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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

domingo, janeiro 03, 2016

O Brasileiro do Ano. Por Paulo Nogueira



Postado em 30 dez 2015
Combatendo o bom combate
Combatendo o bom combate
Num ano particularmente duro para os defensores da democracia e dos direitos das minorias, Jean Wyllys foi uma fonte de alento e de esperança.
É o chamado exército de um homem só, tal seu vigor ao combater o bom combate, para usar uma expressão consagrada de São Paulo.
Wyllys se movimenta em duas grandes frente. A primeira, e mais importante, é a Câmara dos Deputados. A outra são as redes sociais, nas quais é um mestre.
Na Câmara, ele é um contraponto precioso a deputados que, liderados por Eduardo Cunha, fizeram de lá um descarado comércio de medidas favoráveis à plutocracia.
Adicionalmente, por artimanhas frequentemente indecentes, a tropa de Cunha esteve por trás de medidas que representam o atraso do atraso do ponto de vista social, como a redução da maioridade penal, a manutenção do financiamento privado de campanhas e o assalto a direitos trabalhistas pela terceirização.
Contra tudo isso Jean Wyllys ergueu sua voz na Câmara, e a estendeu incessantemente nas redes sociais.
Foi épica sua reação a um deputado símbolo de um Congresso deplorável, João Rodrigues. Numa discordância, Rodrigues xingou Wyllys de “escória”.
Recebeu, na hora, o justo troco. Wyllys o chamou de fascista, lembrou uma condenação de Rodrigues por apropriação de dinheiro público, evocou um episódio em que o desafeto foi pilhado vendo filme pornô no plenário e avisou: “Não vão me intimidar.”
O vídeo deste confronto entre o progresso e o retrocesso viralizou nas redes sociais, e foi um dos raros momentos de beleza em 2015 numa Câmara monstruosamente feia do ponto de vista moral.
No ano, Jean Wyllys soube também tomar partido quando ficou claro que havia um grupo interessado num golpe para desalojar Dilma.
Muitos de seus pares no PSOL demoraram a perceber o que estava acontecendo, e com isso ajudaram os golpistas.
Ele não. Desde o primeiro momento se postou como um defensor não de Dilma, não do PT, mas da democracia e de 54 milhões de votos.
Deixou claro – talvez mais até do que o necessário – suas críticas à segunda gestão de Dilma. Mas desmarcarou o golpe em curso: mais uma vez, como de hábito, a plutocracia se mexia, e se mexe, para tirar do poder uma administração popular.
Aconteceu com Getúlio, aconteceu com Jango, quase aconteceu com Lula e agora pode acontecer com Dilma. Jean Wyllys enxergou isso imediatamente.
Num país tão injusto socialmente, pessoas como fazem muita diferença. Excluídos e minorias de toda sorte – negros, índios, mulheres, homossexuais, transexuais – têm nele um defensor infatigável.
No annus horribilis de 2015, quando a direita ultrapassou todos os limites da civilidade, Jean Wyllys avultou como um personagem nacional.
Ninguém como ele encarnou tão bem as causas progressistas. O que Eduardo Cunha tem de negativo Jean Wyllys tem de positivo.
E é por isso que ele é o Brasileiro do Ano.
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