Nada mais que a obrigação
O surto de corintianismo alucinou a crônica
esportiva. Embalados pelo que julgam ser a redenção do decadente futebol
brasileiro, os analistas parecem acreditar que o título da Libertadores se
deveu apenas à competência dos profissionais envolvidos e a uma espécie de
grandiosidade transcendental que emanaria do alvinegro paulistano.
Clube mais favorecido do país, talvez até do
continente, o Corinthians realizou aquilo que se esperava de uma agremiação
contemplada por tamanhos privilégios econômicos, políticos e publicitários. Estranho
seria desperdiçá-los num resultado pífio, prolongando o hábito meio vexatório
dos últimos anos.
É quase inevitável amealhar conquistas e o apreço
popular quando se recebe fortunas estratosféricas da rede Globo e de seus
patrocinadores, com os equivalentes bombardeios midiáticos e as apologias do
jornalismo de “favoritos”. Mesmo quando o time carece de brilho individual (e
recebe eufemismos do tipo “aguerrido”, “compacto”, “regular”), os altíssimos
salários, a infra-estrutura disponível e a visibilidade colocam-no em evidente
vantagem sobre os concorrentes.
O lado sombrio da festa, que os nobres
comentaristas não ousam mencionar, reside na pauperização dos clubes interioranos e na conseqüente mediocrização das disputas nacionais. O triunfo
corintiano nasceu na sistemática drenagem dos capitais financeiros, humanos e
simbólicos produzidos por dezenas de clubes maltrapilhos. Nasceu, portanto, na
injustiça, no oportunismo e na ganância que aos poucos destroem a riqueza do
nosso futebol.
*GuilhermeScalzlli
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