A saída do Paraguai do Mercosul e seu isolamento
O atual governo paraguaio passará por um isolamento político, após ser
suspenso das reuniões do Mercado Comum do Sul (Mercosul), ao menos até
as próximas eleições presidenciais, em abril de 2013. O mandato de nove
meses, a ser cumprido por Federico Franco, e o processo que conduzirá o
país às próximas eleições, será monitorado pelo Mercosul, que de acordo
com o cenário político internacional, poderá prolongar o prazo de
suspensão. Com o Paraguai temporariamente carta fora do jogo, a crise
interna do país foi a oportunidade vista pelo Mercosul para crescer com a
inclusão da Venezuela.
“Venezuela é o quarto exportador de petróleo, e tem poder de voto nas
Nações Unidas. Distribui petróleo a muitos países e tem negócios fortes.
O Paraguai leva o voto de Taiwan. O que posso lhe dizer?”.
As projeções frente ao atual cenário de conflito político internacional
vivido pelo Paraguai foram desenhadas por Milda Rivarola, historiadora e
socióloga. Paraguaia, exilada política na Espanha e na França, por dez
anos, durante a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Ela afirmou
não ser “luguista” e contou ter rejeitado o cargo de ministra de
Relações Exteriores, ao ver a impossibilidade de trabalhar com os
políticos disponíveis no Congresso.
“Suspender e observar. Em linguagem médica se chama quarentena. Alguém
que tem um vírus perigoso é afastado dos demais, observado e depois são
tomadas as medidas, se é que essa enfermidade é realmente contagiosa”,
concluiu, irônica, Milda Rivarola.
Segundo a socióloga, a classe política paraguaia irá entender as
desvantagens em não participar do Mercosul, quando for tomada alguma
medida econômica, como a elevação dos impostos aos empresários que
comercializam com os países do bloco.
Pois, de acordo com Rivarola, apenas com aplicações econômicas os
empresários agroexportadores que apoiaram e fomentaram o golpe contra o
ex-presidente Fernando Lugo, entenderão o que significa a suspensão do
Mercosul e, assim, poderiam deixar de apoiar o atual governo de Federico
Franco.
“Quando os produtores de soja, os pecuaristas e industriais perceberem o
que lhes custou o golpe, aí podem deixar de apoiar o governo. Eles
acreditaram que o golpe sairia grátis. É preciso mostrar o que custa ser
suspenso do Mercosul. Que sintam no bolso, pois é o único lugar onde
entendem”, afirmou Rivarola.
Ao tratar a classe política paraguaia de predadores do Estado, Rivarola
ressaltou que o parlamento atuou sem pensar nas consequências políticas,
pois não sabem administrar e não têm conhecimento sobre relações
exteriores.
“Não pensaram nas consequências. Provocaram um conflito externo que não
sabem dirigir. Não administram a posição e situação que o Paraguai tem
no mundo”, disse Rivarola, que lembrou o fato de que o início da guerra
da Tríplice Aliança (1864-1870) foi celebrado no Paraguai, e ela
acredita que agora o cenário se repete.
“Estão fazendo o mesmo convertendo um conflito externo no Mercosul, que
não podem administrar, em propaganda política interna. Retornaram da
reunião da OEA dizendo que foi um êxito, quando foram desmerecidos. E
falam como se não existisse internet”, afirmou Rivarola. Durante a
reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA), não foi decidido o
envio de uma delegação ao país, o que fez o secretário-geral, José
Miguel Insulza, disponibilizar-se para verificar a situação
político-social.
Suspenso até...
A possibilidade de seguir suspenso das reuniões do Mercosul, após abril
de 2013 – mesmo ao cumprir com as eleições presidenciais livres e
democráticas – não deixa de ser considerada pela possível continuidade
dos desacordos entre as políticas externas e internas implementadas pelo
Paraguai e os demais países do bloco.
Para Milda Rivarola, o país não traz benefícios ao Mercosul, pois impõe
vetos aos projetos de crescimento do bloco, como era a impossibilidade
de acordos comerciais com a China, devido as relações do Paraguai com
Taiwan, e além de sempre haver sido o único país contrário ao ingresso
da Venezuela.
“Isso era o Paraguai no Mercosul, um país pequeno que não oferecia
nenhuma vantagem comparativa e impunha veto a todos os projetos de
desenvolvimento do bloco para construção de um conjunto competitivo
frente à União Europeia e outras uniões mundiais”, disse Rivarola.
Mais um fator que poderia somar como justificativa para o prosseguimento
da suspensão do Paraguai, no Mercosul, é quem será o presidente eleito
no próximo ano. Questionada sobre a possível vitória de um dos três
empresários mais ricos, Horacio Cartes, candidato pelo Partido Colorado,
que deixou de governar o país, por primeira vez na história, após a
vitória de Fernando Lugo.
“Difícil pensar que sentarão para dialogar com Horacio Cartes”, afirmou
Rivarola. Horacio Cartes esteve preso por evasão de divisas, na época da
ditadura militar, hoje, é dono de várias empresas, inclusive da marca
de refrigerante mais popular do Paraguai (Pulp) e conhecido como dono do
“Club Libertad”, o qual atualmente preside.
Maíra Vasconcelos, de MontevidéuNo Advivo
*comtextolivre
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