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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

segunda-feira, maio 28, 2012

Internet paralela






Por Murilo Roncolato



Isaac Wilder ligou o Occupy Wall Street ao resto do mundo em 2011. E agora quer conectar todo o planeta em uma rede alternativa

SÃO PAULO – “Facebook? Twitter? Se acham que é possível fazer a revolução usando essas ferramentas privadas de espionagem, estão redondamente enganados.” Isaac Wilder, cofundador da Free Network Foundation (FNF), tem uma proposta diferente para os ciberativistas de plantão. Em vez de lutar contra a censura corporativa e governamental sobre a internet, Wilder propõe a criação de uma outra internet, livre. Em entrevista por e-mail ao Link, ele explicou melhor o que chama de ciberespaço cidadão.


Isaac tem apenas 22 anos, já estudou Ciências da Computação e Filosofia, mas abandonou os dois cursos para se dedicar unicamente ao seu projeto. Após viajar para Cuba e se deparar com a dificuldade de acesso à internet por lá, colocou para si a meta de elaborar uma estrutura de rede que pudesse levar conexão de forma barata e segura para onde houvesse demanda.

Fora do papel, a ideia tomou corpo em forma de uma estrutura física – uma antena de quase três metros, chamada FreedomTower (torre da liberdade), e um dispositivo que funciona como roteador, servidor e armazenador de dados, o FreedomBox. (caixa da liberdade). Quando o movimento Occupy Wall Street ganhou força em 2011, os manifestantes precisavam de conexão segura e rápida, 24 horas, para se comunicar com o mundo. Era a chance de Wilder. Ele aproveitou e obteve sucesso não só em Nova York, mas no Occupy de Austin e Los Angeles.

De infraestrutura para protestos, a antena da internet livre deveria tomar o mundo. Esse era e ainda é o plano. Wilder vê à frente o mundo inteiro interligado por uma rede privada (VPN) criada graças à presença de FreedomTowers e Boxes espalhadas em domicílios do mundo todo.

“Em cinco anos, a maioria das metrópoles do mundo terão porções significativas de sua população conectada a uma rede comunitária”, prevê. “Chegamos a um ponto de inflexão tecnológica, e este momento está finalmente chegando ao público geral.”

Wilder acredita que sua ideia tem bastante chance de ser difundida, principalmente por causa do baixo custo da estrutura (US$ 1.240 a antena e US$ 100 o box) e da redução posterior de gastos com internet, já que a rede “cidadã” tende a ser mais barata do que a conexão vendida pelas operadoras. “Usamos o que temos à disposição para criar coisas melhores para o futuro. O sistema atual proporciona as condições necessárias para a sua própria obsolescência. Não é um paradoxo que usemos os equipamentos dessas empresas de hoje – é uma estratégia.”

Segundo Wilder, há no mundo movimentos com o mesmo propósito. “De Atenas a Berlim, de Cabul a Nairóbi. Isto só tende a se expandir conforme as tecnologias melhoram”, acredita.

A FNF está hoje em Kansas, no Missouri, onde fará uma grande demonstração da sua rede e sobrevivendo de doações. A organização ganhou mais evidência quando Richard Stallman, fundador da Free Software Foundation, passou a fazer parte do Conselho. “Ele está empolgado em ver que uma nova geração de hackers pensando de maneira ética sobre a tecnologia.”
*Tecedora

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