ser comprovado. O acatamento deixaria o caso sub-judice e daria novo fôlego ao Rede para tentar desatar o nó jurídico em que se envolveu a partir da glosa, pelos cartórios eleitorais, do contingente de nomes apresentados.


No Supremo, a entrada do mandado de segurança já é esperada. A apresentação do documento deve acontecer logo após o TSE proferir sua decisão sobre o registro do Rede. Haverá festa se der zebra, quer dizer, se os juízes aceitarem o pedido apesar de, desde ontem, manifestação formal do Ministério Público ter recomendado a rejeição.


Caso os prognósticos de derrota do Rede se confirmem no TSE, o mandado de segurança será impetrado no momento seguinte. O documento já está sendo escrito pela dupla Britto-Jardim e seus auxiliares. O TSE deve se manifestar sobre o Rede entre esta quarta-feira 2 e amanhã. O prazo para o registro de novos partidos a tempo de participarem das eleições presidenciais de 2014 termina no sábado 5.


Em segundo lugar nas pesquisas, a ex-senadora Marina Silva amargou, nas últimas pesquisas eleitorais, uma queda em suas intenções de voto. O principal motivo é a falta de definição sobre o Rede, o que está elevando ao máximo a tensão entre seus apoiadores. Na tentativa de manter a chama acesa na opinião pública e, ao mesmo tempo, sensibilizar o TSE, o Rede disparou nas redes sociais uma série de artigos com artistas famosos garatindo que o Rede cumpriu a lei e "não precisa de jeitinho", como disse o global Marcos Palmeira.

A cantora Adriana Calcanhoto, o ator Wagner Moura e o compositor Caetano Veloso, em seu artigo dominical no jornal O Globo, defenderam publicamente o Rede.
Caetano Veloso se exibe aqui fantasiado de "Black Bloc"

Mas, agora, na hora do vamos ver, o que vai resolver mesmo será um mandado de segurança no STF. Qual dos juízes do Supremo terá o destino de Marina e do Rede nas mãos assim que o documento chegar?

No 247 / Free ilustration by: militânciaviva

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TSE DEVE CONSIDERAR REDE "COM SERIEDADE"




Ministro Gilmar Mendes, que vota nesta quinta-feira 3 como substituto no Tribunal Superior Eleitoral o registro do Rede Solidariedade, de Marina Silva, apresenta argumento para dar um jeitinho no caso, e superar a questão das 95 mil assinaturas não reconhecidas pelos cartórios eleitorais; é só deixar a matemática de lado; "Não gosto de aplicar aritmética ao direito", disse Gilmar; ignorar números é bom para a segurança jurídica?

3 DE OUTUBRO DE 2013

Ivan Richard
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O ministro substituto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Gilmar Mendes defendeu hoje (3), na Câmara dos Deputados, que a corte considere “com seriedade” os argumentos apresentados pela ex-ministra e ex-senadora Marina Silva, para que sejam aceitas as assinaturas de apoio ao partido Rede Sustentabilidade que foram rejeitadas por cartórios eleitorais. O TSE decide em sessão marcada para a noite se dará ou não o registro à nova sigla. Ele também defendeu que a legislação sobre o tema seja revista.

“É preciso considerar com seriedade os argumentos que serão levados e, para isso, precisamos ouvir a relatora [ministra Laurita Vaz], que também é a corregedora do TSE. Portanto, a ela estão submetidos todos os órgãos do Judiciário Eleitoral e ela terá condições de fazer uma avaliação sobre as alegações que estão sendo feitas, de que essas rejeições foram casuísticas, abusivas e voluntariosas”, argumentou Mendes.

Na terça-feira (1º), o Ministério Público Eleitoral (MPE) enviou parecer ao TSE contra a concessão de registro ao partido. Segundo o vice-procurador eleitoral Eugênio Aragão, a sigla não obteve o número mínimo de 492 mil assinaturas necessárias para a obtenção do registro. De acordo com Aragão, a legenda conseguiu validar 442.500 assinaturas.

Segundo Gilmar Mendes, as divergências sobre a criação de novos partidos ressaltam a necessidade da aprovação de uma reforma política e partidária. “Essa exigência [de assinaturas] por si só não significa número de afiliados, mas de apoiamento, e isso leva a esses grupos tarefa, a possibilidade de que haja, não sei se fraude, mas práticas não exatamente transparentes. Criamos essas condições e precisamos revê-las. É chegada a hora de discutirmos. Certamente após as eleições vamos voltar a discutir a reforma política”, argumentou.

Para obter o registro, o partido precisa validar número de assinaturas de apoio equivalente a 0,5% dos votos registrados na última eleição para a Câmara dos Deputados. Segundo Marina Silva, o partido coletou 868 mil assinaturas e tem 550 mil validadas, número superior ao mínimo solicitado pela Lei Eleitoral.

De acordo com a ex-senadora, os números são divergentes porque, durante o processo de validação de assinaturas de apoiadores nos tribunais regionais eleitorais, os cartórios atrasaram os procedimentos e anularam 95 mil apoiamentos sem justificativa.

Para Gilmar Mendes, que participará do julgamento no lugar do ministro Dias Toffoli, a decisão sobre a concessão do registro não deve ser meramente aritmética. “Não gosto de aplicar aritmética ao direito”, disse.

“Temos que examinar com bastante cautela. Vamos, realmente, examinar isso no próprio julgamento. Ainda anteontem, a senadora Marina esteve no meu gabinete e apresentou os memoriais, os argumentos, as assimetrias na rejeição em determinados locais e isso terá que ser examinado e apreciado pela Justiça Eleitoral com a cautela que se vem fazendo e vem pautando sua atividade nesse tema”, explicou.

Edição: Davi Oliveira
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O DIA D DE MARINA



O Tribunal Superior Eleitoral decide nesta quinta se concede registro ao partido Rede Sustentabilidade, fundado pela ex-senadora Marina Silva; segundo o vice-procurador eleitoral Eugênio Aragão, o partido não obteve o número mínimo de 492 mil assinaturas; o primeiro voto do julgamento será da ministra Laurita Vaz, relatora do pedido de registro do partido. Em seguida votarão João Otávio de Noronha, Henrique Neves, Luciana Lóssio, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e a presidente do TSE, Cármen Lúcia; cinco dos sete ministros são contra a Rede e só mudarão o voto se a relatora Laurita Vaz apresentar argumentos técnicos que os convençam a rever a posição

3 DE OUTUBRO DE 2013

André Richter
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decide hoje (3) se concede registro ao partido Rede Sustentabilidade, fundado pela ex-senadora Marina Silva. Os sete ministros do tribunal vão decidir se mesmo com parecer contrário do Ministério Público Eleitoral (MPE), o partido está autorizado a disputar as eleições do ano que vem. A sessão começará às 19h.

Na terça-feira (1º), o MPE enviou parecer ao TSE contra a concessão de registro ao partido. Segundo o vice-procurador eleitoral Eugênio Aragão, o partido não obteve o número mínimo de 492 mil assinaturas necessárias para a obtenção do registro. De acordo com Aragão, a legenda conseguiu validar 442.500 assinaturas.

Para obter registro, o partido precisa validar 0,5% dos votos registrados na última eleição para a Câmara dos Deputados. Segundo Marina Silva, o partido coletou 868 mil assinaturas e tem 550 mil validadas, número superior ao mínimo solicitado pela Lei Eleitoral. De acordo com a ex-senadora, os números são divergentes porque durante o processo de validação de assinaturas de apoiadores nos tribunais regionais eleitorais, os cartórios atrasaram os procedimentos e anularam 95 mil delas sem justificativa.

O primeiro voto do julgamento será da ministra Laurita Vaz, relatora do pedido de registro do partido. Em seguida votarão João Otávio de Noronha, Henrique Neves, Luciana Lóssio, Marco Aurélio, Gilmar Mendes e a presidenta do TSE, Cármen Lúcia. Dias Toffoli não participará da sessão porque está em viagem oficial à República Dominicana. Ele será substituído por Gilmar Mendes. A votação deverá ser finalizada hoje, por ser a última sessão da Corte antes de 5 de outubro, prazo final para registro de partido.
 

Marina e a lei dos amigos

A simples realização do debate sobre a criação da Rede demonstra a estranheza dos tempos em que vivemos


Paulo Moreira Leite
Em menos de um mês, o País assiste à repetição de um mesmo espetáculo. 
Enfrentando pela segunda vez uma legislação desfavorável, forças políticas identificadas genericamente como adversárias do governo Dilma-Lula pressionam a Justiça para garantir que a lei seja ignorada. 
 
O primeiro caso ocorreu quando o STF foi debater o direito aos embargos infringentes na ação penal 470. Para pressionar o ministro Celso de Mello a votar contra a legislação que assegura os embargos infringentes conforme decisão do Congresso, de 1998, chegou-se a criar um ambiente de constrangimento e ameaça. 
 
A tese era política: mesmo que os embargos tivessem amparo na lei, dizia-se que sua aceitação poderia comprometer a imagem do STF, criar uma sensação de impunidade no País e assim por diante. 
 
O outro caso ocorre agora. Marina Silva, a grande esperança da oposição de garantir um segundo turno na eleição presidencial, corre o risco de ficar sem seu partido para disputar a campanha. 
 
Nada impediria Marina de concorrer por outra legenda. Mas ela faz questão de disputar pelo seu partido e é isso que o TSE irá discutir hoje.
 
Quando se viu em dificuldade internas em seu mais recente partido político, o PV, ao qual filiou-se ao sair do PT e pelo qual concorreu à presidência em 2010, Marina tomou uma decisão dramática. Resolveu que em vez de pedir ingresso numa das dezenas de legendas já existentes no país, deveria fundar uma agremiação, nova em folha, para concorrer à presidência da República. Teria apenas cinco meses para cumprir a tarefa de constituir um partido de estatura nacional, com projeto político e programa de governo, com milhares de questões de política e organização para resolver em prazo tão curto, mas foi em frente mesmo assim. Reuniu amigos e aliados em Brasília, percorreu o País em vários eventos, mas, como era previsível, não conseguiu terminar o serviço no momento necessário. Resultado: conforme avaliação do TSE, o partido que Marina quer fundar não tem condições legais para participar da campanha de 2014. 
 
Nessa situação, a pressão dos aliados de Marina sobre o TSE não consiste em apontar qualquer erro ou incongruência no processo sobre a Rede de Sustentabilidade. O movimento é aberto: consiste em sugerir aos ministros que fechem os olhos para as falhas encontradas para assim garantir o registro do partido. 
 
Voltando ao debate sobre os embargos. Quando a decisão envolvia retirar direitos de determinados réus, argumentava-se que era preciso ser rigoroso, implacável, e até ignorar direitos e garantias. Quando a decisão diz respeito a uma possível aliada, a conversa muda. Pede-se tolerância absoluta, boa vontade, e assim por diante. 
 
O argumento é que uma decisão desfavorável a Marina poderia prejudicar a democracia brasileira. Tenta-se convencer os brasileiros de que, sem a Rede, diz-se, Marina estará fora da campanha presidencial, deixando seus eleitores – foram 20 milhões – órfãos da candidata de sua preferência. 
 
Vamos lembrar mais uma vez: nenhum obstáculo legal impediria nem impedirá Marina de participar da eleição presidencial. Nada. Caso seu partido seja rejeitado, ela só necessitaria aceitar - dentro do prazo legal, é claro -- convite para ingressar numa das várias legendas que já manifestaram interesse em contar com sua presença e seus votos em 2014. Ela só não entrará na disputa presidencial se não quiser ou não tiver interesse, portanto.
 
E se você quer saber meu palpite, eu antecipo: acho que ela vai levar essa disputa no TSE até o fim porque se trata de um jogo no qual só pode ganhar. Vai ficar nos holofotes, dar entrevistas sobre o assunto, dizer que está sendo perseguida, exibir declarações indignadas de celebridades que lhe dão apoio.
 
Se o TSE curvar-se, leva o partido para casa. Se o TSE rejeitar a Rede, Marina ingressa em outra legenda e sai em campanha denunciando que apesar de tudo derrotou a perseguição dos adversários. 
 
Só há um problema, na verdade. Uma filiação aos 44 minutos do segundo tempo, improvisada, em ambiente de fim de feira, não faria bem à imagem de seriedade que Marina gosta de projetar sobre si mesma. 
 
Embora tenha tido dois mandatos de senadora e tenha passado cinco anos como ministra no governo Lula, boa parte de seu charme consiste na mitologia do não-político, na construção de uma personalidade que se coloca distante daquele mundo que se costuma descrever como bagunça geral, mas é o modo real de funcionamento da democracia em nosso País, com suas grandes qualidades e inúmeros defeitos. 
 
O problema, na verdade, não é garantir o direito indiscutível de Marina disputar a presidência da República. O debate é outro. 
 
Para Marina, consiste em preservar sua imagem – mercadoria estranha aos objetivos da legislação eleitoral. 
 
Para os brasileiros, consiste em saber se a lei deve valer para todos, sem distinção de quem pode ser prejudicado e de quem pode beneficiar-se a cada momento. 
 
A simples realização deste debate em demonstra a estranheza dos tempos em que vivemos, concorda?
 

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