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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, agosto 09, 2010

Fique esperto...


Que palhaçada, héin!!! Acabei de tomar um susto porque não sabia onde tinha colocado meu título de eleitor. Há vários pleitos que voto somente com minha identidade e estava achando muito bom. O Tribunal Superior Eleitoral está cometendo mais uma grande irresponsabilidade ao impor, quase em cima do pleito, e sem a devida propaganda, a exigência de dois documentos, o título do eleitor e a carteira de identidade, na hora da votação.

Esse tipo de mudança onera o eleitor, sobretudo o mais pobre, que estava muito satisfeito de poder votar somente com sua identidade ou carteira de trabalho.

O presidente do Ibope, Carlos Montenegro, deu entrevista ao Merval Pereira dizendo que isso pode prejudicar muito Dilma Rousseff, por tirar votos dos mais pobres. Merval e Montenegro, naturalmente, nem se preocuparam com o óbvio: a medida não prejudica Dilma, prejudica os pobres. Além do mais, Montenegro, achando-se muito inteligente e cínico, disse outra estupidez inominável, porque os pobres também votam em Serra. Se os tucanos desistiram dos votos dos pobres, então eles já penduraram as chuteiras.

Esta medida é uma sabotagem à democracia.

Nos últimos anos, o TSE tem se comportado de forma absurdamente irresponsável, mudando regras para lá e para cá, como se a democracia brasileira fosse um ioiô.

A lei que obriga a levar dois documentos consta da minirreforma de 2009, ou seja, é recente demais para valer para as eleições deste ano. Deveria valer somente para 2012 ou 2014, para que o Estado tenha tempo de fazer a necessária publicidade. Antes disso, representará um armadilha eleitoral com cheiro de golpe.

Esperemos que os partidos se manifestem. Quero ver os tucanos terem o cinismo de defender uma lei que pode prejudicar o direito de milhões de brasileiros de exercerem o soberano direito do voto.

Não vejo nenhuma racionalidade em exigir dois documentos. Mas se fosse realmente necessária, teria que ser feito uma campanha na televisão com, no mínimo, dois anos de antecedência, com participação da sociedade civil, imprensa, OAB, canais de TV, Ana Maria Braga, Silvio Santos, novela das oito, todo mundo explicando sobre a mudança. E o poder público deveria dar gratuitamente um dos documentos para os mais pobres.
dogrupobeatrice

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