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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, dezembro 01, 2010

Os Pigs, ainda eles: Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha. E depois?

Os Pigs, ainda eles: Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha.
E depois?

Dado como certo o afundamento de Portugal, é a vez dum obstáculo bem maior: Espanha. Nenhum dos Países até agora falidos (e utilizamos o termo correcto, ora essa) pode ser comparado com a "bolha" de Madrid.

Mas com os "hermanos" espanhóis acabam os Pjgs e os sofrimentos da União Europeia?
Nem por isso. Já é possível vislumbrar um post-Pigs aterrador.

E não são fantasias de blogueiros à procura de notícias bombásticas.

Deven Sharma, presidente da Standard & Poor´s:
Nesta altura a França merece o rating AAA
A França? Mas quem falou na França?

Baroin, porta-voz do presidente Sarkozy:
Nenhum risco de downgrade para a França.
Yahoo Notícias:
A França não está ameaçada pelos mercados financeiros e no plano económico não é possível compara-la à Irlanda. É quanto afirmado pelo ministro das finanças francês, Lagarde.

Ok, ok, já percebemos. Mas porque todas estas negações? Até agora ninguém tinha falado de Paris.
Até agora.

Um passo atrás, até ontem. Blog de Paul Kedrosky:
Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal (GISP), são pequenos em termos de PIB em relação à Alemanha e França.
Mas os seus sistemas bancários cresceram até ficar muito grande (por exemplo, um "corte de cabelo" de 20% sobre a exposição do banco francês para os Países PIGS varreria o capital do banco francês).
"Corte de cabelo"? Ok, não interessa por enquanto: o sumo do discurso é que os bancos franceses (mas não só!) resultam fortemente expostos perante os sistema bancários dos Países sem risco.
Quando se fala de Pigs, muitas vezes é esquecido este pormenor: os institutos bancários são todos interligados.

Eis explicado o porque desta "generosidade" nos resgates de Países como Grécia ou Irlanda; eis explicadas as pressões (negadas, por enquanto) para que Portugal aceite o plano de salvamento do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional.

Nada de espírito altruísta, mas medo para a posição dos próprios bancos.

Dúvidas? Então vamos com alguns dados.

Vamos ver quais bancos são mais expostos à dívida dos Pigs, em ordem decrescente (o primeiro é o mais exposto):

1 National Bank of Greece (Grécia)
2 EFG EuroBank (Grécia)
3 Alpha Bank (Grécia)
4 Bank of Ireland (Irlanda)
5 Dexia (Bélgica-França)
6 Commerzbank (Alemanha)
7 Societe Generale (França)
8 BNP Paribas (França)
9 RBS (Escócia)
10 Banco Santander (Espanha)
11 Credit Agricole (França)
12 Banco Pastor (Espanha)
13 Intesa SanPaolo (Italia)
14 Banco Popular (Espanha)
15 BBVA (Espanha)
16 Barclays (Espanha)
17 UniCredit (Italia)
18 HSBC (Inglaterra)
19 Nordea (Suécia)
20 Banco de Sabadell (Espanha)

Quatro bancos franceses na parte alta da classificação, dos quais um (BNP Paribas) é o maior do mundo e fica em oitava posição. Todos podem ver o próprio lucro reduzir-se até desvanecer caso algo corra mal.

Nada mal também a Alemanha que com a Commerzbank ocupa o sétimo lugar.

Quanto aos restantes bancos: os gregos e o irlandês na prática estão falidos e sobrevivem só graças às ajudas financeiras. Os últimos 5 bancos, os menos expostos, pelo contrario não estão em risco.

Resumindo: deixar falir um dos Pigs não é viável. Não porque seja impossível mas porque os bancos perderiam demasiado.

Alguma vez ouviram falar de bancos que perdem dinheiro?

Ipse dixit.
*InformIncor

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