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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, maio 06, 2010

“O Brasil ocupa um lugar no cenário global que não pode ser ignorado”




“O Brasil ocupa um lugar no cenário global que não pode ser ignorado”, diz embaixador norteamericano Thomas Shannon

Para EUA, Brasil é canal confiável


Embaixador americano elogia atuação do país nas negociações sobre programa nuclear
José Meirelles Passos – O GLOBO

A antiga parceria entre os Estados Unidos e o Brasil entrou, agora, numa nova etapa, afirmou ontem o embaixador americano no país, Thomas Shannon. Segundo ele, as relações bilaterais deram lugar a uma relação global, com os dois países agindo em conjunto na busca de objetivos em outras nações. Por esse motivo, a tentativa brasileira de convencer o Irã a um diálogo transparente, com relação ao seu programa nuclear, seria uma iniciativa bem-vinda.

Segundo ele, os EUA já reconheceram que o Brasil deixou de ser uma potência emergente.

— Ela já emergiu — afirmou Shannon, em visita ao GLOBO. — O Brasil ocupa agora um lugar no cenário global que não pode ser negado ou mesmo ignorado.

Esse fato transformou as relações entre os EUA e o Brasil de uma forma fundamental — disse ele, acrescentando que tal parceria deve estar baseada em fatos, porque “já vivemos num mundo pós-ideologia”, em que ideologia e retórica “não são mais as ferramentas adequadas para compreender a realidade do mundo em que vivemos, muito menos para definir nosso compromisso ou nossa cooperação”.

O fato de o Brasil se apresentar como interlocutor na questão nuclear iraniana, continuou Shannon, exemplifica esse novo momento, com o governo brasileiro navegando num circuito que atualmente está fechado ao americano: — O importante em qualquer negociação é ter canais de comunicação confiáveis. O Irã tem dificuldades em se comunicar com o resto do mundo.

Nesse sentido, tanto o Brasil quanto a Turquia fazem um papel importante.

Nossa esperança é que essa iniciativa tenha êxito. Somos céticos, não com o Brasil ou a Turquia, mas com o Irã. Mas vamos continuar conversando com o Brasil sobre isso, para ver se será possível produzir um resultado que seja bom para o Irã e para o mundo.

Antes da visita ao jornal, Shannon fez uma palestra no Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), na qual comentou que o engajamento dos EUA com o Brasil “em iniciativas novas e inovadoras”, tanto de forma bilateral quando global, às vezes é testado “pela nossa capacidade de entender e responder um ao outro”. E justificou: — Intimidade, em qualquer relacionamento, não representa ausência de questionamentos. Significa uma percepção ou compreensão mútua que se sobrepõe às diferenças. A maneira com a qual lidamos com as diferenças é importante, mas o mais importante é como nossas parcerias são construídas.

Segundo Shannon, tem havido mudanças fundamentais que “valorizam a qualidade, a constância, a abrangência e a diversidade do nosso diálogo”. Ele lembrou que já houve períodos de engajamento e cooperação intensos seguidos de períodos de afastamento e desatenção, como resultado de mudanças de prioridades e de desafios em outras partes do mundo “que desviavam a atenção”.

Isso mudou: — No cenário atual não podemos mais permitir que nossas relações fiquem estagnadas — esclareceu, ponderando a seguir: — Nós sempre estaremos nos ajustando a novos desafios, e nossa confiança mútua crescerá enquanto desenvolvemos maneiras práticas e efetivas para responder aos desafios especiais do século XXI.

Shannon disse que nessa nova etapa de relacionamento prefere não utilizar a palavra “estratégica” para definir a parceria Brasil-EUA: — O problema com essa palavra é que todo mundo a usa para descrever suas relações. E muitas vezes ela serve para esconder a pobreza de uma relação — comentou o embaixador.


P.S.Hoje aniversário de Karl Marx na foto com a esposa
e na outra foto O homem que marcha I, de Giacometti

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