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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

sábado, outubro 15, 2011

Lula diz que FMI enfrenta crise mundial com 'silêncio profundo'

Lula diz que FMI enfrenta crise mundial com 'silêncio profundo'

Ele criticou atuação do fundo na solução da crise financeira internacional.
Ex-presidente discursou na cerimônia dos premiados no World Food Prize.

Lula (Foto: Lula fala nos EUA em conferência sobre políticas públicas de segurança alimentar. Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula) 

Lula em discurso proferido, nesta sexta-feira (14),
nos EUA (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta sexta-feira (14), nos Estados Unidos, a atuação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e dos países desenvolvidos na solução da atual crise financeira internacional.
“O FMI tinha solução para tudo quando a crise era na Bolívia, no Brasil, no México. Quando a crise chega aos países ricos o FMI se cala, entrou num silêncio profundo. O BID, então, não fala mais nada”, criticou Lula.
Lula disse que as nações desenvolvidas precisam seguir o exemplo do Brasil no combate à crise mundial e  de que não tem nada mais “fácil e barato no mundo do que cuidar dos pobres, o que é duro é cuidar dos ricos”.
Para ele a distribuição de renda permite que os pobres possam consumir e, com isso, faz com que a economia possa girar, gerando emprego e renda para os mais ricos.

“Uma família pobre com US$ 100 resolve seu problema por um mês. Para o rico, você empresta US$ 1 bilhão e [eles] ainda saem do seu gabinete falando mal do governo. [...] Tudo relacionado ao pobre é gasto, aumento do salário mínimo é gasto, transferência de renda é gasto. Emprestar para o rico é investimento. Nós mudamos isso, emprestar para pobre também é investimento”, ressaltou.
O ex-presidente foi um dos agraciados, nesta quinta (13), com o prêmio World Food Prize nos Estados Unidos. A premiação foi criada em 1970 para prestigiar personalidades que contribuíram para a diminuição da fome no mundo. Após recebê-lo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a fome é "a maior arma de destruição em massa que a humanidade já inventou" e que os governantes, em vez de guerras, devem "lutar pela vida, não pela morte".
Nesta sexta, a presidente Dilma Rousseff também criticou o FMI. Ela afirmou, porém, que o Brasil poderá aumentar sua participação no fundo. Segundo ela, como país credor, O Brasil não aceitará que sejam impostas a outras nações condições semelhantes a que a entidade impôs ao Brasil nas décadas passadas.
"Hoje nós temos recursos aplicados no Fundo Monetário, possivelmente, inclusive, nós iremos ter uma maior participação. Agora, jamais aceitaramos como participantes do Fundo Monetário certos critérios que nos impuseram sejam impostos a outros países", disse, durante cerimônia de assinatura do do plano Brasil sem Miséria com os governadores da região Sul, em Porto Alegre.
Na quinta, a presidente já havia criticado o FMI. Ela comparou a crise da dívida soberana, iniciada na década de 1980, com a atual crise econômica nos países ricos e reafirmou a necessidade de conjugar investimento e inclusão social. Disse, porém, que "parece que não há um empenho, uma convicção política uniforme de como lidar com essa crise" por parte dos países ricos.

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