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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 30, 2012

Droga Mata!



Publicado em 29/05/2012 por Mário Augusto Jakobskind*
A revista Veja, pouco confiável por ser useira e vezeira em editar matérias que não se sustentam, desta vez fez alarde com uma acusação do Ministro Gilmar Mendes, segunda a qual o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva teria lhe proposto o adiamento do julgamento do chamado mensalão. 
O encontro entre Mendes e Lula, no escritório de Nelson Jobim, ocorreu há um mês e só agora o ministro revelou o suposto pedido. O adiamento proposto por Lula, ainda segundo a revista Veja, se daria em troca do silêncio da Comissão Parlamentar de Inquérito mista sobre Cachoeira  em relação ao próprio ministro, que se encontrou com o senador Demóstenes Torres em Berlim.
Há denúncias de que Cachoeira de lama pagou as passagens e estadas tanto de Mendes como do senador que ditava regra sobre moralidade e por debaixo do pano fazia o jogo sujo de Carlos Cachoeira de lama. Mendes garante que ele mesmo custeou a viagem e volta e meia vai a Berlim visitar a filha, que la reside.
Se o Ministro puder provar que pagou a passagem daquela vez (ninguém pediu), afinal a denúncia é grave, encerraria de uma vez por todas com a dúvida. Por enquanto vale apenas a palavra de Mendes, considerada bastante questionável.   
A notícia divulgada pela Veja, como sempre acontece, foi repercutida na Folha de S. Paulo, em O Globo e no Jornal Nacional. Lula negou que tenha feito a proposta. 
A matéria da revista Veja com a denúncia de Mendes deve ser encarada com reserva e se for melhor analisada não se sustenta. Por que Lula faria o pedido quando a mídia de um modo geral está em cima dos ministros do STF exatamente para apressar o julgamento do mensalão? Com a experiência que tem como ex-presidente por que ele se exporia dessa forma tão grosseira?  
Jobim também desmentiu a matéria da revista Veja, uma publicação sob suspeita de prática de baixo jornalismo. O esquema é conhecido. Os repórteres saem em campo já com a pauta determinada e dirigida para chegar a uma conclusão. Seja o que for falado por alguém alvo dos Civitas, a matéria conclusiva está pronta antes mesmo de ser elaborada. Os inimigos não serão poupados.
Desta vez, Gilmar Mendes se superou. Ele já esteve envolvido em outras matérias no mínimo  discutíveis, uma delas a de ter concedido habeas corpus a Daniel Dantas e na tentativa de desmoralizar o então delegado Protógenes Queiroz, que conduzia o inquérito contra o referido banqueiro acima de qualquer suspeita.
Se Lula tivesse mesmo feito o pedido seria uma demonstração de incompetência política, algo que até seus inimigos admitem que não corresponde aos fatos. Seria até um expediente prejudicial aos próprios implicados no mensalão que está para ser julgados nas próximas semanas. 
Vários Ministros do STF, entre eles Ricardo Lewandovsky, já disseram que nunca foram pressionados por Lula quando ele exercia a Presidência da República.
Seria absolutamente descabido e pouco inteligente, o que não é uma característica de Lula, reconhecido até pelos inimigos como um político hábil e inteligente, que agora sem mandato pressionasse Gilmar Mendes. E uma pressão, diga-se de passagem, prejudicial aos próprios petistas, entre os quais José Dirceu e Jose Genoino, que serão julgados antes das eleições.
Não se exclui a possibilidade de que este novo apronto da sujísima Veja com Mendes tenha se destinado a retirar dos holofotes algumas questões vinculadas à Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso sobre as ligações de Cachoeira de lama com o mundo político e mesmo midiático.
A Veja foi pautada pelo meliante Cachoeira e nestes dias ganhou uma defensora de peso, a Senador Kátia Abreu, agora no PSD de Gilberto Kassab, que escreveu artigo tomando as dores da revista que lhe dá grande acolhida. Usou os mesmos argumentos que outros defensores da publicação, como o imortal Merval Pereira, ou seja, que a convocação de Policarpo Júnior seria um atentado à liberdade de imprensa. 
Quanto ao Prefeito Kassab, a revista IstoÉ e o Ministério Público o acusaram de estar também envolvido em falcatruas, juntamente com um funcionário que recebeu de propina 106 apartamentos ao liberar obras irregulares na capital paulista. Nenhuma linha em O Globo ou na TV do mesmo nome.
A Veja pratica um jornalismo que lhe vale a denominação de sujíssima. Para se ter uma ideia, recentemente um repórter da revista tentou invadir o quarto de um hotel em Brasília onde estava hospedado o ex-ministro José Dirceu para possivelmente espionar alguma material que o incriminasse ou mesmo instalando algum microfone oculto. A camareira impediu que a transgressão acontecesse. Corre até uma investigação policial sobre o fato e o público não vem sendo informado a respeito.
Não se trata de defender José Dirceu, um dos responsáveis pela atual praxis fisiológica do PT em nome da governabilidade, mas de se repudiar uma prática que depõe verdadeiramente contra o jornalismo. E a corrida a qualquer custo para incriminar o ex-ministro Chefe da Casa Civil é sintomática.
Policarpo Júnior, chefe da sucursal da Veja em Brasília, tem culpa no cartório no mencionado episódio. Além disso, foi pautado por uma Cachoeira de lama, como demonstra cristalinamente vídeo apresentado pela TV Record, no ar também no YouTube. O jornalista está sendo blindado para não comparecer na CPMI.
Assim caminha a mídia de mercado. O mais recente apronto da Veja e Gilmar Mendes está realmente inserido no contexto enlameado do baixo jornalismo. E toda vez que se contesta a revista da família Civita, que para muitos forma uma gang, convoca entidades e colunistas para protestar conta o que eles alegam ser perseguição à liberdade de imprensa.
A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) já deve estar de prontidão para qualquer emergência que porventura venha a envolver a sujíssima Veja na CMPI.
Em tempo: depois de na semana passada cancelar a reunião, o Ministro da Justiça, Jose Eduardo Cardozo, voltou a convocar familiares de desaparecidos políticos citados no livro Memórias de uma guerra suja sobre o depoimento do ex-delegado Claudio Guerra revelando, entre outras coisas, a incineração de dez combatentes contra a ditadura em um forno de uma usina de açucar em Campos. 
Mário Augusto Jakobskind* é correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE.



Enviado por Direto da Redação
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