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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, agosto 10, 2010

Uai, oxente, Serra só entende o “paulistês”!

O candidato José Serra vem enfrentando grande dificuldade de fazer campanha pelo país, pois fora de São Paulo o tucano é um estrangeiro e não entende os diferentes acentos e maneirismos do povo brasileiro. Serra só entende mesmo o “paulistês”, principalmente aquele falado pelos empresários, que soa como música a seus ouvidos.

Serra não entende o português falado em Goiás, Pernambuco e Minas Gerais, como conta a repórter Juliana Cipriani, do Estado de Minas, uma das vítimas do elitismo do candidato tucano. Cipriani se dirigiu por três vezes a José Serra lhe perguntando sobre uma declaração de Lula, na entrevista do presidente a Isto É, na qual disse que o tucano deu azar ao ser candidato contra ele, em 2002, e contra Dilma, agora.

É lógico que Serra não gostou da pergunta, mas para não respondê-la usou um recurso que vem se repetindo em vários estados. “Essa fala mineira de vocês eu não entendo. Eu tenho que prestar atenção”, disse Serra, deixando o local sem responder à repórter, como relata o blog da Bertha, da jornalista dos Diários Associados, Bertha Maakaroun.

Juliana Cipriani conta que Serra já tinha escapado de uma pergunta em Goiânia, quando um repórter local o indagou sobre propostas para o estado. “Temos três problemas: estou longe (da imprensa), não estou te ouvindo direito e não estou entendendo o seu sotaque”, disse Serra para evitar a resposta, que neste caso nem lhe seria embaraçosa.

Antes ainda, em Pernambuco, numa pergunta que lhe era favorável, já que é crítico do projeto, Serra não respondeu ao editor de um jornal regional que queria saber se ele considerava o trem-bala um “tiro de festim”. “Dá para repetir? Não entendi, foi muito sotaque daqui”, replicou Serra, numa expressão que revela todo o seu preconceito, principalmente pelos nordestinos, que para ele é aquela gente que invade São Paulo e para a qual ele até paga para que retornem a seu lugar de origem.

Tiro de festim não é nenhuma expressão nordestina e qualquer pessoa é capaz de entender. O que Serra revela mesmo é desprezo pelo povo brasileiro e suas diferentes falas, que fazem nossa riqueza cultural. Revela também ser avesso à imprensa, principalmente aquela que não lhe bajula e está disposta a praticar jornalismo de verdade.

Vamos ver se não vai entender William Bonner e Fátima Bernardes quando for entrevistado amanhã, no Jornal Nacional, onde se espera que seja inquirido com a mesma severidade destinada à Dilma Rousseff.

dotijolaço


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