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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

quarta-feira, maio 30, 2012

Roberto Civita, da Veja, também é 'a favor de um certo tipo de regulamentação' das comunicações. Só falta o governo

Outro dia, o ex-presidente FHC defendeu uma regulação da mídia. Agora, inacreditavelmente, o presidente do grupo Abril, que edita Veja, Roberto Civita, foi na mesma direção. Em palestra no V Congresso de Comunicação,  Civita disse:

É preciso haver um equilíbrio nessa questão. Aqui foi dito por diversas vezes que liberdade implica em responsabilidade. Mas não se pode obrigar ninguém a ser responsável. Não temos como ensinar isso. Portanto, sou a favor de um certo tipo de regulamentação.

Sem entrar em detalhes agora sobre a afirmação do dono da Veja (tá, eu não resisto, vou falar só um pouquinho: está certo que "não se pode obrigar ninguém a ser responsável", como ele diz, mas é perfeitamente possível demitir os irresponsáveis, os que constroem matérias que favorecem bandidos,uma revista que - deixa eu voltar ao post...), o que me vem à cabeça é que o grupo de FHC e apoiadores midiáticos, sentindo que uma regulamentação da mídia (que não tem nada a ver com censura) é inevitável, estão tentando fazê-la à sua maneira, lampedusamente:

Se queremos que tudo permaneça como está, temos que mudar tudo.


As palavras de Civita fizeram um contraponto às dos outros dois palestrantes, o presidente do STF, ministro Ayres Britto, e principalmente o presidente do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), Gilberto Leyfert, a favor de uma desregulamentação geral, onde só faltou defender claramente (se é que não o fez, pois não tive acesso à íntegra de sua palestra) a liberação da propaganda do fumo e das bebidas de alto teor alcoólico e de qualquer tipo de remédio, porque, segundo ele, "a liberdade de expressão está sofrendo bullying".

Leyfert é defensor ferrenho da liberdade plena de expressão comercial, na qual a autorregulamentação - e somente ela - puna ou corrija os eventuais abusos. Não é necessário que eu diga que quem julgaria qualquer violação seria o Conselho presidido pelo senhor Leyfert...

Bom, mas fala FHC, fala o presidente da Abril, ambos defendendo uma regulação da mídia, falam os blogueiros no Encontro da Bahia, o PT já tomou uma decisão nesse sentido, mas falta o governo, do sumidão ministro Paulo Bernardo, que parece estar esperando Godot - ou em vez de Godot seria o dotô Marinho?

Alguém avisa pra ele que o dotô já morreu?
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