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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quinta-feira, agosto 04, 2011

Jobim, um agente provocador no Governo

Não há perigo algum na cena: mesmo uma sucuri não conseguiria engolir o ego do Ministro Nélson Jobim
O ministro Nélson Jobim é a prova viva que estatura física e estatura moral não guardam proporção. É evidente para qualquer um que se tornou, hoje, um agente provocador incrustrado dentro do governo.
Toda semana, aponta o chafariz de sua vaidade na direção na direção de alguém, a quem tenta constranger. Agora, em entrevista à revista Piauí, segundo a Folha, foram as ministras Ideli Salvati – “muito fraquinha” – e Gleisi Hoffmann – “nem conhece Brasilia” – que receberam os respingos da grosseria de Jobim, que parece ter perdido nos tempos em que era gaúcho a fidalguia que é tão cara àquele povo.
Mas está evidente que se o Sr. Jobim é tudo o que sabemos e já se disse dele, há algo mais importante: tornou-se deliberadamente um sabotador dentro do Governo, está testando e provocando a autoridade de sua chefe, a Presidenta Dilma Roussef e, sobretudo, passou a ser um homem de comportamento absolutamente incompatível com a chefia do Ministério da Defesa e a coordenação de nossas Forças Armadas.
Explico: pode ser um padrão moral para os chefes militares ter um Ministro da Defesa que se dedica à arte – tosca, em seu caso – da provocação, da insubordinação a seus superiores hierárquicos e da incontinência verbal? O sr. Jobim é de um tempo em que o Direito se servia do latim o suficiente para saber o significado da expressão exempla trahunt, os exemplos arrastam. Para onde arrasta o exemplo de comportamento que o Ministro dá aos chefes militares?
Jobim está, nitidamente, provocando a Presidenta. Embora diga o contrário, quer ser exonerado e construir, assim, uma situação que lhe permita atacar o Governo. Se, como Ministro, já não guarda o silêncio obsequioso que a função de Estado o obriga, como ex-ministro, porém ainda “super-homem” e “resumo” dos três Poderes da República, pretende ser o centro de uma crise política.
A Presidenta sabe disso e deixa assar, o quanto é possível, a batata de de Jobim na fogueira de sua própria vaidade. Mas suspeito que a “fraquinha” Ideli Salvati e a “desorientada” Gleisi Hoffmann saberão achar a força e o caminho para dar ao senhor Nélson Jobim uma pequena  resposta – política, porque a de antigamente, que deixaria a face rubra, agora é politicamente incorreta – merecida, e já.
A outra, bem maior, Dilma dará no tempo certo. E não demora.
*Tijolaço

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