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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, outubro 11, 2011

O alicate americano

A política americana vai evidenciando que a reeleição do presidente Barack Obama vai se tornando vítima de uma espécie de alicate.
De um lado, os republicanos – como um todo, e não apenas o Tea Party – invocando a “grandeza perdida” dos Estados Unidos, como ficou claro no discurso de Mitt Rommey, semana passada. Não foi casual, certamente, mas ancorado em avaliações de pesquisa e não em algum sermão dominical.
De outro, o crescente movimento de insatisfação dos jovens e do do que se poderia chamar de esquerda americana.
Há quatro anos, na campanha que elegeu Obama, este grupo era seu maior promotor, enquanto aquele, arruinado pelo melancólico fim da Era Bush, apenas gaguejava ou mostrava seu lado folclórico com a “Mulher-Maravilha” Sara Palin.
Esta madrugada, mais cem pessoas foram presas, agora em Boston, em mais um dos protestos que se espalham nos EUA.
O levantamento de aprovação desaprovação realizado pelo Instituto Gallup registrou, semana passada, o menor índice de aprovação ao atual presidente em todo os seus quase mil dias de mandato: 38%. Na primeira semana de outubro, a pesquisa registrou 40% de aprovação e 53% de reprovação. A esta altura do mandato, entre os presidentes americanos das últimas décadas, só Jimmy Carter tinha índices neste patamar. O próprio George W. Bush só chegaria a amargar seus parcos 29% de aprovação lá pelo segundo trimestre de seu último ano.
Os espaços estão se fechando. Até mesmo um pré-candidato negro os republicanos arranjaram: Herman Cain, um empresário de Atlanta, na Georgia, que aparece bem nas pesquisas internas do partido.
Obama precisa desesperadamente do que parece ser mais difícil: uma rápida recuperação da economia.
*Tijolaço

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