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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Conheça a farsa que levou os Estados Unidos para a Guerra do Golfo em 1991

tempestade no deserto
Os Estados Unidos precisam de uma guerra. Sua economia é praticamente voltada para o conflito armado. A indústria bélica é poderosa e é um dos sustentáculos de qualquer governo, junto com o sistema financeiro. Por isso, se eles não conseguem uma guerra, eles tratam de inventar uma. E pra isso não se furtam de mentir descaradamente para o mundo.
foto de criança saltando corpos na Síria é uma farsaO Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, abriu seu discurso da última sexta-feira descrevendo os horrores das vítimas do ataque de arma química na Síria, com uma riqueza de detalhes friamente calculada para impressionar. Para ilustrar seu discurso, Kerry apresentou uma fotografia da BBC mostrando uma criança saltando dezenas de fileiras de cadáveres cobertos com mortalhas brancas. Seriam vítimas que supostamente sucumbiram aos efeitos das armas químicas do regime de Assad, dias atrás.
No entanto, mais tarde foi denunciado que a fotografia usada havia sido tirada em 2003 no Iraque. Ela não tem nenhuma relação com as mortes dos sírios, e depois foi recolhida. Uma tremenda farsa descarada, montada para conseguir o apoio do Congresso e da opinião pública para mais uma guerra insana. Mas não foi a primeira vez que o governo mentiu para justificar uma guerra.

A Guerra do Golfo, em 1990, também baseada numa farsa

As mentiras de George W. Bush sobre as supostas armas químicas que levaram os Estados Unidos à Guerra do Iraque em 2003 são recentes, por demais conhecidas e nem merecem ser lembradas. Mas o que pouca gente se lembra, é que a Guerra do Golfo, em 1990, também foi baseada em outra farsa descarada montada para mais uma guerra.
Em 2 de agosto de 1990, o Iraque invadiu o Kuwait. No mesmo instante, e com uma rapidez e vigor pouco comuns, o ataque foi condenado pela ONU, que, 4 dias depois, impôs sanções ao Iraque.
Nos Estados Unidos, a população se encontrava dividida e parte do Congresso não estava bem convencida sobre a necessidade de intervenção militar dos Estados Unidos no Iraque – lembremos as relações mais do que amistosas entre Saddam Hussein e George Bush (o pai), que tratava o ditador iraquiano como “um aliado precioso e parceiro comercial exemplar”.
Nayirah, Guerra do GolfoNesse exato momento, entra em cena uma pequena jovem chamada Nayirah, que se apresenta em Washington diante do Comitê dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Os membros do Congresso e o público norte-americano ficam chocados com o testemunho da jovem kwaitiana de 15 anos que conta, em lágrimas, horrores perturbadores.
Ela descreve como os soldados iraquianos tomaram de assalto um hospital no Kuwait onde ela trabalhava como voluntária, roubaram incubadoras e mataram, ou deixaram morrer, 312 bebês, que agonizaram no chão da maternidade.
As mídias divulgaram a notícia em todo o mundo. Saddam Hussein, de amigo muito querido, passou da noite para o dia a ser “o açougueiro de Bagdá” após o testemunho de Nayirah, e seria um tirano “pior do que Hitler”. O presidente George Bush evocou o testemunho de Nayirah pelo menos cinco vezes em seus discursos nas semanas seguintes, e os partidários da guerra fizeram bom uso desse precioso dado para levar os Estados Unidos à guerra, mesmo que o Iraque, em meados de agosto, tenha proposto uma solução negociada e política para o conflito. O Congresso deu aval e a opinião pública apoiou o envio das tropas norte-americanas ao Golfo.
Mas, depois de rumores e dúvidas que circulavam, desmontou-se a farsa criada*: Nayirah era, na verdade, Nayirah al Sabah, filha do embaixador do Kuwait em Washington. Ela nunca teve qualquer relação com o citado hospital, no qual nada do que ela relatou aconteceu. Seu testemunho era falso e ela fora preparada com cuidado e colocada em cena nos mínimos detalhes pelos dirigentes da Hill and Knowlton, uma empresa novaiorquina de relações públicas. Eles instruíram a pequena jovem com zelo – assim como algumas pessoas que deveriam corroborar a sua história – pela simples e boa razão de que essa empresa acabara de assinar um lucrativo contrato de US$ 10 milhões com os kwaitianos para defender a entrada dos Estados Unidos na guerra. A mentira foi descoberta, assim como se descobriu que o Iraque não tinha armas químicas em 2003. Mas não importava, os Estados Unidos já tinham a sua guerra.
E mais uma vez, outra farsa está sendo montada para uma guerra na Síria, conforme estamos assistindo. Milhares de pessoas vão morrer em nome da indústria bélica e dos interesses estratégicos do capitalismo norte-americano. Quantas vezes mais isso vai precisar acontecer até que o mundo perceba que as guerras norte-americanas são sempre baseadas em mentiras?

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