É preciso rever o conceito sobre "direito de ficar calado" para que o povo brasileiro não seja obrigado a assistir ladrões do erário público, cinicamente, fazendo pouco da nossa cara.
Romeu Prisco
São
Paulo (SP) - Essa é a grande dúvida que resulta da
presença de Carlos Cahoeira e de seus cupinchas na CPI, acompanhados do
advogado Marcio Thomaz Bastos e equipe, para prestar declarações sobre
participação em atos de corrupção no setor público, envolvendo políticos e
empresas de projeção.
Seguindo orientação
dos seus patronos, mantiveram-se calados, recusando-se a responder perguntas
dos parlamentares, para não correrem o risco de "produzir prova contra si
próprios", antes do processo legal.
Embora
não exista impedimento estatutário, é de se estranhar a defesa do bicheiro por
um ex-Ministro da Justiça, do primeiro mandato do Governo Lula, fato que o meu
Colega de Redação, Mair Pena Neto, já abordou, no artigo "Os complexos meandros do direito",
com sua costumeira categoria. Porém, aqui, permito-me ir além do aspecto
meramente profissional dessa defesa, porque o mais estranho consiste em se
tratar de antigo colaborador de um Governo dito inovador, que se propunha a
eliminar a praga da corrupção, como a encabeçada por Carlos Cachoeira.
Sabidamente, o
advogado Marcio Thomaz Bastos tem livre trânsito nos três Poderes. Sabidamente,
o cidadão Marcio Thomaz Bastos é ligado à esquerda, mais precisamente, ao PT.
Sabidamente, os atos de corrupção patrocinados por Carlos Cachoeira não se
relacionam apenas com políticos da direita, como o Senador Demóstenes Torres
(DEM) e o Governador Marconi Perilo (PSDB), mas, também com políticos da
esquerda e aliados da Presidência da República, como os Governadores Agnelo
Queiroz (PT) e Sergio Cabral (PMDB). Sabidamente, o mesmo relacionamento de
Carlos Cahoeira ainda alcança outros nomes, até agora desconhecidos, de todas
colorações políticas.
Então, é aí que entra
mais o político do que o advogado Marcio Thomaz Bastos, embora exercendo as
duas funções. Impõe-se impedir que a CPI atinja proporções indesejadas, algo
que esta de Carlos Cachoeira parece ter de sobra. Deve ser de porte
inimaginável. Assim, nada melhor que Marcio Thomaz Bastos para defender a
direita em benefício da esquerda. Por isso, parodiando Mair Pena Neto, é
possível afirmar, tranqüilamente, quão "obscuros são os meandros da
política".
É preciso rever, com
urgência, o conceito sobre "direito de ficar calado", assegurado ao
preso comum, previsto no artigo 5º., inciso LXIII, da Constituição Federal,
para aplicação diferenciada nos processos de apuração de atos de corrupção,
através de Comissões Parlamentares de Inquérito. Ainda que os envolvidos
estejam presos, como Carlos Cahoeira e seus cúmplices, esse direito não pode
ser o mesmo, tal como assegurado aos marginais, autores de delitos tipo roubo a
mão armada, assaltos a bancos, latrocínios, seqüestros e estupros. Certamente,
o legislador constitucional não estava pensando nos corruptores da coisa
pública, antes chamados de criminosos de colarinho branco.
Uma vez revisto o
conceito daquele direito, sob pena de rigorosa sanção a quem dele pretender
fazer uso perante CPIs, quem sabe ponha-se fim ao deboche nacional, que o povo
brasileiro é obrigado a assistir pelas emissoras de televisão, com cínicos
ladrões do erário, sorriso de canto de boca, fazendo pouco da nossa cara.
No Direto da Redação
*MariadaPenhaNeles
*(O advogado conseguirá provar que recebe dinheiro honesto?)
Machista: Prefeito de Barra dos Bugres aperta o pescoço da repórter
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