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Ser de esquerda é não aceitar as injustiças, sejam elas quais forem, como um fato natural. É não calar diante da violação dos Direitos Humanos, em qualquer país e em qualquer momento. É questionar determinadas leis – porque a Justiça, muitas vezes, não anda de mãos dadas com o Direito; e entre um e outro, o homem de esquerda escolhe a justiça.
É ser guiado por uma permanente capacidade de se estarrecer e, com ela e por causa dela, não se acomodar, não se vender, não se deixar manipular ou seduzir pelo poder. É escolher o caminho mais justo, mesmo que seja cansativo demais, arriscado demais, distante demais. O homem de esquerda acredita que a vida pode e deve ser melhor e é isso, no fundo, que o move. Porque o homem de esquerda sabe que não é culpa do destino ou da vontade divina que um bilhão de pessoas, segundo dados da ONU, passe fome no mundo.
É caminhar junto aos marginalizados; é repartir aquilo que se tem e até mesmo aquilo que falta, sem sacrifício e sem estardalhaço. À direita, cabe a tarefa de dar o que sobra, em forma de esmola e de assistencialismo, com barulho e holofotes. Ser de esquerda é reconhecer no outro sua própria humanidade, principalmente quando o outro for completamente diferente. Os homens e mulheres de esquerda sabem que o destino de uma pessoa não deveria ser determinado por causa da raça, do gênero ou da religião.
Ser de esquerda é não se deixar seduzir pelo consumismo; é entender, como ensinou Milton Santos, que a felicidade está ancorada nos bens infinitos. É mergulhar, com alegria e inteireza, na luta por um mundo melhor e neste mergulho não se deixar contaminar pela arrogância, pelo rancor ou pela vaidade. É manter a coerência entre a palavra e a ação. É alimentar as dúvidas, para não cair no poço escuro das respostas fáceis, das certezas cômodas e caducas. Porém, o homem de esquerda não faz da dúvida o álibi para a indiferença. Ele nunca é indiferente. Ser de esquerda é saber que este “mundo melhor e possível” não se fará de punhos cerrados nem com gritos de guerra, mas será construído no dia-a-dia, nas pequenas e grandes obras e que, muitas vezes, é preciso comprar batalhas longas e desgastantes. Ser de esquerda é, na batalha, não usar os métodos do inimigo.
Fernando Evangelista

terça-feira, maio 29, 2012

O silêncio de Cachoeira e seus comparsas: Garantia legal ou deboche nacional?


É preciso rever o conceito sobre "direito de ficar calado" para que o povo brasileiro não seja obrigado a assistir ladrões do erário público, cinicamente, fazendo pouco da nossa cara.




Romeu Prisco

São Paulo (SP) - Essa é a grande dúvida que resulta da presença de Carlos Cahoeira e de seus cupinchas na CPI, acompanhados do advogado Marcio Thomaz Bastos e equipe, para prestar declarações sobre participação em atos de corrupção no setor público, envolvendo políticos e empresas de projeção.
Seguindo orientação dos seus patronos, mantiveram-se calados, recusando-se a responder perguntas dos parlamentares, para não correrem o risco de "produzir prova contra si próprios", antes do processo legal.
Embora não exista impedimento estatutário, é de se estranhar a defesa do bicheiro por um ex-Ministro da Justiça, do primeiro mandato do Governo Lula, fato que o meu Colega de Redação, Mair Pena Neto, já abordou, no artigo "Os complexos meandros do direito", com sua costumeira categoria. Porém, aqui, permito-me ir além do aspecto meramente profissional dessa defesa, porque o mais estranho consiste em se tratar de antigo colaborador de um Governo dito inovador, que se propunha a eliminar a praga da corrupção, como a encabeçada por Carlos Cachoeira.

Sabidamente, o advogado Marcio Thomaz Bastos tem livre trânsito nos três Poderes. Sabidamente, o cidadão Marcio Thomaz Bastos é ligado à esquerda, mais precisamente, ao PT. Sabidamente, os atos de corrupção patrocinados por Carlos Cachoeira não se relacionam apenas com políticos da direita, como o Senador Demóstenes Torres (DEM) e o Governador Marconi Perilo (PSDB), mas, também com políticos da esquerda e aliados da Presidência da República, como os Governadores Agnelo Queiroz (PT) e Sergio Cabral (PMDB). Sabidamente, o mesmo relacionamento de Carlos Cahoeira ainda alcança outros nomes, até agora desconhecidos, de todas colorações políticas.
Então, é aí que entra mais o político do que o advogado Marcio Thomaz Bastos, embora exercendo as duas funções. Impõe-se impedir que a CPI atinja proporções indesejadas, algo que esta de Carlos Cachoeira parece ter de sobra. Deve ser de porte inimaginável. Assim, nada melhor que Marcio Thomaz Bastos para defender a direita em benefício da esquerda. Por isso, parodiando Mair Pena Neto, é possível afirmar, tranqüilamente, quão "obscuros são os meandros da política".
É preciso rever, com urgência, o conceito sobre "direito de ficar calado", assegurado ao preso comum, previsto no artigo 5º., inciso LXIII, da Constituição Federal, para aplicação diferenciada nos processos de apuração de atos de corrupção, através de Comissões Parlamentares de Inquérito. Ainda que os envolvidos estejam presos, como Carlos Cahoeira e seus cúmplices, esse direito não pode ser o mesmo, tal como assegurado aos marginais, autores de delitos tipo roubo a mão armada, assaltos a bancos, latrocínios, seqüestros e estupros. Certamente, o legislador constitucional não estava pensando nos corruptores da coisa pública, antes chamados de criminosos de colarinho branco.
Uma vez revisto o conceito daquele direito, sob pena de rigorosa sanção a quem dele pretender fazer uso perante CPIs, quem sabe ponha-se fim ao deboche nacional, que o povo brasileiro é obrigado a assistir pelas emissoras de televisão, com cínicos ladrões do erário, sorriso de canto de boca, fazendo pouco da nossa cara.

No Direto da Redação
*MariadaPenhaNeles

*(O advogado conseguirá provar que recebe dinheiro honesto?)

Machista: Prefeito  de Barra dos Bugres aperta o pescoço da repórter
 


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