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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sexta-feira, janeiro 29, 2016

Sim, vivemos em uma época de luta de interesses; uma luta de classes camuflada, mas incontestavelmente real.

O Brasil sob ataque…interno!

by biologosocialista
*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Sob a liderança dos executivos (...) os grevistas buscavam enfraquecer a economia e dificultar a vida dos venezuelanos comuns. Eles desativaram a indústria petroleira, os bancos, as lojas, as escolas, os restaurantes, as fábricas. O que não puderam desativar foi interrompido, provocando escassez, filas e sofrimento. A ideia era infligir uma dor nacional e transformá-la em fúria direcionada contra o governo [de Chávez]”.
Esse parágrafo foi tirado do livro “Comandante – a Venezuela de Hugo Chávez”, escrito por Rory Carroll. Quando li o mesmo, poderia jurar que estava lendo a descrição da atual situação vivida no Brasil: um país forte, mas que é atrapalhado pela oposição do “quanto pior, melhor”. Tal como a história da Venezuela, a direita derrotada, inconformada ainda, pouco se importa com o Brasil. Pelo contrário; prefere vê-lo sangrar – como bem disse o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) ao se referir ao governo de Dilma.
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Aloysio Nunes (esquerda), que foi vice na chapa de Aécio Neves, derrotado por Dilma. Crédito: cartamaior.com.br
Nossa grande riqueza – o Pré-Sal – é outra vítima desses oportunistas, que a todo momento tentam promover o caos e a balbúrdia, na tentativa de desvalorização no mercado e perda de capitais pelo país. Fato muito semelhante aconteceu com a Venezuela, principalmente durante a revolução bolivariana de Hugo Chávez. Aí alguém pode falar: “mas a culpa é da Petrobrás, da má administração e da corrupção!”. E eu, com base em opiniões, notícias sérias e palavras de especialistas diria: “Não, não é!”.
É claro que a crise política desencadeou também uma preocupação para com o futuro (promissor!) da estatal – servindo como argumento oportunista dos defensores do “entreguismo da privatização” (caso seja muito jovem, faça uma breve busca sobre os escândalos das privatizações que ocorreram durante as gestões tucanas de FHC, incluindo a Vale, responsável direta pela tragédia das barragens de Mariana. Um ótima sugestão de leitura: “O príncipe da privataria”, de Palmério Dória). No entanto, o que a mídia não fala (omite e até desvirtua) é que a desvalorização do petróleo é um fenômeno global.
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Vende-se o Brasil


Uma breve explicação: com a desaceleração da economia de grandes consumidores, diminuiu-se a demanda do petróleo. A China, por exemplo, uma das maiores consumidores de petróleo, apesar de ter crescido 6,9% no último ano, teve seu pior resultado desde 1990. Países membros da OPEP, no entanto, em atitude contestável, decidiram não diminuir a produção, o que fez com que “sobrasse” produto no mercado – “lei da oferta e da procura”. E isso, é claro, afetou a Petrobrás...assim como outras empresas petrolíferas do mundo todo. 
E mais uma vez, a culpa é do capitalismo, que a cada dia se prova insustentável, mas segue ditando as regras, “quebrando” nações, escravizando vidas e destruindo famílias.
No mesmo livro, em outro trecho, podemos identificar claramente outro tipo de comportamento comum aos dias de hoje: “Seus inimigos criaram mitos e fábulas. (...) Ele estava sob ataque porque os Estados Unidos queriam o petróleo e desejavam silenciar um contestador ideológico. Assim, fomentavam uma campanha na mídia para demonizá-lo. É um novo tipo de guerra”.
A referência a Hugo Chávez, mas nos remete a caçada implacável para tentar envolver o ex-presidente Lula, com amplo apoio da mídia hegemônica financiada por interesses imperialistas, em atitudes ilícitas. Tais semelhanças ocorrem porque em ambos os casos, as grandes corporações e empresas capitalistas não foram o foco central desses governos. Ao invés de optarem por enriquecer ainda mais os ricos, aumentando cada vez mais a desigualdade social, concentrando a renda nas mãos de uma minoria, Chávez e Lula olharam para o outro lado: o povo.
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Lula e Hugo Chávez. Crédito: gazetadopovo.com.br
Com políticas progressistas, assistencialistas e humanas, a pobreza foi reduzida, as classes inferiores tiveram ascensão, e isso incomodou – e ainda incomoda. Sob pretextos estapafúrdios – e até mentiras – tentam o golpe contra a democracia, uma vez que estão vendo melhorias para aqueles que não desejam. E tudo o que mais querem é lucrar acima de qualquer coisa.
Sim, vivemos em uma época de luta de interesses; uma luta de classes camuflada, mas incontestavelmente real. De um lado, uma direita arrogante, golpista e desumana armando-se de todas as formas possíveis para impedir maiores avanços. Do outro, o povo, ainda atordoado perante tais ataques, sem saber ao certo o que está acontecendo e sendo atingido, ao mesmo tempo, por notícias deturpadas, armadas e falácias, que tentam subvertê-los. E ao contrário do que tentam argumentar, uma disputa causada pelos opressores, e não pelos oprimidos!
O momento é de defendermos a verdade e as conquistas, exigindo sim o combate à corrupção – que por sinal, só agora está sendo feita seriamente, sem que “engavetadores” da República tenham a incumbência de impedir tais investigações, como foi a marca do período tucano.
A situação exige postura e posicionamento perante a iminência do rompimento do Estado Democrático. Chega de sucumbimos aos interesses estrangeiros, às falácias e políticas que prejudicam a grande parte da população. O Brasil é maior que tudo isso. Basta de tanta mentira!
Em tempo: recentemente (novembro de 2015), o grupo Bandeirantes fez uma série de reportagens especiais sobre a Venezuela para o “Jornal da Band”, com o infeliz título “Venezuela no fundo do poço”. Fugindo da imparcialidade, as matérias mostraram-se totalmente tendenciosas e direcionada para o registro apenas dos aspectos negativos, na tentativa de desqualificar e degradar o movimento bolivariano, que hoje sucumbe sob Nícolas Maduro. Curiosamente, essas reportagens foram exibidas durante o último Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
*Biólogo, Professor, Mestre em Ciências, Doutor em Etologia.

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