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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 10, 2010

Não havendo limites será o fim







Planeta e Humanidade



Alguns pontos para pensarmos de Einstein, nosso primeiro cientista-ambientalista da Terra:

“A ciência sem a religião é paralítica, e a religião sem a ciência é cega."

“O maior sintoma de loucura dos tempos atuais é querer fazer sempre as mesmas coisas esperando resultados diferentes.”

“Se as abelhas sumirem, os animais irão sumir e com eles os homens, em quatro anos.”

Todos os cientistas com visão sistêmica tornaram-se profundos admiradores da natureza e do planeta, os físicos principalmente, é através da física que se derruba toda a teoria econômica tradicional (isso dá outro email, mas vamos ver o impacto deste). Os físicos satirizam a visão dos economistas e avisam: “Caros irmãos, tudo a sua volta é matéria e energia, matéria e energia se combinam o tempo todo e para ter mais matéria e energia é preciso mais matéria e energia. O ser humano não produz nenhum dos dois. Portanto, na sua teoria de crescimento, onde vocês prevêem perfeita substituição dos bens da natureza, quando o homem um dia será capaz de produzir outros fatores materiais que não os da natureza, vocês tentam revogar várias leis básicas da física, pois tudo, mesmo com tecnologia, vem da natureza. Isso é um absurdo, porque como vocês sabem a sua pseudo-ciência é uma irmã siamesa da física.” Mais de 1.600 cientistas, 170 prêmios Nobel assinaram um alerta para a humanidade com base nas questões que teimosamente ignorávamos.

Sobre tecnologia, um bom exemplo é alguém estar na sua sala de casa, jogar um balde de lama nela e imediatamente uma máquina limpa a sujeira. O melhor seria não ter jogado o balde de lama na sala? Emito gás carbônico na nossa finíssima atmosfera e imediatamente pensamos em recapturá-lo. Não seria melhor a princípio não emiti-lo? Os danos do gás carbônico não são apenas os sistêmicos, como o aquecimento global, são locais também. A tecnologia pode ajudar e muito, mas a tecnologia não remove a finitude da Terra e não temos, como Nicholas Georgescu-Roegen aponta em seus livros, um problema só de energia, mas principalmente de matéria, afinal energia é usada para construir, movimentar carros e equipamentos e nada disso é colocado em cima de uma copa de árvore intacta. A tecnologia ao invés de evitar problemas, soluciona problemas que antes deveria ter evitado. Esse erro é reforçado pelas métricas econômicas que só trabalham com fluxos (para que olhar estoques se o planeta é inesgotável), com quocientes (de poluição ou consumo de recursos por exemplo), através do qual uma árvore só tem valor quando derrubada ao chão. No fundo, Aristóteles dá uma boa razão para tudo isso: “Quando nossos interesses estão em foco, somos os piores juízes das nossas ações.”

Na agricultura, segundo Lester Brown do Earth Policy Institute, estamos mais próximos dos atrasos ecológicos gerados nos últimos 100 anos e é um excelente exemplo do risco que contratamos para o futuro (mesmo sem mudança climática, apenas por uma questão quantitativa, como fim de recurso hídrico cuja extração foi maior que a sua reposição natural tanto na China quanto nos Estados Unidos). A produção mundial de grãos já está enfrentando declínio em relação a 2000 e um declínio pelos atrasos ecológicos é inevitável – converter a Amazônia em monocultura não será uma boa saída, ao que tudo indica. Não há tecnologia substituta da água, apenas de redução do seu consumo relativo, mas o consumo absoluto de água e de tudo sempre cresceu, sem observar que o estoque de água na Terra é finito. Tudo isso ignora que os ecossistemas e a biodiversidade não estão aí apenas para serem comidos, são reguladores químicos e regeneradores do solo, do ar, da água através de 20 serviços ecológicos que estão todos eles em colapso, de acordo com o primeiro esforço humano de avaliar a situação ecossistêmica do Millenium Ecossystem Assessment. A revisão desse estudo em 2008 nasceu com o título “Civilization Collapse”.

Sobre as derrapadas dos cientistas, ela é uma pena em um universo muito maior de pesquisa séria, conforme mostra George Monbiot em sua análise. IPCC recebeu Prêmio Nobel não por outra razão exceto pelo grau de acerto de todas as suas previsões de horizonte temporal curto dos últimos 10 anos. Os seus méritos são reconhecidos até pelos seus opositores. IPCC nunca disse saber qual é o futuro, ele próprio trabalha com vários cenários num horizonte temporal maior e o mais importante não é saber qual vai ser o cenário, mas avaliar os riscos dentro de um princípio de precaução. A ciência sabe que há determinadas rupturas de captura de carbono ou de ciclos atmosféricos ou oceânicos que se deflagrados, a vida na Terra será inviável, a ponto do cientista Martin Rees já ter declarado que a possibilidade da humanidade chegar no século XXI é pequena. A negação é um processo recorrente, os fabricantes de cigarro apresentavam estudos médicos que alegavam que o fumo fazia bem à saúde. Quando foi estabelecida a relação de causalidade entre o buraco da camada de ozônio e o CFC, a maior produtora mundial fez um lobby de 15 anos para evitar seu banimento. Os regimes tiranos comunistas todos eles se auto-declaravam democráticos, da mesma forma que todas as empresas, até as de cigarro, se declaram socioambientalmente sustentáveis. No caso do ozônio, estava em jogo a sobrevivência da vida na Terra, pois sem a sua proteção, o DNA é lentamente destruído. O mesmo pode estar acontecendo com um imenso lobby de petróleo e indústrias derivadas que nos fez fazer uso de automóveis cuja eficiência energética é de apenas 1% e se esse desperdício fosse removido, poderíamos evitar a construção de 20 usinas Belo Monte. Ninguém morreria feliz com isso, com certeza. A morte sistêmica, coletiva, diferente da individual, é um horror que já aconteceu várias vezes na humanidade.

Os 20 serviços ecológicos que sustentam a vida na Terra são irreproduzíveis e são preocupações muito materiais e maiores que a do aquecimento global. Mais preocupante é a evidência da maior extinção em massa da vida na Terra dos últimos 65 milhões de anos, ocorrida em décadas e causada pelo homem, e é muita ingenuidade, como escreveu Stephen Jay Gould, achar que essa extinção jamais irá se voltar contra os causadores. Aqui na Terra todos os seres vivos dependem de todos os seres vivos, se as plantas e animais sumissem, a água sumiria junto. Mas ainda sobre o aquecimento global, o gás carbônico emitido em quantidades diárias estratosféricas na finíssima atmosfera da Terra vem de um material do subsolo que estava lá há milhões de anos e, portanto, não há ciclo regenerativo para ele, não tem como ser limpo ou reciclado pelo planeta, é uma poluição em definitivo com danos na saúde de todos e é apenas um item de vários que a humanidade optou para manter sua rota de colisão com a Terra (outros materiais tem o mesmo destino, como metais, compostos químicos, etc. também não possuem mecanismos de regeneração e é aí que a tecnologia deveria introduzir um ciclo fechado, do berço ao berço e não do berço ao túmulo, mas sempre, com o reconhecimento dos limites da Terra). Mesmo quem não acredita em aquecimento global deveria ficar horrorizado em amanhecer em cidades com céus marrons onde muitos bebês são forçados a mudar para o interior por problemas respiratórios.

Sobre Malthus, ele é erradamente citado em várias vertentes no qual a tecnologia seria capaz até de produzir um novo planeta (é o que será preciso em algumas décadas se continuarmos com essa visão de mundo). A tecnologia que trouxe a explosão de alimentos ignorava a finitude da Terra e as vinculações ecológicas da mesma forma que Malthus. Ele não estava preocupado com o crescimento da população, como todo mundo acredita, mas com o crescimento dos alimentos. A seu tempo, se algum de nós voltasse ao passado, e o avisasse que a produção de alimentos iria crescer exponencialmente no futuro, ele teria dito: “Salvos! Não há problema algum então a humanidade crescer infinitamente, exponencialmente, como de fato cresceu.” O erro de Malthus é o mesmo erro que a nossa civilização – como a de Páscoa – comete: não há limite para nossa expansão sem limites. Será? A Terra, um sistema fechado e finito, é afinal um subsistema da economia-humana ou a economia-humana é um subsistema da Terra? Se o sistema dominante é finito, porque o subsistema que se instalou nas suas entranhas acredita ser infinito? Provavelmente porque raciocina igual a um vírus, que avança sem se importar em matar seu hospedeiro. No nosso caso, nós só temos um hospedeiro.

Hugo Penteado

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