PROFESSORES, ESTUDANTES E FUNCIONÁRIOS QUEREM COMISSÃO DA VERDADE NA USP, ONDE RESQUÍCIOS AUTORITÁRIOS DA DITADURA PERMANECEM
Para
Shecaira, um dos professores que participa do movimento, “este é um
momento de retrocesso no seio de órgãos de poder da universidade”
Por ser uma das universidades onde os trabalhadores e estudantes
foram amplamente perseguidos durante a Ditadura Militar no Brasil e por
ainda guardar resquícios desse período, haja vista a forma autoritária e
na maioria das vezes conservadora com que a USP tem tratado as questões sociais dentro do seu campus, funcionários, professores e estudantes pedem uma Comissão da Verdade na universidade
para investigar e trazer à tona todos os crimes cometidos durante o
governo repressivo e autoritário dos militares no espaço da Universidade
de São Paulo.
Um abaixo-assinado foi lançado na última semana pedindo a instalação
da Comissão da Verdade na universidade. A ação, encabeçada por
juristas, que culminou no Fórum Aberto pela Democratização da USP,
pretende “somar assinaturas até o mês de agosto, eleger possíveis
membros nas bases de cada um dos setores da comunidade uspiana e
protocolar oficialmente o pedido de instalação de sua Comissão da
Verdade no conselho universitário”, diz notícia publicada pela Carta Maior.
A discussão na USP evidencia como a Comissão da Verdade em nível
nacional está influenciando a formação de comissões estaduais,
municipais e inclusive no espaço da universidade o que soa como positivo
quando se pensa que a periferia vem para reforçar o movimento central
em uma relação onde ambos se alimentam e se fortaleçem.
Além disso, investigar e trazer à tona os crimes da ditadura
cometidos na USP, faz total sentido já que a primeira ação de todo e
qualquer regime autoritário e regressivo, no sentido negativo da
palavra, é calar o conhecimento, tornar muda a consciência crítica, por
isso a USP foi tão perseguida naqueles anos e o fato de ela ainda se
mostrar autoritária talvez seja justamente um sinal de que a liberdade e
o conhecimento para alguns ainda continua sendo nem um pouco
interessante.
Veja trecho da notícia sobre o assunto:
Professores, estudantes e funcionários pedem Comissão da Verdade na USP
Fórum Aberto pela Democratização lembra que
USP foi uma das universidades em que trabalhadores e estudantes foram
mais perseguidos na ditadura, e que, por guardar resquícios daquele
período, é uma das universidades que têm demonstrado enorme truculência.
“Professores, estudantes e funcionários da USP devem abrir o passado e
verificar tudo aquilo que ocorreu durante o regime empresarial-militar”,
defendeu Fábio Konder Comparato.
Por Fábio Nassif
São Paulo – O Pátio das Arcadas da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo foi palco do ato de lançamento de um
abaixo-assinado para instalação da Comissão da Verdade na universidade. A
atividade encabeçada por juristas nesta quinta-feira (25) lembrou que a
USP foi uma das universidades em que os trabalhadores e estudantes
foram mais perseguidos durante a ditadura, e que, por guardar resquícios
regimentais daquele período, é uma das universidades que têm
demonstrado enorme truculência diante dos movimentos lá organizados.
A ideia do Fórum Aberto pela Democratização da USP, que reúne
representações dos três setores, organizações políticas e entidades de
direitos humanos, é somar assinaturas até o mês de agosto, eleger
possíveis membros nas bases de cada um dos setores da comunidade uspiana
e protocolar oficialmente o pedido de instalação de sua Comissão da
Verdade no conselho universitário.
Formado na USP, Fábio Konder Comparato disse que a Comissão da
Verdade nacional deve ser ajudada por comissões estaduais, municipais ou
setoriais, como é o caso da universidade. Em sua opinião, a comissão da
USP deve trabalhar com total independência. “Os professores, estudantes
e funcionários da USP devem abrir o passado e verificar tudo aquilo que
ocorreu durante o regime empresarial-militar”, disse o professor.
“É preciso que nós saibamos enfrentar esta verdade difícil que é a
verdade do desrespeito sistemático à dignidade da pessoa humana”,
afirmou Comparato, que também criticou a repressão na USP dos dias
atuais. “O regime disciplinar da universidade que continua em vigor foi
estabelecido em 1972. Para os jovens isso pode não significar nada. Para
nós que vivemos aquele período, significa o período mais sangrento do
regime empresarial-militar. Era o Governo do general Médici”, disse,
reforçando o papel da memória para não repetição do passado.
O professor de direito penal, Sérgio Salomão Shecaira, afirmou que “a
Comissão da Verdade propiciará, no âmbito da USP, sabermos quem é que
foi cassado pelo AI-5 e por que o decreto 477 permitia afastamento de
estudantes”. “Esse decreto tem ainda um entulho autoritário que é uma
cópia – me perdoem – cuspida e escarrada do 477, que é de 72, e que
permite os detentores da USP processarem alunos da nossa universidade”,
disse. Atualmente, 51 estudantes estão sofrendo processos
administrativos e podem ser “eliminados”, de acordo com o regimento da
USP.
O atual reitor da universidade, João Grandino Rodas, foi diretor da
Faculdade de Direito antes de assumir o atual posto. Shecaira acredita
que “este é um momento de retrocesso no seio de órgãos de poder da
universidade”, e repetiu aos jovens presentes na plateia que “para nós, o
Magnífico reitor será sempre persona non grata”. (Texto completo)
*EsucaçãoPolítica
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