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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 28, 2012

A sociopata

 

 

O quê? Um outro post? Mas que raio de blog é este? E a bexiga de Voz?
Calma, calma...é o último post de hoje; e à Voz já aconselhei um balde perto do ecrã, em caso de emergências...

É só para realçar as palavras da peruca de Christine Lagarde, fascinante directora do Fundo Monetário Internacional.
A simpática Christine era entrevistada pelo britânico The Guardian quando, num arara altura de sinceridade, afirmava:
É preciso que os Gregos comecem a ajudar-se reciprocamente, pagando as taxas.
Porque é verdade: a melhor forma de ajudar é pagar as taxas. Doutro lado, mesmo neste blog, aparecem muitas pessoas que não querem destinar para os desempregados as sobras dos restaurantes, melhor que fiquem no lixo. Pois este tipo de ajuda humilha, a solidariedade mata a alma das pessoas.

Pagar as taxas, pelo contrário, é vida. Não a vida de todos, mas no caso dos bancos privados sim, sem dúvida. Eu mesmo não consigo imaginar uma ajuda melhor.
Os pais gregos têm que pagar as taxas.
Repetiu mais logo, caso não tivesse ficado claro da primeira vez.
É importante repetir. Desta forma um grego se lavante de manhã e não pode ter dúvidas. "O que tenho que fazer hoje? Ah, pois, tenho que pagar as taxas, óbvio. Mas já paguei ontem...não faz mal, pago outra vez, já que perdi o trabalho e não tenho mais nada para fazer...".

É justo. Os gregos viveram acima das possibilidades nas décadas passadas, tal como Portugal.
Hoje nas ruas de Atenas e Lisboa é só topos de gama, o que é normal dado que os ordenados são os maiores do Velho Continente. É por isso que há milhões de Portugueses emigrados: fartos de ganhar muito, preferem trabalhar no estrangeiro, como no Luxemburgo, onde podem juntar apenas o mínimo para sobreviver.
Penso mais nas crianças duma pequena aldeia do Níger vão para escola duas horas por dia, com uma cadeira para três e que sonham ter uma boa instrução. Penso neles sempre. Porque precisam de mais apoio do que as pessoas de Atenas.
Meus senhores, o raciocínio não tem pontos fracos.
Até quando as crianças de Atenas não tiverem duas horas de escola e uma cadeira partilhada, não pode existir piedade. É por isso que trabalha o FMI e os resultados começam a aparecer.

No Níger, por exemplo, o FMI aprovou empréstimos (não ajudas, que humilham, mas empréstimos mesmo) que hoje constituem a maior fonte de dívida do País: e o País está mergulhado na dívida e na corrupção. Não acaso entre os principais "amigos" do Níger há também o Banco Mundial.
Resultado: 79% do Produto Interno Bruto do País desaparece para pagar as dívidas externas. E isto num País com uma dívida pública particularmente baixa, que nem atinge 20% do PIB.

Não admira que a simpática Lagarde pense nas crianças do Níger: são estes pequenos parasitas que obrigam o governo local a desviar fundos que poderiam ser utilizado de forma bem mais lucrativas, como, por exemplo, numa mais eficiente extracção do urânio, do qual o País é rico.

É tempo de escolher. Não é correcto que alguns sejam obrigados a viver miséria quando outros nem a fome passam: a miséria deve ser global.

O FMI já começou o trabalho, com uma série de empréstimos para a Grécia (e Portugal, sempre na vanguarda). Mas não chega, é a nossa mentalidade que tem de mudar.
O Leitor acha que o seu ordenado é demasiado baixo? Mas sabe quanto ganham no Bangladesh? Não tem um mínimo de vergonha? É este tipo de pensamento que arruína a sociedade: temos que comparar com quem vive abaixo do nosso nível e tentar alcança-los. Esta chama-se solidariedade.

Na Grécia podem dar-se fogo, podem enfiar-se uma bala no cérebro em frente do parlamento, podem atirar-se dos telhados, mas não adianta: não merecem nenhuma piedade.

A simpática Chrisinte tem todo o meu apoio. E paciência se não passa duma sociopata.


Ipse dixit.
*InformaçãoIncorrecta

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